INQ1 Estava a pensar que…
INF1 Estava a perguntar se estavas no tear, que te ia lá visitar. Mas não sei se estavas, se não estavas.
INQ1 Não está? Não, pois não?
INF2 Estou. Estou na casa.
INQ1 No tear?
INF2 Sim.
INQ1 Ai, está a fazer a s-…
INF2 Bem, quer dizer, é uma, uma uma garota que que aqui vem aqui de vez em quando, [pausa] que é mouca.
INF1 E ela está ao pé dela a ajudar qualquer coisa.
INF2 E [vocalização] E eu estou aqui a [vocalização] ensiná-la.
INF1
INQ1 Sim senhora. Então deixe-se lá estar. Eu ia lá só ter consigo, pensava que estava lá sozinha.
INF2 Não, não.
INQ1 Ia lá ter consigo, porque eles estavam aqui já fartos … muito entretidos um com o outro…
INF1 É, é É uma garota… É uma deficiente que é é cem por cento mouca.
INF2 A gente pode ir. A garota é É uma garota que é de família.
INQ1 Pois, pois, pois.
INF2 É deficiente.
INF1 E depois, coitada, elas não não tem [nome]… Vem para aqui assim, aprende umas coisicas…
INF2 E vem aqui, às vezes, ter com a gente, para a gente deixá-la…
INQ1 Pois, pois, pois.
INF1 Depois a gente deixa-a deixa-a estar aí.
INQ1 Isso é bom. Até é bom.
INF1 Exactamente.
INQ2 Até é bom para ela.
INF2 A gente deixa-a lá dentro [pausa] uns bocadinhos.
INF1 Ai, e a gente a gente paga-lhe. O trabalho que ela faz, a gente paga-lhe, não é? Não queremos que ela seja prejudicada.
INQ1 Pois, pois.
INQ2 Não, acho que sim.
INF2 O que é não se inteira ainda bem, mas a gente às vezes…
INQ2 Pois, coitada.
INF2 Nem vem sempre. Vem assim quando… Agora está a chover, ela vem para aqui, não vai para outro lado.
INQ2 Claro.
INF2 Vem aqui ter com a gente, se a gente deixar ficar.
INQ2 Claro.
INF2 A gente deixa.
INQ2 Claro.
INF1 E é assim.
INQ1 Claro.
INF2 Tenho pena dela.
INF1 E é muito inteligente. Ela trabalha…
INF2 Ela é inteligente.
INF1 Ela até trabalha muito bem nestas coisitas assim.
INF2 O que é deu-lhe uma…
INQ1 Até tem queda para isso, é?
INF1 E não ouve nada!
INF2 Deu-lhe uma meningite e apanhou-lhe os ouvidos e a fala.
INF1 Quer dizer, foi foi mal curada e depois ficou cem por cento mouca. Já lhe compraram o aparelho mas não resultou, porque como ela é cem por cento mouca… Se tivesse um uma pequena percentagem de ouvir, aquilo podia resultar…
INQ1 Claro, um bocadinho.
INQ2 Pois, pois, pois.
INF1 Mas não dá. Não dá.
INQ2 Coitada.
INF1 Só é só Ela compreende o que a gente diz estando a olhar para a gente. E compreende tudo.
INQ1 Sabe ler na… Sabe ler na, na boca.
INF2 E eu agora [pausa] tenho estado ali ao pé dela.
INF1 Pois, vá lá, exactamente. Mas ela escreve bem. Escreve bem.
INQ2 Sim senhor.
INF1 Ela até tem uma caligrafia bonita. Porque ela quando lhe deu a meningite andava na na terceira ou coisa assim.
INF2 Andava na escola, pois.
INF1 Pois, na terceira classe, claro, e até até escreve muito bem e assina muito bem.
INQ1 Ah, pois! Portanto, aprendeu a escrever e tudo.
INF1 Foi pena ela ter aquilo mas.
INF2
INF1 Não tem futuro; não há ninguém que lhe dê emprego nenhum, não sendo isto aqui assim que aí a entretém…
INQ2 Não, e até pode ser uma safa para ela mais tarde.
INF1 Pois. Exactamente.
INF2 Pois, temos pena dela e a gente um dia pode-lhe dar [pausa] trabalho, pronto.
INQ1 Pois, pois, pois.
INF1 Até lhe di- Até diz que lhe davam um tear para lá para ela trabalhar. Mas é assim…
INF2 Mas não lho deram. Eu já lhe disse a eles para eles lho darem.
INF1 Os pais não ligam muito a isso. Eles têm… Os pais têm bastante, não é?
INF2 Olhe, esta fazenda grande que aqui está na nossa frente é deles, dos pais. Mas têm mais filhos. Os filhos [vocalização] As duas filhas estão casadas e têm outra deficiente. Ele tem duas…
INF1 Essa já não é por ser mouca. É é assim é assim, atra– atrasada mental, essa, pois.
INF2 E tem uma irmã da mãe delas, que é tia delas, que também é.
INQ1 Ah!
INF2 A gente tem pena disto tudo!
INQ1 Claro, claro.
INF2 A mãe dela
INF1 Mas isto também esta esta era muito esperta, mas teve a doença, pronto.
INF2 A mãe está muito sacrificada com três mulheres em casa.
INQ1 Claro.
INQ2 Claro.
INF2 E pede à gente para a deixar andar.
INQ1 Claro, claro.
INQ2 Não, e é bom para ela.
INF1 É. É também bom, pois.
INF2 A gente tem pena dela e deixa-a estar.
INQ1 Pois.
INQ2 Ainda bem. Há sempre… Há boa gente!
INF1 Só que ela ela não, não tem não tem possibilidades de continuar muito nisto, porque não não é mulher que possa ir comprar os materiais, como eu ia, à fábrica, comprar o material para aqui. Só Só a gente aqui, eu trago para aqui o materialzito para ela, para a entreter, não é? E pronto, e o que ela fizer, recebe o dinheiro para ela.
INF2
INQ2 Claro. Claro, é diferente…
INQ1 Pois, pois, pois.
INF2 Eu tenho pena dela e tenho pena da mãe!
INQ2 Não, e até de…
INF1 Pois.
INQ1 Pois, pois.
INF2 A mãe chora muita vez!
INQ2 Então mas se ela depois, se realmente gostar da, da profissão, isso até é uma boa maneira de fazer…
INF2
INQ2
INF1 Não, quer dizer, nã– ela não tem grande futuro nisso porque não… À uma, ela esconde-se muito das pessoas – em estando nervosa, esconde-se muito das pessoas. E, por outra, não é mulher que vá agora, por exemplo, ser capaz de ir comprar o material e atender um cliente, porque não f-, como nã-… Fala só… Nós compreendemos, mas tem uma pronúncia assim muito disfarçada, um, a [vocalização] a palavra assim muito disfarçada, porque, pronto, como não ouve… É quase como uma muda.
INQ1 Pois, pois, pois.
INF1
INQ2 Claro.
INF1 E depois não tem possibilidade nenhuma, não tendo alguém que lhe compre o, pronto, que é que lhe abra o caminho, não é?
INF2
INQ2 Claro. Pois…
INF1 Ela só tem as possibilidades de ter aqui este trabalho enquanto a gente estiver aqui com isto assim.
INQ2 Claro.
INF2
INQ2
INF1 Dei baixa da indústria aqui há tempo e disse: "Ó rapariga, olha, vem para aí. Faz aí alguma coisa"! Pronto, aí está. A mãe diz: "Ah, deixem-na para lá ir que ela em minha casa está sempre aborrecida, sempre aborrecida nã-"… "Então ela que venha para aí trabalhar"!