INF1 Esse…
INQ1 Eu já tinha ouvido falar era de chá de caganitas de rato.
INF1 Também tomei.
INQ1 Também?
INF1 Também tomei.
INQ1 Isso é que eu já tinha ouvido falar.
INF1 Também tomei.
INF2 E o meu pai já comeu já comeu [vocalização] a carne da cobra.
INQ1 Também?
INF2 Sopa.
INF1 Comi.
INQ1 Para quê?
INF1 Para nada.[vocalização] Para
INQ1 Para provar?
INF1 Pois.
INF2 Diz que é boa!
INF1 Para provar.
INF2 Diz que é boa a carne da cobra!
INF3 Tiram-lhe uma parte uma parte do, do entra- a seguir ao pescoço [pausa] e a parte do rabo e comem só a parte do meio.
INF1 Eu ia buscar…
INQ1 Ah!
INF1 Eu ia buscar um molho de mato para o forno…
INF3 Não, mesmo até, lá de baixo, estiveram algarvios ao pé de mim – não é? –, em Santa Margarida, e comiam-nas.
INF1 Eu ia buscar um molho de mato para o forno…
INF3 Havia Havia indivíduos que as comiam. Iam lá, tiravam-lhe as as partes da frente e comiam as partes de trás.
INF2 Deixa lá agora Deixa lá agora contar ao pai.
INF1 E depois…
INQ1 Diga lá, o que é que ia fazer?
INF1 Fui buscar um molho de mato para o forno para trazer às costas. [pausa] E já eram aí umas onze… Foi em Maio. Já eram aí umas onze horas e estava calor.
INQ1 Onze horas da manhã?
INF1 Sim. Perto do meio-dia. Eram aí onze horas. Estava muito calor. Foi em Maio, já estava calor. [pausa] E fui além para aquele lado. [pausa] Talvez daqui para lá, aí meia hora de caminho. [pausa] E naquele sítio, foi onde o Dordio tinha as cabras, aí por cima um bocadinho.
INF3 Ainda lá estão.
INF1 E digo eu assim cá para comigo: "Bem, aqui há muita cobra e há muito sardão"! Havia lá cada sardão! [pausa] Cada javardão! Aquilo até metiam nojo! Muito grandes, com aquelas patas grandes!… Naquele sítio havia muita bicharada e muita cobra, [pausa] que vinha lá do pinhal de cima. E eu ia no caminho, um caminho ainda largo. E digo eu assim: "Bem, aqui já está calor". Porque aquilo, aquela bicharada com o calor saem. [pausa] Aquela bicharada com o calor é que saem mais. E digo eu assim: "Homem, aqui há muita bicharada, há muito sardão [pausa] e cobras"… [pausa] E eu levava a roçadoira como o senhor aí tem, ao ombro, atada à corda. [pausa] Levava aqui ao ombro e abaixei-me e apanhei uma pedra, mais ou menos da grossura deste copo. "Deixa-me cá apanhar uma pedra. Se vir alguma coisa, sempre lhe avento". [pausa] Eu sou muito foito, mas ali apanhei um bocadinho susto. Eu a acabar de dizer aquilo e eu ia a passar à frente duma parede com dois metros de alto, ou metro e meio. Havia uma paredezita num pinhal onde faziam esses tais alqueves. [pausa] E havia uma parede [pausa] ao lado do caminho, que essa parede fizeram-na para o para fazer o caminho, que ia o caminho para a para as centrais, que era o caminho velho antigo. [pausa] "Aqui há muita bicharada, deixa-me cá apanhar esta pedra; se aparecer alguma coisa [pausa] hei-de-lhe aventar com ela". Eu a acabar de dizer aquilo, uma cobra. Aquilo lá vinha picada com outro bicho… [pausa] Que as gajas quando estão enervadas fazem uma rodilha, enroladas. Aquilo lá vinha [vocalização] picada com outro bicho de andarem à bulha… Eu a acabar de dizer aquilo, e aquela grande cobra ia-se-me enfiando na cabeça. Eu disse: "Ena pá"! [pausa] Por pouco é que não se me enfiou aqui na cabeça.
INQ1 Pois.
INF1 Caiu da parede para baixo, no chão. E onde ela caiu era um bocadinho do caminho largo e assente, assim um bocadinho direito, um bocado de areia, e tal. A gaja caiu assim ali. Eu sou um bocadinho foito mas arreceei. Arrecuei um bocadinho atrás. Mas ao mesmo tempo que eu arrecuei um bocadinho, e a gaja ficou assim à minha frente enrodilhada e começou-se a desenrodilhar para ir para a parte de baixo do caminho, para o meio das pedras. Quando a gaja se começou a desenrodilhar, eu assim à toa, com a pedra que levava na mão – assim à toa! – aventei-lhe com ela. Então eu não lhe calhei a dar atrás da cabeça, aí dois palmos?! Parti-lhe logo a espinha. [pausa] Aventei à toa!
INQ1 Pois.
INQ2 E acertou.
INF1 Calhei-lhe logo a dar atrás da cabeça aí dois palmos. Ah, mas aquilo era um balúrdio! [pausa] Quando lhe dei com a pedra, aquilo parti-lhe a espinha, a gaja dali não abalou. Tombo daqui, tombo dalém, tombo daqui, tombo dalém, e já dali não abalou. E a gaja a acenar para mim: "Vhe-vhe-vhe". Eu cheguei-me atrás mas já não abalou donde estava, aos tombos, mas já não abalou donde estava.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 E depois peguei noutra pedra maior…
INF2 E ela era grossa!
INF1 Ai! Peguei noutra pedra maior [pausa] e aproximei-me um bocadinho, tornei-lhe a avantar a aventar, tornei-lhe a dar na cabeça, já a amuganhei mais. Já afrouxou mais. Mas mesmo assim: "Vhe-vhe-vhe"! Foi assim cá de longe.
INF2 Ai, se lhe pudesse chegar!
INF1 Até que a gaja afrouxou. Depois de já estar assim um bocado frouxa, vou então com o bico da roçadoura, como aí têm no livro, vou então com o bico da roçadoura e dei-lhe assim na cabeça, acabei-lha de esmagar. [pausa] Tombo daqui – mesmo com a cabeça esmagada –, tombo daqui, tombo dalém, [vocalização] mas dali já não abalou. Ah, mas aquilo era um balúrdio enorme! [pausa] Vê que a corda tem uma casola. Nunca viu? Não sabe como é?
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Tem uma casola para a gente apertar o molho.
INQ1 Pois.
INF1 Uma coisa em madeira, que faz a curva.
INQ1 Em madeira.
INF1 A minha casola tinha… Para a fazer, tinha um arame destes arames da luz,
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 um bocado de fio de da luz que eu pus na casola para para não fugir dali. Como tinha ali umas três ou quatro voltas de arame, [pausa] não tinha ali nada que [vocalização] com que enfiar na cabeça à cobra, tirei um bocadinho do arame da casola da corda, tirei-lhe ali duas voltas ou três, e fiz um gancho. Fiz um gancho e enfiei-o na cabeça da cobra e dependurei-a num pinheiro. [pausa] E fui arranjar o molho e depois quando passei para baixo trouxe-a, que era para a verem aqui no povo. [pausa] Ela era tão pequena [pausa] que eu trazia assim o molho às costas e ao gancho, enfiei-o assim aqui no molho do mato, num pau, enfiei-o aqui, [pausa] e a gaja vinha estendida lá para trás. Ela tinha mais de dois metros!
INQ1 Pois.
INF2 Era.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 E uma grossura enorme! [pausa] E depois passei aqui no povo: "Olha o Dimas! Olha que cobra ali leva"! "Olha assim, olha assado"! Tudo a admirar, [vocalização] lá a trouxe. [pausa] Uma madrinha minha que morava na casa que hoje é da Dília, além naquela casa – mas era a casa mais baixinha – , essa madrinha minha comia-as. [pausa] Quando lhe davam alguma, cortava-lhe um bocado, dois palmos da cabeça [pausa] e dois palmos do rabo. E a outra parte, depois tirava-lhe a pele, depois cortava-a aos bocados e cozia-a. É exactamente o cheiro de [vocalização] do frango. É exactamente o cheiro do frango e o sabor.
INF2 Eu não era capaz de comer! [pausa] Este comeu.
INQ2 Rhum-rhum. Pois.
INF1 Tirou-lhe então a pele toda…
INQ1 A mim não me faz muita impressão!
INF1 Desenfiou-lhe aquele bocado da…
INF4 A senhora também comia?
INQ1 Acho que era capaz de comer. Não me fazia muita impressão.
INF2 Mas sabendo não comia.
INF1 O cheiro é exactamente…
INQ1 Mesmo se soubesse também acho que era capaz de provar.
INF1 O cheiro é exactamente igual. Eu não foi por fome, nem foi por nada. [pausa] Vi-a…
INQ1 Foi para provar!
INF1 Vi-a comer a ela: "Também quero experimentar"! É exactamente o frango, a água do frango, a canja.
INQ1 Pois.
INF1 Comi uma malguinha de canja, bebi uma malguinha de canja, e depois comi um bocado da carne.
INQ1 E não lhe fez mal?
INF1 Ai, fez agora!