INF1 [vocalização] Ora veja, isto aqui por aí afora, estes lameiros aqui por aí afora, que era tudo cultivado! E agora não há aí nin-! Tu- Ora veja como está aí tudo!
INF2 Era tudo, tudo, tudo cultivado – aqui!
INQ Está tudo abandonado, não é?
INF1 É. E qualquer dia é só, olhe, carvalhos ou [vocalização] pinheiros ou giestas.
INF2 É, é. Vai ser uma segunda Angola, vai. Pessoal não há, os novos também já não estão para aturar coisas…
INF1 Então, pois não estão para estarem a aturar isto.
INF2 Anda, anda Anda a estudar muita malta, aqui, a estudar.
INF1 Oh! Então!
INF2 É tudo a estudar, tudo a estudar.
INF1 É estudar, é! Não Ele haviam de dar mas era uma enxada para irem para a serra cavar alqueves!
INF2 É, é.
INF1 Não era estudar Era para para se
INQ Pois.
INF1 estarem assentados! O trabalho que há-de fazer um, estão ali uma dúzia deles! se
INQ Rhã-rhã.
INF2 Quer passar por lá para ver?
INF1 Ele vamos embora! Ele que- Se lá queres quisesses ir ver [vocalização]…
INQ Não, não vou, não vou. Não é preciso ir ao moinho. Não, não, obrigado.
INF1 Não? Vamos embora, então. Vamos.
INF2
INQ Obrigado. Olhe, ó senhora Ascensão, diga-me o que eram… A senhora disse: "Haviam de andar por lá a cavar o alqueve". O que era o alqueve?
INF1 A fazer alqueves, a cavar estas terras todas.
INF2 Onde semeavam o centeio.
INQ Mas eram terras que esta-…
INF2
INF1 Ah [vocalização]! Isto é que haviam de vir para aí! ! [pausa] Era
INQ Pois. Era, era cava-… O alqueve era preparar a terra para semear o centeio, era?
INF1 Era Pois. Então pois não era?! [vocalização] A gente, ora veja, neste bocado aqui, que é uma comparação, se a gente ia aqui deitar pão, sem o cavarem, não [pausa] não [pausa]
INF2 Pois é.
INF1 não dava nada.
INQ Rhã-rhã.
INF2 Era preciso cavar a terra.
INF1 Olhe, o nosso governo não havia de cá vir!
INF2 E depois era E depois eram estrançados outra vez…
INF1 Quem cá viesse, olhe…
INF2 E depois é que eram semeados. Levavam três voltas, senhor.
INF1 Senhor, eu já lhe digo [pausa]
INQ Pois, mas o alqueve… Diga.
INF1 uma coisa. Se [pausa] eu Eu já não sou garota, mas [vocalização] o nosso governo havia de vir aqui a estas serras. Em primeiro era tudo habitado e agora está tudo aí desgraçado.
INF2 Está aí é tudo fechado. E cai tudo!
INF1 Viessem fazer alqueve para aí!
INQ Pois. Mas o alqueve era feito com a enxada ou era feito com o arado?
INF1 Com o arado. Mas era preciso também quem tocasse.
INF2 E muitos à enxada, muitos à enxada. [vocalização] A gente depois cavava lá acima aquela aqueles prados velhinhos – e aqui, de manhã – lá acima à enxada.
INQ Rhã-rhã.
INF1 Então!
INF2 Oh!
INF1 Ora veja, olhe!
INQ Mas, o alqueve e a decrua era a mesma coisa?
INF1 [vocalização] Olhe que terrinhas aqui e era tudo tão bom! Deitava aí para tanto feijão, batatas e tudo, e agora está aí tudo assim desgraçado.
INQ Pois. O alqueve e a decrua era a mesma coisa, senhor Aparício?
INF2 É sim. É sim. Depois, depois
INF1 Não. A primeiro pois
INF2 Primeiro, p-, p- o alqueve fazia isto que era como, depois era estravessar de Verão, estravessar.
INF1 Depois de semeá-lo.
INF2 A gente Depois semear outra vez.
INQ Sim senhor.
INF2 Aquilo levava três voltas ao todo.
INF1 E agora está aí tudo! Olhe, olhe por aí acima. Vem Vem o fogo, o que é que aqui fica?
INF2 Ah pois!
INF1 Só pedra. O mais o que é que cá ficam? [pausa] O nosso governo dá aí, dá dá trabalhos a quem? Ao menos que os nos mande para aqui, para fazer alqueve! [pausa] – para a serra! [vocalização] Então não era?!
INF2
INQ Acho que se ajudassem… Se há tanto desemprego podiam vir fazer alqueve para aí para ter grão, não é?
INF1 Então, não era?! Às vezes, estão ali [vocalização] às dúzias num num lugar só, [pausa] e o coisas que se podiam fazer aí dois ou três… E porque não estão lá só [vocalização] dois ou três e está lá uma dúzia deles?! A fazer o quê?!
INF2 Já têm reduzido muita malta. [pausa] Mas que arranjem
INF1 Ah! À sombra é só para não fazerem nada!
INF2
INF1 Oh! E a gente anda aqui a trabalhar, a tratar batatas para as vender quase dadas. [pausa] E
INQ É. Ó senhora Ascensão, eu queria-lhe perguntar só uma coisa do pão que me esqueci. A parte de baixo do pão, como é que chama?
INF1 O lar.
INQ E a parte de cima, de fora?
INF1 [vocalização] É o côdea, por cima.
INQ E por, e por dentro o que é que tem?
INF1 Por dentro, é o miolo.
INF2 É o miolo.
INQ E quando eu vou começar um pão, a primeira fatia que a senhora tira com a, com a faca, como é que chama?
INF2
INF1 [vocalização] A borda.
INF2
INQ Hã?
INF1 É a borda.
INQ E a costaneira é a mesma coisa?
INF1 Pois. É o mesmo. Tanto faz ser a borda como a costaneira. "Toma uma borda. Se não tens dentes, olha"…
INQ E a seguir…
INF1 É para se casar primeiro, diz que é quem comer a borda! [vocalização]
INF2 É, é.
INQ E a seguir, e qual era a outra que eu cortava, era uma?…
INF1 Depois e- Depois era a que lhe calhava.
INQ Não, mas a primeira é a borda. E a segunda? Já não é a borda?
INF1 Pois. Depois já era a fatiga.
INQ Diga?
INF2 Já é fatiga, já é fatiga.
INF1 Depois já era uma fatiga.
INQ Sim senhor. E…
INF1 Mas a borda, nós, às vezes, costumamos a dizer: "Toma para te casares mais depressa! Toma a borda"!
INF2 É, é.
INQ E se eu cortasse assim com a mão um bocado e lhe desse o que é que eu lhe estava a dar?
INF2 Era parti-lo a murro.
INF1 [vocalização] Então, era parti-lo a murro.
INQ Dava-lhe um quê? Não era um murro que eu lhe dava…
INF1 Era parti-lo a murro, mas não era a dar-lhe um murro à pessoa.
INQ Pois.
INF2 Já não era fatia, já era um bocado.
INQ Era um bocado?
INF1 Pois.
INQ Diga?
INF1 Era um bocado, pois. Era a parti-lo a murro.
INF2
INQ Sim senhor. E quando eu corto com a faca aquilo que cai para cima da m-, da, da mesa?
INF1 Miolo. É É miolitos.
INF2 Miolas. É as miolas.
INQ As miolas?
INF1 Pois, que é o miolo.
INQ O miolo ou miolas?
INF1 É miolitos. É. São miolitos que, às vezes, caem.
INQ E a senhora disse…
INF1 Ah! Então e não sabem isso o que é?!
INQ Pois. O forno aqui, to-, as to-, as pessoas todas tinham um forno ou havia um, um forno que pertencia a vários?
INF1 Não. Às vezes, uma pessoa tinha um forno e iam lá cozer meia dúzia delas, não era?
INQ Ah! E não pagavam nada a essa pessoa do forno? Ela emprestava?
INF1 Não. [pausa] Não. Então a gente [vocalização] emprestava-o.
INF2 Ne– Nesta povação havia dois, além. Havia dois que tiravam tiravam a poia.
INQ Ah! Era isso.
INF2 Havia dois na povoação que tiravam a poia.
INF1 Mas nós aqui não. A gente [vocalização] Até eu lá acima tinha um fornito. Se o senhor lá quisesse ir cozer: "Olhe, eu queria cozer amanhã". "Está bem. Coze aquando quiseres".
INQ Mas a poia, como é que era então, senhor Aparício?
INF2 Tiravam pão.
INQ Mas a… Quem, quem é que cozia? Era as pes-, as próprias pessoas ou havia uma pessoa?…
INF1 Não. Mas nessa altura que davam a poia, nem davam lenha quem ia cozer o pão, [pausa] nem nem aqueciam o forno.
INF2 Pois. Pois não.
INQ Rhã-rhã. Então como é que se chamava a pessoa que estava aí à frente do forno?
INF1 Forneira.
INQ Diga.
INF1 Forneira.
INQ E também… E a forneira é que tinha que dar a lenha?
INF2 É, é. A lenha, e é que cozia.
INF1 Era. Dava a lenha e tinha o trabalho.
INF2 A gente só lá ia levá-lo. INF1 A gente só lá ia levá-lo
e trazia-o cozido.