DI_93BF35b

Sem título

ID93
ParticipantF. Jacques
GenderFeminino

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é bonito este texto é ? é e eu não li foi o título Memória de Outra Banda pois é mas eu agora hhh / foi eu reparei que não tinha lido o título mas não faz mal na altura re não ti Memória da Outra Banda porque na altura não ? acontece muitas vezes muita gente que aborda o texto imediatamente sem eh eh ler o título memória da outra banda faço sempre quando é assim depois acabo por pedir às pessoas para lerem o título sim sim sim sim foi ? mas ah / espontaneamente e agora é eu tinha eu tinha reparado mas depois digo assim " bem agora vou continuar a ler e fez bem bem porque estava a mas ah não fazer uma leitura como devia ser de um texto e às tantas está a interromper hhh / e no no ainda bem que não disse / hhh / A Memória da Outra Banda " mas é muito bonito é ? é mas costuma levantar muitas dificuldades de leitura a muita gente mas é bonito o texto porque para nem toda a gente está habituada a ler alto / não é ? por outro lado ah muito vocabulário no texto que não é de uso corrente / que levanta dificuldades próprias tem levantado problemas de leitura devia ter escolhido um texto mais ah fácil de leitura ah quer dizer eu ah / gostei e estava a ler e estava-me a lembrar porque são coisas que têm a ver com a minha pois exatamente com a minha especialidade com a História bocadinho quando disse hhh o o moinho de maré do D. Nuno Álvares Pereira não é ? bocadinho quando estava a dizer que mais parecia uma aula de Geografia / e eu pensei asism para mim " agora parece uma aula de Geografia e História hhh / e História mas é bonito hm hm ah o texto não é meu foi retirado / embora com adaptações do daquela revista do Expresso / do José Quitério sim sim pronto é do género dele não é ? sim sim é é muito bonito é conhecia aquilo ? sim quer dizer e eh [ / ] eh / é interessante porque foi muito pouco tempo sobre precisamente o problema dos barcos e de recuperação no Seixal a Câmara do Seixal / e foram todos todos aqueles barcos que navegaram no Tejo é uma pena não serem a maior parte sim sim ainda muitos que se perderam as canoas as fragatas todos aqueles barcos seriam lindíssimos é uma pena de facto eu por acaso não sabia que a muleta também existia pensei que fosse em Aveiro na ria também existia eu fiquei a saber por e e também existia ali naquela hm hm é muito bonito então vamos ah / voltar a a o a outros assuntos sim a sua experiência de dar aulas / conte-me casos com o que é que acha disto / que tipo de aluno é que se tinha e se tem / hoje em dia tem que a disciplina / quer dizer é é como é que é ? sim eh quer dizer é muito complexo / é porque eu quer dizer foram foram / quer dizer sou professora em épocas muito diferentes muito diferentes claro e em cada época com aspetos negativos e os positivos não é ? e portanto eu vivi ah uma série de reformas ensino do do do do do sistema / e do ensino não é ? e quando comecei a dar aulas as escolas eramm muito poucas ah o ensino era muito seletivo / muito elitista / muito pouca gente hm hm ah estudava a maior parte não completava a instrução primária / sequer eu andei nos anos quarenta na escola primária não não terminava nem os quatro anos de escolaridade obrigatória na altura obrigatório entre aspas porque eu estava obrigatório na lei mas não era cumprido era como nós mas na prática não não não não não não não era cumprido ah / depois ah / continuar portanto fazer na altura a admissão ao Liceu / ou às escolas Comerciais / era de facto para alguns uma minoria era uma minoria e depois entre a escola ah / comercial e o Liceu havia diferenças portanto / ou se queríamos se queríamos seguir carreira liceal / ah o o entrar no Liceu / tínhamos que fazer a admissão ao Liceu / que não servia para entrar numa escola comercial nem uma admissão feita numa escola comercial servia para entrar no Liceu pronto aqui se estabelecia uma diferença muito grande / que tinha muito a ver com elitismo entre o ensino que na altura era o ensino técnico / e a e o e o liceal / porque pensava-se e com razão que o ensino liceal era quem pretendia depois / muitos poderiam seguir para a universidade para o Ensino Universitário ah / quando comecei a dar aulas o esquema era este exacto portanto era o mesmo que que existia quando eu era aluna não é ? e então havia era um ensino muito teórico / ah os programas muito rígidos / livros únicos que duravam sem fim anos e anos e anos < e anos > portanto que tinha desvantagens e tinha vantagens claro que era as vantagens até até económicas quer dizer / o mesmo livro dava para uma série de filhos não é ? continuassem a estudar os pais não tinham hm hm a a não sei se a intenção era não fosse essa / hm não é ? mas mas aa intenção do do do regime ah / podia não ser essa mas que era era era era mais económico para os pais e e mas havia eh quer dizer / para o professor o professor sabia tinha a sua carreira at era tudo muito claro porque estava tudo de tal maneira ah normalizado / hm hm hm hm sabíamos o que podíamos e o que não podíamos fazer / como é que que era era tudo estava tudo tão claro / que de facto estava facilitado nesse aspecto estava facilitado nesse aspecto a vida do professor / que tinha aqueles programas o professor de história eu mesmo como alunos numa universidade nós fazíamos um curso de História sem estudar da História oficial da história ah que o regime deixava que se estudasse ah pois que o regime permitia com professores universitários que foram saneados pelo pela pelas pelos seus ideais e pelo pelo imprimir pela abertura que tentaram ah imprimir porque tiveram problemas gravíssimos portanto os outros ou eram de facto seguiam aquilo de alma e coração porque claro ou então teriam mesmo de o fazer não é ? porque eh e a maneira de de não criarem problemas havia períodos da da da história importantíssimos / acabava-se um curso superior e nós não não nos transmitiam conhecimentos sobre a República a primeira República era bizarro não era ? foi ? a república que aquilo parecia que era quase uma coisa para o para o regime que hhh / ouvir falar em república a palavra república devia pô-los assim um bocado até à Assembleia não se chamava de República era a Assembleia Nacional não é ? tinham era eramos muito nacionalistas parecia que um estigma hhh / ah revolução francesa muito a palavra revolução devia causar ah a revolução Francesa / ah para não falar na Revolução Socialista isso nem pensar nem pensar não é ? ah ficava assim a cabeça muito e eh pronto ficávamos assim muito truncados / das pessoas quando viam que havia lapsos voluntário eh era era era quer dizer havia alunos muito jovens que aceitavam aquilo nem pensavam pois pois / / claro era assim e era assim não é ? aqueles que de facto queriam saber eh investigação própria tinha de ser própria escondida própria escondida porque havia livros que não se encontravam na na nem nas bibliotecas da das das Universidades / pois pois pois nem nas próprias livrarias basta dizer que a maior parte e não era em livros ah de ensino / é que os livros do Jorge Amado muitos deles não não se encontravam à venda está bom pelo menos assim / assim livros mas era porque porque estava no index é é / hhh da censura porque estava não se podiam não se podiam ler e e pronto / e ainda por cima os autores nacionais por isso tinham de ter muitos cuidados depois como professora / hm hm tínhamos de contornar a situação / porque tínhamos o programa e então tínhamos de cumprir o programa claro e havia momentos um bocado complicados porque eu nunca me esqueço que nós tínhamos de falar era a semana do ultramar / que vinha para as escolas / portanto uma circular os professores de História e Geografia não é ? a falar do ultramar mas eh falar do que lhe convinha duma mace politicamente favoravelmente à situação da colónia / aquelas terras não são colónias são províncias / tal como o Minho e o Algarve apenas são e aquilo é nosso por isto e por aquilo quer dizer / e havia alunos e o professor quer dizer às vezes falar nisto / " eu não concordo nada com isto mas como é que eu como é que eu vou dar a volta a isto ? faço ? " então a maneira de dar a volta ao texto tinha de ficar no sumário a semana do ultramar / para controlar ? ah / nunca sabíamos os alunos que tínhamos os pais em casa as perguntas que poderiam fazer não é ? às vezes até sabíamos não é ? então não podemos fugir claro eu por exemplo fazia assim / semana do ultramar / Angola / uma aula para Angola outra para Moçambique / para a Guiné / não dizia / dava uma aula de Geografia ah boa / hhh / e então era angola onde está situada Angola não é ? ah é banhada pelo oceano Atlântico e tal / serras rios e fauna e flora e vocês viram / / hhh / quer dizer eu dava uma aula de Geografia mas ninguém podia dizer que eu não tinha falado em Angola / hhh / / hhh em Angola hhh / não era e eu não não nem me atrevia a a falar nem sim senhora devemos defender aquilo ou não devemos defender / hm hm mesmo depois de ter começado a guerra não é ? ah / até antes isto tam pois pois antes e depois prolongou-se não é ? no durante portanto não não não me metendo nisso / porque isso então eram caminhos que podiam ser perigosos claro e nós tínhamos de nos auto-censurar tinha que ser era era é / criámos a pessoa criou isso quer dizer / de tal maneira se enraizou que nós tínhamos que tínhamos uma auto-censura tão tão tão tão enraizada / que às vezes nem nos apercebíamos que nos estávamos a auto-censurar hm hm e como é que foi depois eh a mudança para o pós vinte cinco de abril ? depois mas tem mas tem uma coisa quer dizer mas havia um um aspeto na na nesse período / que eu considero muito que me agradou hm hm portanto / por um lado era mau porque havia uma seleção muito grande de quem estudava sim mas os que estudavam / a maioria / porque os que não eram assim eram exceções / e acabavam por ter que se enquadrar na no no no sistema e no meio / eram alunos de uma grande educação hm hm de uma maneira geral portanto havia claro as exceções mas eram exceções muito educados / que respeitavam de facto / o professor para eles ainda representava uma figura um modelo respetado um modelo a seguir e respeitado e havia um respeito muito grande claro e como não tínhamos problemas nesse aspeto / ah / ma as escolas muito muito limpas disciplinadas muito organizadas muito limpas até no liceu aquilo muito limpo tudo bonito aquilo o sistema estava todo aquilo era mesmo porque em casa também a maior parte de nós vinha com aquelas regras aquele tipo de educação e aquelas regras de conduta que compõem saber como estar que não nem sequer pensávamos em fazer determinadas coisas ou dizer claro portanto tudo corria assim bem nesse aspeto era era positivo porque de facto o mal o sistema digamos pedagógico / ah mesmo a didática da disciplina quer dizer / depois dependia quer dizer a aula / nós tínhamos tendência a repetir / muitas vezes aquele professor de quem tínhamos gostado imitávamos não é ? está o professor modelo a gostavamos daquelas aulas de História / que eu gostava muito de História / o professor não seguia História e então a gente quer dizer é natural que a aula fosse na maior parte das vezes expositiva / claro porque sim que resultava dava porque o aluno outro tipo de estava atento interessava-se / trabalhava e até se conseguiam resultados hm / o relacionamento afetivo foi como sempre quer dizer havia professores que impunham respeito de uma maneira que o homem metia um bocado de medo e havia outros que respeitavam porque o professor tinha uma relação afetiva óptima eu penso que até sempre tive / hm hm não sei porquê / ah / é o gosto de dar aulas eu sei não sei se é pelo eu gosto de eu gosto muito de gosto de dar aulas e e gosto do convívio com com as pessoas e falar / eu não sei porquê mas às vezes o meu marido ri-se e diz " tu ao fim de cinco minutos paras numa paragem de autocarro / à espera do autocarro / está uma pessoa começa a falar contigo e dali a pouco falas com uma pessoa como se a conhecesses toda a vida " / hhh / / hhh / sim hhh é estamos a falar de coisas e falo pronto / e quer dizer isto é porque eu gostava que fosse assim que a gente pudesse falar assim com as pessoas assim / com todas as pessoas assim não é ? e não estar de atrás / exato e poder dizer tudo aquilo ou que se quer dizer sim uma pessoa ser com com educação não é ? com respeito mas poder conversar não é ? e não sei se por isso eu sempre me entendi com os alunos quando eram mais crescidos / ah alguns mais velhos do que eu / quando comecei a dar aulas à noite / ah começou à noite ? eu tratava-os por senhores hhh / hhh eram mais velhos do que eu / hhh senhor tal e senhora tal hhh / eu acho uma graça depois com os mais pequeninos / com os mais novos é o relacionamento afetivo é mais fácil hm hm e ma eles prendem-se muito mais sim sim ao professor afetivamente se de facto for for bom é e depois e depois do vinte cinco de abril / veio mudar tudo não é ? ah / mudou quer dizer mudou uma pessoa como professora pode não ter mudado individualmente não é ? pode ter continuado / que o esquema mudou / os alunos mudaram / e depois passou-se do oito para o oitenta que é o é o é o vício do português nós nós somos de extremos e ah / não é ? é está está nós não somos de meio de meios termos e depois somos muito por eh imitação de eh / até nas modas não é ? tudo nós imitamos modas importamos tudo e depois ah ah temos um tudo tudo tudo audiovisual o os meios de comunicação a televisão / ah / são são por um ládo óptimos porque uma criança pode-se ap sim pode-se aprender em cinco minutos de facto muito mais rápido nós assistimos a certas séries daquelas da da National Geographic / em que vemos aqueles ah pr uma pessoa aprende mais ali no no no em cinquenta minutos meia hora / do que às vezes numa série de aulas / porque uma filmagens quando é tudo uma uma obra bem feita não é ? mas por outro lado cria uma standardarização uma sociedade uma família / na nas crianças que depois isso é cria-lhes determinadas eh / preguiça mental / porque o miúdo habitua-se à imagem à imagem e à gravura em excesso / e olha para a gravura nem o que está escrito eh não pensa no que ali está / é a máquina é a maquinazinha de fazer os cálculos / é é uma sociedade que por imitação como tem as as hm hm as telenovelas os filmes as séries americanas e sem ser americanas / quer dizer é pensa que a sociedade muitas vezes quem pense que a América é aquela América do do do Rockfeller e do do Kennedy / e dos milionários e não pensa que outras Américas a América do do desempregado a américa do do analfabeto / milhares que são milh milhares ou milhões / dos que não têm casa dos que não têm Segurança Social dos não têm assistência de saúde os desempregados não existem praticamente eles não existem para a para o sistema americano não é ? e então tentam é imitar e todos querem ter aquelas casas é é com aquelas piscinas daquelas artistas de Hollywood e e e aquelas aquelas piscinas aqueles carros e e aquilo tudo e é eh / os valores são assim / e vem muitas vezes de casa eu pen é o aluno hoje não traz quer dizer a criança falta-lhe aquele modelo pai mãe / que eles necessitam claro ter como modelo de imitação de de mas um modelo que se imponha / primeiro realmente que se imponha mas pois pois ah podem ter é um mau modelo e os valores que lhes são transmitidos em casa é de facto o estar bem na vida / vir a ganhar muito não não interessa como em pouco tempo / para ter como o vizinho tem ou como ele não é / hm hm aqueles carros aquelas e a criança chega à escola e e nós ah ah de uma maneira geral isso sente-se na criança e depois no jovem falta de valores de ideais de e aquela aquela degradação social os valores que tem são mesmo valores sim e depois é um não o mínimo de regras a cumprir porque a pedagogia passou-se de uma pedagogia às vezes muito ah de / eu não digo autoritária mas sim sim sim com autoritarismo no mau sentido nalguns casos não aquele professor aquele sistema que se impunha / por si por respeito e por si / e por valor e por mérito e porque o professor de facto era uma pessoa respeitada / não porque era uma pessoa educada / que impunha o respeito e sabía que sabia que era competente / e que exigia um determinado tipo de conduta que ele também próprio cumpria agora não porque agora quer dizer a família está em desagregação conflitos terríveis / hm hm / / normal crianças em psiquiatras parece que é uma coisa normal que é que é aflitivo pensar claro que é aflitivo de pensar e depois / uma pedagogia permissiva totalmente permissiva tenho impressão que uma aula nossa de pedagogia actual / é em excesso a a permissividade quase total não se pode fazer e vem de casa hm hm pois é não se faz nada à criancinha que ela traumatiza-se coitadinha da criança fica traumatizada / e chega-se à escola não se pode chamar à atenção oh não o aluno tudo ah colegas que dizem " ah / eu isso não eu estou aqui para ensinar / quero saber / e os pais que o eduquem " por mais que se diga " mas ele passa mais tempo contigo e comigo e com outro colega do que com os pais portanto também és responsável passa o dia aqui " passa o dia " és um educador / e têm de te ver como um educador se não não te respeitam " é e os pais quando eles chegam a casa fazem uma coisa que não deveriam ah " o que é que te ensinam na escola ? " é isso é logo é toda a sociedade / porque geralmente a crise da sociedade é sempre atirada à escola / como instituição / é que sofre todas as pressões sofremos todas as pressões da socied é / de todo o lado é são pressões e a escola é sempre culpada do sistema e dos males do do do sistema a escola é neste caso também é vítima pois somos / porque a escola acaba por sofrer todas as pressões da sociedade e dos e somos vítimas não dúvida então toda essa atitude tão permissiva que se nota em pequeninas coisas / naquelas pequeninos nadas / parecem pequeninos mas daí é todo é todo arquitetado todo todo todo para um processo que estas crianças chegam a adultos sem sem sem determinado tipo de valores assimilados mas é absolutamente verdade eu vejo porque ah / começam a chegar às Faculdades e com ignorâncias terríveis culturais principalmente o que eu acho que ainda outra coisa mais grave que são a falta de conhecimento é a falta de preparação para o raciocínio pois é isso é isso mesmo que eu que eu também que eu digo é uma coisa terrível eu dou uma cadeira de Linguística que exige dos alunos de Letras uma coisa elementar toda a pessoa tem quase espontaneamente e pode exercitar que é o raciocínio lógico sim sim e os meus alunos têm muitos têm muitíssima dificuldade em em iniciar em explicitar os raciocínios lógicos como é que isto é possível ? é é que eu não lhes estou a pedir nada de mirabolante / não lhes estou a pedir divagações / não estou a pedir uma descrição impressionista / eu estou a perdir-lhes que raciocinem logicamente / a pedir isto é consequência daquilo / ou se isto e e aquilo então necessariamente aquilo sim mas eles não são capazes de fazer esse raciocínio à partida ou melhor eles fazer fazem / eles são capazes de me dar a conclusão correta / não sabem é explicitar o raciocínio e é isso é que é incrível pois não não não sobretudo em alunos de letras não nem oralmente nem nem de forma escrita têm uma dificuldade enorme / e a e a e a eu fico às vezes assim " isto não é possível pa parece impossível " e eu e eu aos aos tenho quintos e sextos anos / hm hm portanto eles são grandes entram muito cedo cinco anos para aqui / entram entram para a primária cinco anos é incrível não não não não e e na mas tem tenho alguns no sexto ano ah ah / de ano para ano ah piores piores é ? sim sim mas em tudo / quer dizer não na preparação / ah / que também com certeza é impossível com cinco anos como é que se consegue esta é a idade de estar no no no na no jardim escola a fazer determinado tipo de trabalhinhos a a desenvolver determinado tipo de de de de de gestos de cuidados de gestos de observação de rac quer dizer tanta coisa que podia dar porque e depois chegam ao quinto ano não estão preparados eu tenho uma aluna que não sabe ler não sabe ler eu não posso pô-la a ler um texto no livro de História / porque ela não não consegue ler aquilo está a soletrar está a soletrar ela nem a palavra quanto mais a frase e depois a ideia portanto ler é o outro outro de analfabetismo é uma coisa impressionante e por mais simples que tentemos ser / ela eles não entendem e depois transmitir por mais simples que o programa mas de qualquer maneira temos de dar a idade média temos de falar o que são coutos / as terras senhoriais da nobreza como se vivia a vida quotidiana / a própria palavra quotidiana eles não e depois o couto explicar-lhes o que era o couto e como se vivia yyy ficam a olhar mas será que eu estou a falar chinês ? se percebem / nem me admiro nada / que estudem que eles não trazem preparação nenhuma claro que outros alunos que trazem exceções claro claro depois quando estou em em na História / em determinados períodos / por exemplo na na liberalismo hm hm pouco estuda ainda ah ao nível deles não é ? eu digo-lhes " olhes se vocês quiserem perceber determinados aspetos da sociedade desta época / e que estou a explicar em História / vocês começem a ler / porque talvez alguns consigam com um certo interesse / o Júlio Dinis / se vocês fizerem a leitura da da Morgadinha dos Canaviais / apercebem-se de muitas coisas que estamos aqui a estudar em História olhem de facto na aldeia / a maior parte da população era analfabeta / às vezes havia um que lia então as cartas ou o jornal que chegava ou as cartas que vinham do Brasil que era para os era uma pessoa que soubesse ler que lia para toda a gente ai era ? era leiam A Morgadinha que está um vocês lêem yyy da obra / que foi o Costa Cabral / quando deu-se a yyy da Maria da Fonte na na fora das igrejas e em locais ah / leiam uma cena da Morgadinha nos Canaviais que vocês vao ver o enterro da Ermelinda " são aquelas coisas que eu a primeira vez que li aquilo chorei e depois li reli / com outra idade e assim mas como é que eu consegui chorar que que pena ter perdido esta esta esta inocência / hhh / ah / é verdade com os meus doze ou treze anos quando eu li aquilo chorei e vivi aquilo chorava como uma Madalena mas hhh depois mas aqui não são capazes de ler um livro desses e eu tinha treze / doze treze nas férias / mas essa do segundo para o terceiro ano / era uma curiosidade que ainda se tinha em tempos antigos / gostava muito de ler / como a maior parte e o meu quando eu fiz anos ah / o meu pai perguntou-m e eu disse " pai arranje-me livros que eu gosto muito de ler " o meu pai sabia não é ? hm hm e ele aqui a braga à livraria Globo que não existe / e disse " ai a minha filha gosta muito de ler vai fazer treze anos / quero que ele literatura que seja de facto boa / que ela aproveite mas que seja própria para a idade dela que ela ter interesse " " olhe leve-lhe a colecção Júlio Dinis não escreve bem / muito bem como são coisas para a idade pode ler à vontade não problema nenhum " e então foi / hhh lia os livros todos hhh / tudo de enfiada naquelas férias era tudo uns atrás dos outros hhh / um atrás do outro pronto / quando foi da ai uma parte em que diz que na República primeira República / os republicanos diziam " cada homem vale por aquilo que / pela educação que tem ou que teve " eu disse " olhe se lerem Os Esteiros do Soeiro Pereira Gomes / o pai de um dos meninos dos Esteiros / que imigra / porque diz para o filho ter a instrução que ele não teve / porque se não estudasse / um dia teria duas hipóteses na vida / ou ser escravo dos outros ou dar em vadia em hm ... ah / ai é disse isso " vocês e tal houve miúdos que foram os pais matam-me " comprar os esteiros eu tenho de comprar " " eu vou comprar " e havia outros que diziam " a minha mãe tem vou ler " ah eu eu era a / hhh / outros dizem-me " estou a ler A Morgadinha dos Canaviais " hhh / / hhh / / hhh / mas era bom que isso fosse assim / / hhh / porque eles podem muito bem preferir fixar que na morgadinha aquele episódio se relaciona com aquilo para poder referir num teste e isso realmente como se tivessem lido / do que ler na realidade para verificar se é assim ou se não é assim porque eu vejo que que quando eles chegam à faculdade o que é que eles sabem / o que eles sabem são aqueles conhecimentos que algum dia alguém ... tendo experimentado / lhes transmitiu é assim ? relacionou isto com aquilo / e portanto eles fixam a relação e depois são capazes de a reproduzir ? é um conhecimento armazenado não experimentado / mas adquirido por interposta pessoa / sim sim e ah depois obviamente não podem fazer um bom uso dele então verifique os conhecimentos que eles armazenaram na memória não aqueles que eles experimentaram / eles são capazes de os reproduzir e usam-nos com frequência / sim sim no entanto ah / não são capazes de fazer nenhum percurso por si sós e isto é que a mim me choca ai / perguntaram-me se eu sigo muitas vezes Os Lusíadas por causa da expansão e não / mas durante a expansão e não os Lusíadas / ah perguntaram-me " será que eu conseguia entender Os Lusíadas ? " " olha Lusíadas não para não consegues entender / mas uns Lusíadas uma edição para para jovens / lês e depois mais tarde lês Os Lusíadas mesmo porque era muito difícil tu entenderes / tu de facto não estás preparado para entender / e em pouco punhas de lado punhas de lado " agora nesta última aula / com o quinto ano / mas os miúdos tem de ser assim alguns eu sei que a maioria não não aproveita porque não não entendem o mais elementar muito menos isto mas alguns que ainda têm a curiosidade hoje um me disse que ia comprar em banda desenhada estou a falar na no no Dom Dinis / a corte do rei Dom Dinis o sarau na corte / e depois eu falei-lhe na poesia trovadoresca / o Dom Dinis como trovador não é ? e depois disse " olhem vocês sabem quando a poesia trovadoresca depois isto vai passar quer dizer / costuma dizer-se que a literatura do Dom Dinis foi o nosso grande trovador e último sim dos grandes trovadores / mas / ah / depois surge uma nova moda / que são romances de cavalaria eles sabem que os nobres são cavaleiros / ou se não havia guerra era a caça a montaria ou então os torneios que organizavam portanto estava tudo ia de encontro aos ideiais deles não é ? e aqueles cavaleiros que se destinguiam porque ganhavam sempre / então criaram-se olha / séries parecidas com aquelas que vocês vêm na televisão o ranger do Texas o o que o he as histórias são diferentes o herói é sempre o mesmo e vence sempre não é ? " " ai sim " " vocês para não vocês não conseguiam gostar de um romance de cavalaria não é ? sim " mas olha uma coisa muito engraçada / que também a o a obra vocês não vão conseguir ler porque ainda não é para a vossa idade / mas vocês sabem que uma no século dezasseis um escritor ah / para mostrar como havia de tal maneira aquelas pessoas que liam tanto romance de cavalaria / aquele gosto estava na moda e houve um que leu tantos tantos que ficou meio transtornado e resolveu tornar-se um grande cavaleiro que é o Dom Quixote " " ai hhh / " e / hhh " vocês não conhecem a história quer dizer ele tanto romance de cavalaria leu que a certa altura convence-se que era um cavaleiro que ia com o seu escudeiro que era o Sancho Pança / pois com aquela a servir da de de de elmo aquela bacia do do barbeiro que servia para não sei que mais / ai que afinal aquele Dom Quixote andou de mais " não a obra não mas em quadradinhos / a banda desenhada para a vossa idade " " ai ? vou comprar " diz-me hoje um / hhh / " fui disse à minha mãe para me ir comprar o Dom Quixote de la Mancha em banda des " hhh / não mas é bom porque eles aprendem / pelo menos o os episódios principais da História não é ? sim sim e podem se quiserem pensar um bocadinho na na História / e depois lêem aquilo como deve ser pois / agora isso se eles nunca perceberem que como deve ser aquilo pode ter algum interesse para qualquer coisa / pois bom vamos interromper aqui eu depois disse claro a conversa porque eu tenho uma outra gravação claro ainda ai mas estava a gravar ? ai / hhh x ...

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