Dicionário de Regionalismos e Arcaísmos

‘Uma ave’, Tras-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

Oeconŏmus, sec. XIV, Rev. de Hist., II, 50 (jcoramo).

Suppõe *eidade: cf. em leonês arc. eidat em Gessner, Das leon., 5.

Nem em gr. (ίδίωμα) nem em lat. quer dizer ‘lingoa’, mas sim ‘particularidade de estilo ou de lingoagem, idiotismo’. D’aqui é que depois se desenvolve, já em romanço, a ideia de lingoagem propria de uma nação. Cf. Moraes tambem.

[1] ‘Ignorante’, em G. Barreiros, 1561, fl. 60.

[2] (Invariavel no genero.) “virgens simples e idiotas”, falando das Sibilas, Arraiz, fl. 64. Isto é: ‘simples’ (sinonimo do adj. anterior), ‘inocentes, singelas’.

Arraiz, fl. 5v, col. 2, tem idólo. Lat. idōlum, gr. εἴδωλoν.

[1] Ou iffante, cf. prov. effantz, efans.

[2] “da ifante D. Beatriz”, Severim, Disc., fl. 90.

‘Inferno’, D. Carolina, Zs., XIX, 525.

‘Inocente’, Esopo, 81.

[‘Estranhar’, Avis. “Ignoro muito que Você faça isto”: ‘estranhar, com censura’. Cf. a cantiga: “Quem tem meninos pequenos, | Não se lh’inora o cantar”.]

i - a, adj. ‘Que anda pelas igrejas’: “huma mulher… fanatica igreijeira”, A Magia e mais superstições desmascaradas, Lisboa, 1820, p. 32, nota.

[1] De eclesia = ecclesia: Meyer-Lübke, Einführung, § 129.

[2] Arc. Eigreja. Cf. leonês arc. eyglesia em Gessner, p. 5.

“igual de” no CR, I, 30: “o cuydado | he jogoal do sospirar”.

[1] Sahiu de cruzamento de igualança e igualdade, segundo Baist, Zs., XXX, 334.

[2] Ined. de Hist. Port., III, 29 (Fernão Lopes).

Aequalia. Cf. iguar. Caturra mal.

“de jguança”, sec. XIII nas Flores de dereyto, p. 37. Por igualança? Cf. iguar.

Lat. aequare, adaequare, hesp. ant. eguar. Cf. Randgl., I, 73.

= Irlanda, sec. XVI, AHP, II, 246 (Yllamdra rep.), 248 rep.

[1] Julio Moreira, Estudos, II, 267. Ilha, Azevedo, AHP, II, 59. Vid. insoa.

[2] ‘Grupo de casas no Porto.’ Cf. Moraes, que não cita porém o Porto. ‘Corresponde aos pateos de Lisboa. São para a gente pobre.’ Já em lat.: vid. Dict. de Theil; cf. Zs.R.Ph., XXIX, 528. Cf. isola em Torim (vid. o meu Baedeker, sublinhei). Do catal. illa.

[3] Não póde vir directamente de insula. Para o prov. iscla admitte Ascoli *istla de isla: Archivio, III, 458. Mas para o port. não serve iscla, que daria icha. Poderemos admittir *icla com troca de -sla por -cla.

[4] Parece que Meyer-Lübke, Einführung, § 125, suppõe que insula > is’la se tornou istla. Mas istla podia dar ilha?

[5] Parece que hesp. isla e o port. ilha tem cada um sua origem. O hesp. vem de i(n)s(u)la, cfr. fr. isle, prov. isla, irla. O port. postularia *icla, pois *iscla que parece explicar o prov. iscla, e o ital. Ischia di Castro daria *icha.

[1] [‘Lhano’, Peral, etc., por se não admitir lh-.]

[2] [‘Lhano’, Obidos.]

RL, II, 268.

‘Ilhota’. Goes, Cron. de D. Manuel, I, cap. 36.

“estes ylhós dise Pero Carvalho que serviram em camisas”, AHP, II, 386 (1522).

Sec. XV. Vid. inluminador.

[‘Lesão cardiaca’, Obidos.]

‘Enganar’, RL, XII, 103.

Os antigos diziam assim: “entre todos os nobres e bem entendidos”, B. Telles, Hist. de Ethiopia, fl. 39.

‘esculptura de madeira’, Regimento dos oficios de 1572 da Camara Municipal de Lisboa, fls. 130v, cap. 35.

[‘Embarbilhado, o cabrito’, Cadaval.]

[‘Espolinhadoiro’, Zeive.]

‘Embate da agoa na rocha’. Cantiga de Penajoia: “(Mi)nha mãe chora que se mata, | Tem um genro marinheiro | Tem medo que l’elle morra | Nos imbalos do Lòreiro” (Ponto no Douro, ao pé de Barqueiros). N.B. Subst. verbal de embalar.

‘Abanar’, Ponte de Sôr.

‘Malicioso’, RL, XII, 103.

‘Faxa de terra para semear’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

[Vid. C. C. Branco, Rom. de um homem rico, 3.ª ed., p. 46.]

‘Versificado’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

‘Botar abaixo’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

‘Sujar-se no lodo’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

‘Cercar de agua’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

[1] Vid. emb-.

[2] No conc. de Mangualde tem o sentido de ‘aloquete de chave’ ou ‘cadeado’.

[3] [‘Funil grande e pequeno’, Lanhoso (não em Guimarães).]

[4] ‘Funil ordinario pequeno para a garrafa’, Moncorvo.

[‘Funil (com assobio)’, Amares.]

Adv. ‘Directamente, imediatamente’. Sec. XV, AHP, IV, 53 (ymmediate rep.). Lat. immediate, ‘naturalmente’. Latinismo.

‘Inimigo’, Comprom. de Guim., 1516 (ymiigo). Esopo, 81.

‘Inimizade’ (por ĩmizade), foral da Azambuja, Leges, p. 727.

‘Pôr em morêa ou moreia’, Valpaços, RL, II, 257.

“Estar immundo”: ‘estar alheado’, Trás-os-Montes, RL, V, 93.

Vid. com h-.

ou impalvurida.‘Turva de pó’, Bragança, RL, III, 74.

= Amparar; cfr. Imurosio = Ambrosio.

‘Comer com soffrega maneira’, Açores, RL, II, 53.

‘Empecilho’, com infl. de empachar (cf. desempachar).

‘Tropeçar’. “Olha não impeces ahi”, “olhe que póde impeçar na travéssa”, ouvi a gente de Ourem. Cf. já Caturra (em-).

‘Para o moinho pela demasiada agua incorada’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

= Importunidades, sec. XV, AHP, I, 417 (jmpertunjdades).

‘Epidemia’, Avis, RL, IV, 230.

[‘Pedra do lagar, para expremer o bagaço’. Onde péga o feixe (trave de madeira), Alvações. De empesar.]

‘Emprestar’, Extremadura, RL, V, 146.

‘Impedir’, CR, II, 301.

‘Tombar’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

“Impiscar os olhos”: ‘piscar’, Mondim.

‘Ímpado’, Algarve, RL, V, 93, s.v. ímpado.

‘Peças de madeira’, RL, XII, 103.

(um imporém) ‘Um estorvo’, Trás-os-Montes, RL, V, 93. De em + porém. Cf. indebem (Beira).

“cousa importantissima pera a conservação dos homens”, Arraiz, fl. 31.

[1] Não se deve dizer: “sem se importarem do valor”, “não me importo do porvir”; mas sim: “sem lhes importar o valor”, “nada me importa o por vir” (ap. Moraes). Isto é, não deve dizer-se: “eu me importo de” mas “importa-me”. No sentido em que empregam mal interessar: Severim, Dic., fl. 155.

[2] Deve dizer-se: “não me importam os negocios”, “não lhe importa nada d’isto”; em vez de: “não me importo de”, “não se importa de”.

‘Meter em posse’. Num doc. ms. de 1488, copia autenticada, feita em 1773. Duas vezes: “hos am logo por investido e impossymado em elle” (= no padroado de uma igreja); e o individuo a quem foi feita a doação do padroado “se ouve logo por empossymado”. Do lat. possim?

[1] “Fazer os impossiveis”, diz o povo (Sul) por ‘fazer o possivel’. Mas no Clarimundo, II, 43: “eu trabalharei nisso por amor de vós o impossivel”.

[2] “Fiz os impossiveis”: ‘fiz quanto era possivel’. A mesma evolução sematologica em it. dial. impossibel = possibel, que Salvioni explica ou por mau entendimento da voz douta, ou pelo promiscuo uso de ho fatto il possibile e hatto l’impossibile; tambem em venez. impossibile. Vid. Archivio glot. it., XVI, 307.

Fem. de impostor. “Mulher imposteira”, Baião. Cfr. lavradeira.

Subst. ‘Exposto (na roda)’, Cadaval.

‘Entrevado’, Mondim.

‘Bolha na pele’: impulmões.

Vid. en-. Alandroal, RL, IV, 65.

[1] [Por ‘ainda agora’, isto é, ‘ainda ha pouco, ha bocado’. “Veio inágóra”, ‘veiu ha pouco’; “foi-se inagora”, etc., Obidos.]

[2] ‘Ainda agora’, Extremadura, RL, V, 146.

‘Nagua’, RL, XII, 103.

‘Torcido’, RL, XII, 103.

‘Fazer cachoichos’: “incachoichar as canas”.

‘Correia (no mangoal’), RL, XII, 103.

ou incalacrear. ‘Engodar, engalhar’, Mondim.

[1] ‘Dobadoura’, Bragança.

[2] ‘Torcedeira de linhas’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

‘Torcer linhas’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

“si a considrar im canto”: ‘neste meio tempo’, Baião.

[1] ‘Originar’. “D’esta semente inçaram-se quatro rayas’, ‘propagaram-se’, Baião. De initiare.

[2] ‘Propagar’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.). N.B. De *indiciare (cf. endez < ovum indicii), segundo D. Carolina, Zs., XXIX, 608.

[3] inçar as vélas. ‘Içar as velas’, Açores, RL, II, 304.

‘Adoentado’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

‘Empilhado’, “pães incarrabulados”, “pratos incarrabulados”, Celorico da Beira. Vid. carrabúlo.

‘Lavrar as terras nas revolvas’, Trás-os-Montes, RL, I, 212 (G.V.).

‘Encaixe’, Avis, RL, IV, 230.

‘Parte da mangueira; termo da lavoura’, RL, XII, 106.

(com ç) Usual? Sec. XVI, AHP, IV, 75.

‘Girar’, RL, XII, 103.

‘Cuidadoso’, Alemtejo, RL, II, 44.

De inflatione. Cfr. it. enfiagione.

‘Rede de pesca’, Açores, Portugalia, I, 340. Ha o grande e pequeno.

‘Grandes ondas’, Açores, RL, V, 220.

‘Cingir’, RL, XII, 314.

‘Aclarar’. “A agoa do rio vai turva, | Chega ao mar e inclarece: | Esses teus olhos, menina, | Logra-os quem nos num merece.” Penude (Lamego), de uma velha.

a) No Algarve, em relação a plantas: Caturra. b) Em Trás-os-Montes, com relação a um acaso: “sempre fica inço”, i. é, ‘semente’, D. Carolina, Zs., XXIX, 611. Cf. gall. inzo. De inçar.

Vid. incolcos.

“Sardinha inconchada”: ‘sardinha cuchada, sem cabeça’. Etim. pop. Fozcoa.

“Pais incolcos”: ‘pais incognitos’, Cadaval. Por *incon’cos. Incognito > incónito (cf. inorar, no Cadaval) > incolco, por dissimil. de nasal + n, e troca de terminação.

‘Incognito’, Alemtejo, RL, II, 44.