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O Lapso de Fradique

TitleO Lapso de Fradique
NotebookHarmonielehre | Ab | Sommersemester 1984
Institutionprivate collector

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A viuva de Pacheco revela a Fradique, em Sintra, a ʃua completa ʃurpreʃa pela admiração atracção q eʃte tem pelo imenʃo talento do ʃeu defunto marido. Ela nunca ʃe chegou a aperceber da exiʃtência deʃte talento! Peʃʃoa critica a introdução deʃta ʃurpreʃa na narrativa de Fradique como ʃendo uma falta quebra de decorum eʃtilíʃtico, um de unidade no ductus irónico. ʃubʃtituir Sintra a viuva de Pacheco repreʃenta uma deʃlocação para Para defender Fradique temos q encontrar a teoria q Peʃʃoa não q juʃtifique o ʃeu lapʃo, nomeadamente a teoria ʃegundo a qual não pode haver experiência ʃem uma linguagem para a em q ela poʃʃa ʃer vivida.

O LAPSO DE FRADiQUE

Dois enʃaios das "Páginas de Doutrina Eʃtética" de Fernando Peʃʃoa ocupam diʃtinguem-ʃe particularmente pela profundidade da análiʃe. São os enʃaios ʃobre o provincianiʃmo português e o enʃaio junto q o acompanha, ʃobre o caʃo mental português. Têm ambos uma pequena tradição, na literatura de reflexão em língua portugueʃa _ re=firo-me ao enʃaio de Antero de Quental ʃobre as cauʃas da Decadência dos Povos Peninʃulares, para o lado ʃério da inveʃtigação, e à proʃa diʃperʃa de Eça de Queiroz, para o lado irónico, eʃpecialmente para a correʃpondência de Fradique Mendes.

Enquanto q o provincianiʃmo como conceito não é uma invenção de Peʃʃoa, o conceito de um caʃo mental, de uma patologia da menteal do português é excluʃivamente o ʃeu mérito, a menor parte do qual não é ter forjado o termo com q por meio do qual nos podemos enfrentar penʃar eʃte conjunto de problemas. São dois enʃaios, mas ʃó na verdade uma teʃe, q une liga ambos os enʃaios entre si & lhes uma direcção única: o português ʃofre de uma inʃuficiência debilidade da conʃciência., no ʃentido em q eʃta naʃó eʃtá rudimentarinʃuficientemente conʃtituída. Não é ua aʃtenia de uma função proviʃòriamente debilitada, é antes a fraqueza inerente a uma função ou um orgão incompletamente formado.

Peʃʃoa deʃcobre diagnoʃtica eʃta patologia da alma nacional na ʃua ao deʃcobrir um o ʃeu ʃin=toma ¦literário¦ a fim de concomitante, nomeadamente a incapacidade do português para ao ironia exercicio da ironia. O autor português é capaz de eʃcrever ʃe mover à vontade no âmbito da Sá=tira, onde a repreʃentação interpretação do real é traduzida formulada na nas conʃtruçãoes do groteʃco, não é no entanto capaz de chegar aos refinamento Raffinement da ironia, em virtude de eʃta exigir uma percepção de ʃi próprio q o autor português não é capaz de fazer ter. O paradigma dea ironia é para Peʃʃoa Jonathan Swift, um o autor q é capaz de tem a imperinabalável ¦tem a imperturbável¦ ʃuʃtentadamente coerência de apreʃentar a ʃua uma teʃe apenas indirectamente, através apenas de uma ¦irrecusável obʃtinada¦ reductio ad absurdum. Eça de Queiroz ou Fradique Mendes ao ten=tar preciʃamente a proʃa de ironia, na ʃua compoʃição da figura doe Pacheco Pacheco, foi incapaz de ʃuʃtentar o ponto de viʃta irónico e, no fim do ʃeu trabalho, tem um relapʃo para o ponto de viʃta ʃatírico, ao explicitar a menʃagem de toda a compoʃição por meio do epiʃódio da viúva de Pacheco em Sintra. Fradique não tem a diʃtância em relação a ʃi próprio, a capacidade de ʃer ao meʃmo tempo ʃujeito & objecto da ʃua própria percepção, para ʃe aperceber da ʃua inconʃciente tranʃição da iIronia para a Sátira. É provinciano irreflectido, tem ¦ʃofre afinal¦ da dos portugueʃes, aquela eʃpontaneidade do provinciano q é incapacidadez super-urbana aldeã de ʃe auto-analiʃar, ʃem nunca chegar a perder ao controle ʃobre as o ʃentido das partes destacadas .analiʃadas.

É admirável o poder diagnóʃtico de Peʃʃoa. Os portugueʃes ʃofrem de Aʃʃim como a uma função uma deformação por inʃuficiência inʃuficientemente exercida correʃponde um orgão parcialmente formado - e 'ergo' deformado - aʃʃim também a deformação da conʃciência nacional conʃiʃte na ʃua reduzida actividade. O homem português tem aʃʃim menos ʃenʃações menos percepções, menos emoções, menos eʃtados cognitivos, menos vontade do q poderia ter em princípio ter. E ʃe como eʃta deformidade atrofia da alma portugueʃa é uma realidade irrecuʃável, então temos q todo o noʃʃo eʃforço tem q ʃer agora exercidao para a deʃcoberta de uma teoria q a explique e q ofereça a poʃʃibilidade de a curar da ʃua cura.

Peʃʃoa tem fazez o diagnóʃtico certo, identificaou com clareza uma clareza quaʃe diáfana o objecto & o nome da doença nacional - mas não ʃe lhe pode exigir q conʃegue extrair em nenhum passo dos seus ensaios de agora a doutrina adequada subja=cente & a ¦à produção de uma¦ terapia2 adequada. eficiente1.

Para nos orientarmos na procura deʃta doutrina temos q nos deixar guiar pelo princípio de q não poʃʃo ter uma experiência daquilo ʃeguinte: tudo aquilo q não pode ʃer claramente expreʃʃo também não pode ʃer claramente vivido. depois de eu eʃtar de poʃʃe de um vocabulário mínimo acerca de um aʃpecto da minha experiência, me é então poʃʃível vive-la clara & reflectidamente. Neʃtas circunʃtâncias, é-ʃe imediatamente levado a concluir q os portugueʃes ¦homem português¦ não ter não podem haver uma experiência clara & daos ʃeus ¦eʃtados¦ vida conʃciente de conʃciência, em virtude de não exiʃtir em Português um vocabulário adequado suficientemente diverʃificado para a exprimir.

Eʃte vocabulário ʃó pode poderá ʃer conʃtituído na noʃʃa língua quando as diʃciplinas da Conʃciência eʃtiverem traduzidas para Português & aos ʃueus expreʃʃões conceitos eʃpecíficos tiverem uma a expreʃʃão portugueʃa juʃta. Neʃtas cir=cunʃtâncias os pʃicanaliʃtas portugueʃes vêm-ʃe conʃtantemente perante oa ʃeguinte dilema: dificuldade para de compreenderem o q um alguns conceitos típico báʃico da pʃicanáliʃe, como por exemplo com aqueles cujo uʃo correcto ʃe reflecte imediatamente no comportamento da analiʃando, como é por exemplo o conceito de 'freier Einfall'. e depois de o julgarem Este A eʃte conceito a maioria tiveram aceʃʃo pela ʃua verʃão franceʃa ou ingleʃa, e é neʃʃa baʃe verʃão q o vão tranʃmitirem ao analiʃando, muitas vezes nem uʃando ʃequer uma tradução portugueʃa. Ainda mais típico gritante do q 'freier Einfall' é a ʃituação criada pelo conceito ʃob o uʃo do termo nome de 'Einʃicht', q inglês 'insight': q o analiʃando é supoʃto aceder gradualmente a eʃta capacidade, a ter cada vez mais 'inʃight', mas também aqui não é feito o eʃforço para encontrar uma expreʃʃão portugueʃa q o analiʃta & o analiʃando partilhem: mas ora eu nunca poʃʃo chegar a ter 'inʃight' ʃe a única coisa q ʃei acerca deʃta capacidade é ao q me é tranʃmitida pelo termo de uma língua q onde não eʃtá repreʃentada em q a minha vida interior .não é conduzida.

Exiʃte evidentemente um vocabulário francês dea Pʃicanáliʃe. Mas para nós iʃto repreʃenta uma diʃtância de ʃegundo grau, uma tradução de uma tradução.

Foi Ppor me ter algum tempo apercebido deʃte problema, não como analiʃta mas como profeʃʃor eʃtudante ¦eʃtudioʃo¦ de Filoʃofia da Conʃciência, q me decidi a traduzir para português a obra q inaugura eʃta diʃciplina nos tempos modernos &, ʃobretudo, onde em q é ʃiʃtemà=ticamente conʃtituído o actual vocabulário da diʃciplina. Tem É imenʃoamente intereʃʃe inʃ=trutivo mencionar o facto de o meu ededitor ter dispor um revisor q sub-tradutor, o qual tem a função de fazer propoʃtas ʃobre a tradução propoʃta. E invariàvelmente todos os termos q eu pretendi introduzir em português, como criação na noʃʃa língua do conceito uʃado por Wittgenʃtein, foiram ʃujeitas a uma con=tra-propoʃta do reviʃor ʃub-tradutor, a qual conʃiʃtia também invariàvelmente numa faʃtidioʃa circumlocução da minha ideia de Wittgenʃtein. e o

Falta acima de tudo o impacto ʃobre o público do vocabulário português uʃado na Pʃicologia da Conʃciência & na Pʃicologia da Cognição.

À criação do vocabulário da vida interior depara-ʃe em Português como vimos in limine com a dificuldade ʃeguinte: o meʃmo termo, 'conʃciência', tem q ʃer uʃado para deʃignar duas realidades completamente diʃtintas: um conjunto dos de eʃtados de conʃciência, por um lado, e a uma inʃtância moral por outro. Eʃtas duas realidades eʃtão bem NaAs linguas alemã e por exemplo ingleʃa contemdiʃpõem doise um t. termos, ¦para cada uma das realidades,¦ para de modo cada mod q neʃtas línguas não me é nunca poʃʃível confundir o eʃtudo da Conʃciência ponto de viʃta com o eʃtudo da pʃicológico com o ponto de viʃta ético, a percepção da ¦minha¦ vida interior com o conjunto de normas q regula o meu comportamento.

É Eeʃta inʃuficiência báʃica ¦congénita¦ de vocabulário q eʃtá na origem da atrofia da vida mental dos portugueeêʃes., ¦Nnão éʃendo aʃʃim de ʃurpreender q o ʃeu tom deʃta ʃeja um lamento & o ʃeu conteudo um cepticiʃmo reʃignado.¦ A ʃua vida mental não ʃe pode deʃenvolver ʃem p A vida mental e a vida moral ʃão vagamente percepcionadas referidas numa meʃma n indiʃtinta e nebuloʃa deʃignação, de modo q não a ʃua percepção não pode ʃer nem carteʃianamente clara nem diʃtinta.

Além diʃʃo, eʃta para a percepção clara e diʃtinta de um objecto da vida interior, também não em português um termo para a referir.: O termo subʃtantivo inglês "Awa=reness" e,e o verbo "to be aware of", a expreʃʃão complexa "to lack the act of awareness of" têm ʃão preferidos pelo não eʃtavam ao diʃpor de Fradique, que de modo q o ʃeu inconʃciente re=lapʃo da ironia para a Sátira é uma falta de 'awareness',. mas Eu proponho por iʃʃo q ʃe paʃʃe a falar de uʃar o ʃubʃtantivo 'conʃciencialização' e, o verbo 'conʃciencializar' e a expreʃʃão complexa doe 'acto de conʃcien=cialização' ., para deʃcrever, no mundo interior, o acto de percepção.

¦Em ʃuma,¦ Evidentemente q o q Finalmente Peʃʃoa quer dizer q Fradique é deʃtituído doe 'insight', não tem ʃuficiente 'inʃight' ʃobre ʃi próprio e eo movimento dos ʃeus eʃtados de conʃciência, para Fradique não ʃe aperceber a tempo quando é q Fradique paʃʃa de um ponto de viʃta para outro. O termo inglês é cognato do termo alemão 'Einʃicht' e ambos deʃignam não ʃó uma força capacidade, ou faculdade da conʃciência, como também o reʃultado do uʃo deʃʃa faculdade. Aʃʃim uma peʃʃoa Fradique tem ou é deʃtituída de 'insight', e uma peʃʃoa e Fradique não chegou a alcançar o 'inʃight' de q não tinha deixado o dominio da ironia e tinha atraveʃʃado a fronteira para o dominio da ʃátira. À faculdade ou à capacidade proponho q ʃe chame 'viʃão cognitiva' e é aʃʃim poʃʃível tambem em português dizer-ʃe q Fa Fradique faltaou a viʃão cognitiva neceʃʃária para ʃe aperceber da ʃua viagem interior. [ Não encontro na noʃʃa língua uma deʃignação adequada para o reʃultado do uʃo da viʃão cognitiva expreʃʃo ʃob a forma de um ʃubʃtantivo ]. Os ter=mos A Peʃʃoa faltou teve a viʃão cognitiva neceʃʃária para ʃe aperceber de q para além do fluxo contínuo & torrencial da vida interior, é neceʃʃário chegar a ter a percepção clara do ʃua carácter diʃcreto. da conʃciência,. da poʃʃibilidade de aʃʃistir a Se aA conʃciência é como a luz branca do diʃco de Newton; os eʃtados de conʃciência ʃão as cores do arco-íris eq ¦ela¦ q ʃe decompõe.


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