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1755. Carta de Mariana da Silva Machado para João Soares, padre.

ResumoA autora conta ao padre João Soares (seu primo) como morreu o seu marido por obra de feitiços de uma escrava, pedindo-lhe que fizesse tudo o que estivesse ao seu alcance para que esta fosse castigada pelo Tribunal do Santo Ofício.
Autor(es) Mariana da Silva Machado
Destinatário(s) João Soares            
De América, Brasil, Bahia
Para S.l.
Contexto

Suporte duas meias folhas não dobradas, escritas a primeira em ambos os lados e a segunda apenas no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Caderno 114
Fólios 265r-v e 266r
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Fernanda Pratas
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

Frase s-2 Meu Primo e Sr Não pr rezão do sangue mas tambem pla boa amizade e conrespondencia que vm tinha com meu marido e Primo Gregorio Antunes tenho obrigam de participar a vm a desconsolacão e desamparo em que me acho, e a magoa q me asiste na sua falta por ser Deos nosso snor servo terallo de minha compa e levallo pa sy aos 7 de Dzbro do anno passado, ficandome dois meninos hum de quinze mezes e outro que pouco mais tem de hum mes de nacido
Frase s-3 e suposto tenho a concolacão de falecer com todos os sacramtos da Igreja por lhe dar logar a sua doenssa comtudo se faz maior a minha magoa por ver q a sua morte foy ajudada de malificios que lhe fez huã crioulla por nome Simiana escrava do Cappam João Nunes Fre moradora a N S da Piedade com os quais lhe emcurtou os dias de vidas depois de huã larga doenssa de perto de sinco mezes, no discursso dos quais não ouve remedio que se lhe não fezesse esgotandosse todos os que lhe apelicarão os medicos surgiois que lhe asistirão que dezemganadoz de lho não acharem na medicena e de se não emtenderem com tal doenssa o dezemganarão a que procurasse os que apelica a Igra ja pa a saude do corpo, e ja pa que tratasse da sua alma que espero em Deos tera em bom lugar pla recignacão e paciencia com q acabou, cercado de mil tromentoz que padecio na sua doenssa que tambem me martirizarão a min plo ver padecer sem remedio, e ainda mais achandome pejada,
Frase s-4 e por isso fiquey com mto pouca saude.
Frase s-5 O meu sentimento me faz pedir a vm e ao snor D Afonsso Manoel de Noronha (a qm escrevo pla boa amizade que teve com meu marido) queirão tomar pr sua conta o dar pte ao sto tribunal da Inquizicão deste cazo pa mandar tomar conhecimto delle pois a da crioulla publicamte confessou haver feito os tais maleficios preztes varias ttas cujos nomes vão a margem
Frase s-6 e he uzeyra e vezeyra a uzar delles e me consta o mesmo fizera ao sargto Mor desta prassa Franco do essa baracho que acbou da mesma sorte e oz tem feito tambem a hua escrava pr nome quiteria q servia o defunto meu marido sendo soltro a qual esta acabando a vida da mesma doenssa de seu Primo,
Frase s-7 e o ter durado mais estes poucos mezes he plos medicozE Sorgiois lhe terem conhecido a emfermide e se lhe não apellicar remedio algum, porem sem esperanssas de viver.
Frase s-8 A da crioulla se acha ja recolhida a cadeya desta cide pla mesma culpa que lhe rezultou de hua devassa que ex oficio custuma tirar o juis do crime em Janro
Frase s-9 porem como nesta terra se não castigão feiticeyroz justamte receyo saia pa fora della sem o que mereçe semelhante delito em o qual ha mais cumplices que asociadoz com a da crioulla uzão destes maleficioz e outras semelhantes diabruraz;
Frase s-10 e não satisfeita ainda com a morte do defunto meu marido dizem publica na cadeya que em sahindo pa fora lhe não ha de escapar molher e filhoz e que toda a minha caza ha de levar o mesmo caminho, a vista do que torno a pedir a vm apelicacão deste par ou seya pr via de denuncia ou como melhor se praticar naquelle santo tribunal pa o que se for necesro aprezentar esta minha carta vm o faça,
Frase s-11 e tambem se for necesro fazer algua despeza vm não duvide fazella que estarey pronpta a sua satisfacão com o primro avizo de vm pois o devo fazer asim não por odio nem pr vinganca mas prque o meu sintimto e a lembranssa do mto que padeceo meu marido me obriga a buscar o dezafogo da minha dor no castigo q o sto tribunal da inquizicão custuma dar a semelhante gte pa evitar esta peste das republicaz
Frase s-12 O par que o do meu marido tinha recomendado a vm de familiar do sto offo não sey se estara nos termoz de se continuar,
Frase s-13 eu dezejava q não ficacem as deligcas em pe quebrado por rezão dos dois meninoz que me ficarão
Frase s-14 porem como não sey os termos em que estava cazo que se possa findar com ellaz vm melhor aconcelhado o fassa
Frase s-15 e se pa isso não chegarem os 6tes rs que vm tinha recebido estou pronpta pa toda a mais despeza avizandome do estado em que fica este negco
Frase s-20 As cartas que vm me escrever venhão debayxo de capa de meu Pay o sr Manoel da Sylva Machado em cuja compa e de minha May fico com os meus dois meninoz.
Frase s-21 Meu Primo e sr A de sima he copia da que escrevy plo avizo e agora torno a repetir a mesma delegca significandolhe demais a vm o qto hey de estimar que esteja pessuindo huá felix saude
Frase s-22 eu ainda passo bem molestada
Frase s-23 Estou certa em q vm se não descuidara de me fazer o favor que na de sima pedy,
Frase s-24 e meu Pay recomenda a Jozeph Franco da Crus morador nessa cide no cazo de ser necesro algum dro asista com elle a ordem de vm ou do sr D Afonco Manoel de Menezes que com Rco de vmces sera satisfeito nesta a seu Irmão.
Frase s-25 A crioulla se acha ainda na cadeya e tem feito boa deligca pa sahir della, e o não tem conceguido athe o prezte
Frase s-26 neste par não ha pr hora mais novide que possa avizar a vm a qm apetesso todas as felicidades e pesso a Deos Gde a vm ms ans

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