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Maarten Janssen, 2014-

CARDS3047

1756. Carta não autógrafa de Rosa Maria Egipcíaca, escrava forra, a Pedro Rodrigues Arvelos, lavrador.

ResumoA autora gradece os queijos e uma água que vieram para os achaques do padre Francisco. Aproveita também para falar a Pedro Rodrigues Arvelos de assuntos devotos, pedindo-lhe ainda que destrua a carta depois de a ler.
Autor(es) Rosa Maria Egipcíaca
Destinatário(s) Pedro Rodrigues Arvelos            
De América, Brasil, Rio de Janeiro
Para S.l.
Contexto

Há três fontes documentais e uma monografia que permitem contextualizar a personagem histórica de Rosa Maria Egipcíaca, bem como o círculo em que se movia: trata-se dos processos 2901, 9065 e 18.078 da Inquisição de Lisboa, arquivados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, e uma monografia da autoria do antropólogo Luiz Mott (Mott, L. 1993. Rosa Egipcíaca, uma Santa Africana no Brasil. Bertrand Brasil). As pessoas envolvidas nos processos 2901 e 9065 enquanto réus são Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, escrava forra (natural da Costa de Ajudá, de etnia courã e residente no Brasil), o Padre Francisco Gonçalves Lopes (português, residente no Brasil) e o Padre João Baptista de Capo Fiume (italiano, residente no Brasil). Os primeiros dois conheceram-se em São João del Rei (Minas Gerais), ainda Rosa era escrava. Segundo o seu testemunho, em 1748 converteu-se à vida religiosa guiada pelo Padre Francisco Gonçalves Lopes e abandonou um passado de prostituição. Afirmou à Inquisição ter sentido “invasões espirituais malignas” e ter sido exorcizada pelo padre. Alguns acontecimentos foram contribuindo para a crescente má fama de Rosa e para a desconfiança das autoridades em relação a ela. Em 1749, numa igreja, estando Frei Luís de Peruggia a discursar, Rosa levantou-se e gritou algo sobre os demónios presentes no local, caindo depois no chão. Foi imediatamente exorcizada, mandada prender pelo bispo e açoitada no pelourinho da praça pública, episódio que a terá deixado paralisada do lado direito. Depois disso não havia quem a confessasse e Rosa pediu uma audiência ao bispo de Mariana para provar a sua sinceridade. Foram feitas provas de exorcismo na presença de vários sacerdotes, mas a escrava não conseguiu convencê-los de que estava possuída. Vendo o seu desespero, o padre Francisco Gonçalves Lopes convenceu Pedro Rodrigues Arvelos ‒ um lavrador amigo de ambos – a comprar Rosa à sua proprietária, e assim a escrava foi trocada por um “moleque”. Em 1751, Rosa e Francisco Gonçalves Lopes decidiram ir para o Rio de Janeiro, dada a sua fama de "velhaca" em Minas, e segundo o testemunho do Padre Filipe de Sousa, próximo dos réus, porque quiseram fugir a um possível julgamento de Rosa. Foram vivendo em casa de amigos do padre e a escrava mudou de nome, acrescentando-lhe "Maria Egipcíaca da Vera Cruz". Em 1751, Rosa aprendeu a escrever com Maria Teresa do Sacramento. Há dois documentos originais da sua letra nos processos da Inquisição, ao lado de muitos outros de que foi autora mental por os ter ditado à sua mestra de escrita. O seu director espiritual passou a ser Frei Agostinho. Em 1754, Rosa, o padre Francisco, frei Agostinho e alguns patrocinadores fundaram o Recolhimento de Nossa Senhora do Parto. O bispo do Rio de Janeiro, Dom António do Desterro, nomeou como primeira regente Maria Teresa do Sacramento (de 28 anos, natural de Lisboa), embora fosse Rosa a verdadeira responsável pela instituição. O Recolhimento seria destinado "a mulheres pecadoras que nos confessionários diziam que tinham ofendido a Deus por não terem casas para morar" (p. 42 do livro de Luiz Mott) e teve diversas recolhidas de várias idades. Maria Teresa não se sentiria como total regente, e, juntamente com Frei Agostinho cujos exorcismos não resultavam com Rosa, denunciou a africana ao bispo pelo seu comportamento estranho. Isto porque Rosa continuava com frequentes ataques e desmaios, chegando a agredir e maltratar quem estivesse por perto, necessitando de muitas atenções e diversos exorcismos, descritos por algumas testemunhas do processo inquisitorial. Frei Agostinho deixou de ser seu director espiritual, também por ter adoecido, e foram nomeadas outras pessoas para essa função. A fama de Rosa agravou-se também porque, estando numa igreja a assistir à missa, viu que estavam duas senhoras a conversar e avançou sobre elas. Destas duas pessoas, uma pertencia à elite do Rio de Janeiro (Dona Quitéria), o que fez com que, por ordem do bispo, Rosa fosse expulsa do Recolhimento de Nossa Senhora do Parto (1758). Dificilmente a ré se livraria da fama de embusteira, mas para que Rosa não recebesse nova sentença de açoites ‒ que teria, como escrava -, pediu a Pedro Rodrigues Arvelos a sua carta de alforria, e tornou-se liberta. Nos sete meses seguintes, Rosa viveu em casa de uma amiga, e depois na casa do padre Francisco Gonçalves Lopes, anexa ao Recolhimento. Entretanto, ficou como seu director espiritual Frei João Baptista, e durante este tempo Rosa disse ter a premonição de um dilúvio. Houve alguma expectativa em relação a esse acontecimento e, quando ele se deu, cresceu ainda mais a sua fama. Voltou a entrar para o Recolhimento sem explicação aparente (mas como na época o bispo estava doente, pode ter havido um aproveitamento da sua debilidade). No ano de 1759, as quatro filhas de Pedro Rodrigues Arvelos e Maria Teresa Arvelos entram para a instituição (Maria Jacinta, de 13 anos, Faustina, de 16, Genoveva, de 19, e Francisca Tomásia, de 11). Rosa era motivo de adoração, tal como as suas relíquias (dentes, sangue, cabelos, cartas, roupas e saliva, com que se faziam bolinhos para alívio das meninas que sentissem maus espíritos). Chegou-se a mandar fazer um retrato de Rosa para ser adorado na igreja, mas a Inquisição nunca o conseguiu encontrar. Já em 1762, a 22 de Janeiro, Dom António do Desterro pediu que Rosa e o padre Francisco Gonçalves Lopes fossem presos por culpas de heresia formal. Coube ao Promotor do Juízo Eclesiástico local, Dr. António José Correia, formalizar o auto de denúncia, levando a portaria a casa do Padre António José dos Reis Pereira de Castro (principal representante da Inquisição no Rio de Janeiro), que tinha sido já quem ordenara a sua anterior expulsão do Recolhimento. Não há indicação da causa de uma acusação formal repentina, mas, segundo Luiz Mott, seria por Frei Manuel da Encarnação ter sido eleito em 1761 vigário-geral, e ter sido ele um dos que pressionaram o bispo para que punisse Rosa na altura do incidente com Dona Quitéria. Ao todo foram ouvidos no Rio de Janeiro doze homens e sete mulheres, sendo o primeiro o Padre Francisco Gonçalves Lopes, que relatou episódios passados com a ré, mas sem a acusar. No entanto, a maior parte dos testemunhos foram incriminatórios e o comissário declarou haver fundamento para um mandado de prisão, que foi dado a 4 de Fevereiro de 1762. Mais nove testemunhas foram ouvidas até ao dia 13 do mesmo mês, também elas maioritariamente incriminatórias. No dia 20 começou o interrogatório a Rosa, e o padre acabou também por ser detido a 8 de Março do mesmo ano. No dia 6 de Março, Maria Teresa Arvelos apresentou-se ao inquisidor e entregou-lhe 55 cartas que ela e seu marido tinham recebido em São João del Rei (26 ditadas por Rosa, 22 do Padre, 4 de Maria Jacinta e 3 assinadas por Faustina, ambas filhas dos Arvelos), bem como um manuscrito que relatava algumas visões da ré. A 12 de Março foi a vez de seu marido se apresentar, procedimento comum na época, pois quem tivesse relação com um réu auto-incriminava-se, já que os arrependidos ou confessados podiam ter a condescendência do Tribunal do Santo Ofício. Rosa e Francisco Gonçalves Lopes estiveram presos durante um ano seguido à espera de ordens de Portugal. O único bem confiscado ao padre foi inexplicavelmente o seu escravo Brás, que por causa das acusações contra seu senhor também foi preso. Foi leiloado em Agosto, e do processo consta o "Auto de Arrematação do Mulato Sequestrado do Padre Francisco Gonçalves Lopes", que foi vendido por 510 réis. A 1 de Março de 1763, o escrivão deu os autos como conclusos, pois da parte da justiça do bispo já não se poderia actuar. A 29 de Março do mesmo ano, o Comissário António José dos Reis Pereira e Castro determinou a remessa dos presos para o Tribunal do Santo Ofício de Lisboa. As despesas da viagem foram pagas com o dinheiro conseguido com a venda do escravo Brás. Chegaram a Lisboa a 2 de Agosto de 1763 (a viagem terá demorado cerca de três meses) e foram encaminhados para os cárceres da Custódia. Foram revistados e o que confiscaram ao padre foi: uma caixa de tabaco velha de prata, um breve de marca com seu cordão, tudo em ouro, um garfo e colher de prata, 60 réis e um lenço com um embrulho de papéis. Ainda nesse dia foram transferidos para os Cárceres Secretos. A partir de 19 de Outubro, Rosa foi ouvida, mas o padre adoeceu, de modo que passou um ano até ser interrogado pela primeira vez. Na sala de audiências estariam o réu, os guardas que controlavam as saídas, um inquisidor e um notário. Rosa teve seis sessões de interrogatório muito espaçadas, que decorreram até 4 de Junho de 1765 (ano dos seus 45 anos) ficando sempre presa no cárcere inquisitorial. A Mesa pediu que todas as onze testemunhas do Brasil voltassem a ser inquiridas e que se encontrasse o terceiro réu do processo, Frei João Baptista de Capo Fiume. Mandou também que se procurasse o retrato de Rosa que era adorado no Rio. Quanto a Frei João Baptista, o familiar responsável disse ter procurado o sacerdote, mas os que o conheciam disseram que tinha voltado para Itália (terá falecido em 1786, em Bolonha, no seu convento, aos 74 anos). Quanto aos interrogatórios feitos ao padre Francisco, esses tiveram início a 29 de Março de 1764. O réu tentou desresponsabilizar-se alegando que tinha sido enganado por Rosa e pelo crédito de que ela auferia, enquanto santa, da parte de sacerdotes com posição hierárquica superior à sua. Entretanto, descreveu no processo as experiências vividas com aquela ré, chegando inclusivamente a relatar um episódio em que Rosa o terá tentado seduzir. A Mesa conclui que o réu seria culpado, suspendeu-o de confessor e de exorcista, obrigou-o a orações diárias e condenou-o a cinco anos de degredo em Castro Marim. Permitiu, no entanto, que continuasse a celebrar missa. A 24 de Março de 1766, o sacerdote partiu para o degredo, mas o facto de ter adoecido em Castro Marim levou a que lhe fosse autorizada a transferência para a sua Beira natal. O processo de Rosa ver-se-ia prejudicado pelas novas audiências às testemunhas do Brasil, na sua maioria desfavoráveis à sua libertação. Este processo termina com um escrito de Ana do Coração de Jesus (rapariga recolhida no Rio de Janeiro) com acrescentos ao seu depoimento.

O processo 18.078 consiste na minuta da certidão da fé de notários e auto de falecimento da ré Rosa Maria Egipcíaca e nele podeler-se: "Em o dia de hoje doze do prezente mez de outubro do prezente anno de mill setecentos e setenta e hum fomos ambos chamados aos carceres secretos desta inquizição e indo em companhia do guarda António Bapstista e dos digo que serve de Alcaide do Medico e mais guardas ao carcere da cozinha nella achamos hum corpo morto que reconhecemos ser da preta Roza Maria Egisiaca contheuda nestes auttos na qual se achava preza aqueles ditos Medico Alcaide guardas nos foi dito que ella tinha falecido de sua morte natural originada de varias molestias que padesia complicadas com achaques e que for a vezitada pelo nosso medico e cerurgião administrandoselhe varios remedios neçessarios para a dita enfermidade e recebera o sacramento dascensão de que se pasou esta certidão que asinamos em os ditos doze do corrente mez de 1771 Manoel Ferra. De [Mez.]".

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita no rosto e verso dos dois fólios.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 14316
Fólios 46r-47v
Transcrição Mariana Gomes
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Rita Marquilhas
Modernização Catarina Carvalheiro
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

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Jezus, Maria, Joze, Sta Anna e S Joaquim Rio de Janro e de Mço 20 de 1756

Meu mto querido sr Po Roiz Alvellos Primro e mais q tudo hey de mto mto estimar q estas achem a vmce e a ma snra Ma Thereza de jezus, e mas sras mossas todas com saude perfeita, e darme o gosto de o servir como dezo, e tenho obrigação, ao q não faltarey, e aqui me acho tão serta, como obrigda Os amantissimos Coraçõins de jezus, Ma, Joze Sta Anna, e S Joaquim assistam sempre nesta sua caza, e nos coraçõins de todos seus habitadores Meu sr Eu ouço, e vejo o q vmce me dis a respto dos 3 inimigos espero no mesmo sr q nos chamou, pois q somos chamados espero na sua summa bonde q sejamos escolhidos, e não sejamos, como muitos q forão chamados e não escolhidos, e elle como bom nos ha de dar forças e valor, e fortaleza pa vencermos a nossos contros commũns, e ao meu divino Menino Jezus da Porciuncula, vmce, e toda a sua familia se não descuidem de pedir instantemte q nos auxilios pa vecermos, e estes todos 3 ficarem prostrados, Pois elle he o nosso cappam valerozo pa nos ensinar, e sua snma May Ma snma da Piede, e seu Pay putativo o sr S Joze, e a Sra Sta Anna, e o Sr S Joaquim, de cuja Geração nasceo este Sr pella Linhajem da humanide Eu comfio en todos; Comfiem vmces tambem pois a Sra S Anna nos prometeo o seu secorro, e o Sr S Joaquim o seu ampo; Eu bem vejo ja e ouço q aqla trombeta divina, q nossas mimas andava huas vezes tocando e outras falando, ensinandonos com doutrina mais incuberta e ja vai chegando a ora de cumprir a Profecia, pois vmce ja a baste tempo tem nota: vmce não se desanime com este meu dizer: comfie sempre nelle e pesão a sua May Sanma da Piede q eu tambem lhe pesso, q nos faça soldados valerozos, firmes, e constantes; espero nella, q vmces sejão huns daquelles, q entrem pella porta da Féé, Esperança, e Caride por a mta Caride q vmces todos tem uzado e obram com esta sua escrava, a mais vil de todas: Bem vejo q tambem ameassa essas minas, principalmte as do Rio das mortes e a Cide de Mariana, dizendo q qdo se voltar, como vizitador geral das provinçias q tambem os ha de vizitar, porq elles tambem o asoutarão; com tudo isto não se desanime vmce, e comfie sempre nelle; sejamos perseverantes em pedir a sua misericordia devina q elle como sr, imflamado na caride e o zello, q tem da nossa Salvação, primro nos asoita, pa q não tenhamos desculpa dizendo q não sabiamos por isto faço a vmce esta pequena advertençia: O Reino de Portugal, q he nossa cabeça está castigado ja, e inda comtinuando nelle os amiassos: peçamos a Ds q o não acabe de destruir: suponho q os meus pecados são de tudo isto a cauza mais urgente: sempre he cazo, e novide digna de compaixam, e pa se sentir, pois elle como pay, esta asoutando os fos mais mimozos, pa o dipois entrar com Pa entrar com os rebeldes despois: sempre he Piede, q uza comnosco, em nos xamar e advertir; aqui fas comnosco, como fes com os 3 Apostolos no qdo esteve orando, a seu Eterno Pay pa remedio de nossa salvação e lhes oraçem com elle, e vigiacem, e qdo elle voltou da oracão primra segda e tercra sempre os achou dormindo, reprehendendoos com palavras severas, de seu divino lhes diçe q não dormicem, e q vigiaçem: este somno dos Apostolos, discipulos do Sr não era outra couza senão o somno, en q nos despois haviamos de ser no meyo de tantos beneficios mal comrrespondidos; tambem lhes diçe ao dormicem, e descançasem, porq o fo de Ma snma ja era chegado a nossa redempcam; mas era porq queria satisfazer ao Eterno Pe a divida q nos eramos devidores; por isso ja permitia o descansso, e agora ja não he asim porq então vinha somte a misericordia, e a Piede, e agora tambem vem, os em o coracam com a misericordia com a justiça; antão embainhou a espada e a meteu debaixo dos seus divinos pes, e a pizava, porem agora esta com ella desembainhada, e com escudo na mão dando ou mostrando o testemunho de peleja por isso qm se não quizer achar em semelhante batalha, nem dormindo acorde bulha, q elle esta fazendo, desde a Turquia athe Lxa, e ptes de Portugal pa acordar os q estão na America; se inthe agora puzerão duvida, ser os avizos mentira, lhes sirva a destruição de Lxa por testemunha, e forão as oraçõens de Ma Snma, e o Sr S joze e Sra Sta Anna, e Sr S Joaquim, o nosso Pe S Franco, e todos os mais santos, créyo, q nos todos ja não havia nota de nos estes nosso Protetores, E Oradores, he q mandão acordar inda ca a America vmce se não desacidem da devocam dos coraçoens; comfio nelles, q qm nelles comfiar não ha de padecer, antes ha de viver no corpo, e na alma: A S Snma Irmde nos valha por qm he: O Fogo do Amor de Ds arda em nossos coraçõens, nos esforço, e claride, Eu não fizera vmce estas advertencias, se ainda estivesse oculto mas vejo q está ja manifesta a justiça do sr na terra: Eu sempre tive por infalivel haver na terra novide porq a justiça mayor estava na terra, comendo, bebendo comnosco falando, e eu sempre dizia q acordaçemos q não dormissemos, e tambem dizia q era embaixador, q trazia embaixada pa bem de nossas almas; por essa cauza, nem eu, nem vmce, nem os mais não teremos desculpa, porq pa nos he q foi mayor miziricordia destes divinos Coraçoens, e despois de girar, e correr essas mimas, veyo de corrido dizendo q os homẽns das minas ocorrerão, E eu q sou participte destas notas, agora como ficarei com estas notas de novo: Comfeço a meu sr, q estou com tão gde Susto, q não sei q faça, porq se castigou o Reyno de Portugal a qm elle chamou seu amado q fara a America, a qm elle chama seu contro mas com tudo isto sempre elle he piedozo, pois na America, he q nos deu o seu coração, pa nos ensinar q sempre Deos fas bem a qm lhe fas mal Aprendemos com este divino Mestre a sua divina Lição; pa este fim, ore vmce tambem por este povo incredulo, q eu inda q Limitada tambem faco o mesmo; porq sou fraca, por isso pesso a vmces ajuda pa o fazer, porq Ds foi servido darme a vmces por companhros na Crus. Enqto o pedirme vmce q ore eu por essa caza não o tenho, nem faço por obrigação he por justiça; se o sr aseitar as mas fracas oraçoens, asim como o sam, sempre imploro, e ponho nas maons da Virgem Snma da Piede primro, q as offereça, as aperfeicõe porq como ella he may de misericordia e may compaçiva, eu me chego pa ella com mais comfiança pello temor q tenho de seu bendito fo porq elle he sr, e he mto bravo; aquella espada divina q tem nas maons, de hua pte está a misericordia, e da outra a justiça, e eu como sou devidora a divina justiça, temo q caya sobre mim, e por isso me valho da sra porq não tem espada, e dos s S Joze a sra sta Anna, e sr s Joaquim; porq estes, como sam da nossa natureza, sempre sam mais compadeçidos de nós: Tambem creyo por q o sr tomou a nossa natureza. esta he a pte da miziricordia, q está na espada, por Compaixam, q de nós tem: athe aqui me calo, e não digo mais nada; so lhes peço, q Orem, e façam da sua pte o q puderem. Eu ca proguntei ao meu Pe Fr Agostinho se queria mais agoa, diçeme q não, não sei se he porq, todos desta cide estão com o temor, e elles com espicialide porq sempre Ouvi dizer, q qdo vires as barbas de teu vezinho arder, bota as tuas de remolho; nosso sr permita infundir en todos os coraçoins de todo o seu povo a Virtude do seu santo temor: Andarão aqui com preçes, e agora as repetem outra ves depois q com individuacão ja tem vindo noticia da infalivel Ruina suçedida em Lxa, em todo o Reyno, e no dos infieis; No q respta a moça, em q vmce fala, se a vocacam he firme e não fingida, q venha, pois ja ha Licença pa a aseitar, e se não tiver onde se recolha, a terey junto comigo, e mais se ma companhra se quizer acolher a esta Arça, na mesma ocaziam, se pode comduzir tambem: Ca receby os queijos, de q mto lhe rendo a vmce, e a ma sra as graças pla lembrança q tem de qm talves se descuidará de suas Lembranças, e lhes digo, q se não emmendem de os mandar se deus nos deixar viver; e a garrafa ca não chegou: a ma sra D Ilena, e Thareza de Franco Pera mas saudades, q me emcommendem a deus, e ao sr Andre franco da ma sorte o faço e q mto lhes agradeço a lembranca, q de mim tem, de q Deus lhes dará o pago, e q lhe mando o seu breve pello portador Joze coelho, q entendo, o ha de entregar: sem q vmce me Lembraçe na sua ca tenho procurado sempre saber da sua cauza, e agora de prezente se dis, como entendo, o meu Pe avizara a vmce e elle tambem mo diçe, segurou o Menistro agora nesta semana, q vem a despachala, e o seu Procurador, tambem tem tido baste deligca, e por amor das ferias não está ja corrente: aseite vmce e todas essas mas sras lembranças continuas de meu afecto, e destas companhras mas deste Recolhimto, q todas o fazem a vmce com espicialide, e ca senpre o recommendamos aos amantissimos Coraçõins, e demais não serve, ma saudes a todos os mais tamto de caza, como os q por mim preguntarem Deus gde a vmce ms anns etc era ut supra

De sua escrava inutil e cra obrigdma Roza Ma Egipciaça de Vera Crus

Rogolhes mto a vmces sejam devotos da sra sta Emerençiana may da sra sta Anna, e de S Esteláno seu Pay de sta Anna; e de sta Getrudes. S João Bapta, e do Evangelista o irmão. Joze das barbas mui sentido por vmce se não Lembrar dele sequer com hua saudade, e lhe emvia suas saudes etc

Meu Pe e Pay spiritual e fr Agostinho mto mto se Recomenda a vmce com saudades, e Lembranças, e lhe agradeçe a vmce o cuido, e mimo q lhe fes da agoa, q vmce lhe enViou, e inda lhe dura da q lhe veyo: elle anda sempre com o seu achaque Labutando aliviado, ora cortindo as pensõens; q lhe cauzão o mesmo chaque, mas de toda a sorte se offerece mto a sua vonte de vmce, e disseme, q por ora não queria mais da agoa, e q na ocaziam lhe não escreve a vmce plas mtas ocupaçoens, em q Lida, e ser tempo da s corentena, e não ha tempo pa mais q apenas pa o repouzo da vida, porq aqui agora tudo são missõens, e porcissõens, mas sempre roga a vmce lhe perdoe, e haja esta por sua, como se elle mesmo a escrevera: E eu sua escrava de vmce quero fazerlhe hua pam, q entendo, vmce não caresse desta ma advertençia: Despois q vmce Ler esta ma carta, plo amor de Ds lhe pesso, q a queime, e bassta q somte vmce, e ma sra a veja, e a leyam, e veya q lho deixo a seu cargo, e encargo, se não der execucão, como lhe pesso, e não comvem, q o saibam todos, inda ll os demais comfidencia de vmce, excepto ma sra q a ella pode vmce somte mostrala, ou Lerlha. etc aseite Lcas de meu Pe Frco, e de Mel gomes heremitão:


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