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Maarten Janssen, 2014-

CARDS2050

[1730]. Carta de Joana da Trindade para a sua avó.

ResumoA autora conta à sua avó pormenores do envolvimento amoroso de uma ama, empregada pela avó, com um padre.
Autor(es) Joana da Trindade
Destinatário(s) Anónima8            
De Portugal, Lisboa
Para S.l.
Contexto

Esta carta faz parte do processo do padre Diogo Mendes, acusado de solicitação. Ao que parece, um Esténio António Gonçalves Botelho, contador dos contos das sereníssimas casas de Bragança e do Infantado, de setenta anos de idade, e sua mulher, dona Luzia Maria de Almeida Juitlim, moradores por cima da Igreja dos Anjos, fizeram queixa de que havia quatro anos que tinham em sua casa uma mulher de nome Mariana da Silva, do lugar da Ota e nele casada com José Marques surrador, a qual, depois de lhe fazer a criação de um filho, os persuadiu a deixarem-na ficar em casa a título de criada alegando que não estaria bem com o seu marido. Depois disso, a dita ama Mariana da Silva tomou-se de amores por um padre novo de nome Diogo Mendes, capelão de João da Silva, governador, e só com ele se queria confessar, levantando assim a suspeita de algum envolvimento entre ambos. A autora da carta, Joana da Trindade, veio a saber de todo o acontecido porque os delatantes deram alforria à escrava Josefa Maria, e esta, nos primeiros tempos de liberdade, foi viver para o convento do Salvador. Nesse convento encontravam-se as duas sobrinhas dos delatantes, a autora da carta e a sua irmã Margarida, ambas freiras. A escrava que acompanhava sempre a dita Mariana da Silva acabou por confessar tudo o que presenciou quando ia com ela à Igreja. Sobre o frasco (vidro) de água que alegadamente a acusada levou para oferecer ao padre, disse que apenas o teria oferecido no ato da confissão. Do processo não consta nenhuma sentença.

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Suporte meia folha de papel não dobrada, escrita em ambos as faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa, Cadernos do Promotor
Cota arquivística Livro 293 (Caderno 100)
Fólios [144]r-v
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Mariana Gomes
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Fernanda Pratas
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

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Minha avo E ma Snra

sinto a morer as couzas q Vm dis no seu Escrito pois pudia fiar de mim q mais avia punir pelo q lhe toqua do q por criadas Emfim adiente q a minha furtuna he galante Esta mosa dis q se Vm soubera o q he Esa ama lhe não avia por culpa nenhuma que Ela dizelo a ama do ser Anto Garadas hera pa q Ela lho disese Esta qua se não atrevia a dizelo q Em huã ocazião Em caza qdo la Estavão todos lhe teve Ela a chave da sua arca Escondida mtos dias como Vm soube a qual chave servia num caxamzinho da snra D theodora E huã ocazião a fui achar com Ele aberto E lhe tirou hum corno de agevixe de tremolas E eu lhe dise não bulise Em couza nenhuma q se lhe tirase algua couza se avia achar menos, qdo Vm as mandou aos capuxos a via sacra Estando Elas de joelhos la dentro se ergeo ela E lhe falou E ele lhe dise viese pa fora q dentro na Igra se não falava E ela veio pa fora E lhe falou fora todo o tempo q ela quis E lhe dise lhe queria mto q Ele a tinha Emfeitisado q Emqto ele Estivese Em Lxa se não avia ela hir Embora E se confesava a ele todas as vezes q Vm a mandava a Igra sem Vm o saber E o q mais Ela não hovio q Ela dise mtas vezes queria fugir Com ele Eu lhe dise hera isso tentasão do demonio a agoa de cordova duas vezes a levou a Igra pa lha dar deu lha dentro no Confesunario E num dia de são João q Vm a mandou ao recio ver as capelas com a preta o qual pe Emcontrou la E veio a falar com ele todo o Caminho e tempo q Ela quis E tão Emlevada deixou perder a perta E o dipois andou douda por ela E a preta a chorar E a foi achar na rua dos canos E numa ocazião Estando Elala E Vm em caza pasou Ele pelo rego E ela lhe queria abir a porta do quintal para Ele Emtrar pa dentro pa lhe lhe falar na Esquada Eu lhe dise me não metia com iso q ao Depois o não queria pagar se ela o fizese Eu navia dizer a snr E ela se retirou não fes mas na Igra lhe falava todas as vezes q la hia, o corno de agevixe me deu Ela a mim E me dise se me perguntasem q mo dera disese Eu o troxera de alcobasa E lhe tirou hum rotario de contas brancas com corola de prata E o q mais Eu não sey E ela me dise falava as mais das noites Com o Moxila de Lourenço Caetano da ginela da camara E ele lhe deu os dois pentes de tataruga q ela me Emprestou qdo vim E por Vm não saber os deu ela a seu Irmão as Escondidas pa q lhos dese a ela diente de Vm dizendo q Ele lhos dava E lhe deu hum lenso de canbraia E lhe deu hum Coarto de ouro q Ela gastou na nazare qdo la foi E lhe dava tudo pela ginela E ela he q me dezencaminhava pa q Eu não fose a Vm homilde porq dezia q qdo a gente se mostrava a Vm homilde antão Estava Vm pior E q tudo he a mesma verdade q se ela lhe levanta algum testemunho q ela lho não perdoi E lhe dise tudo de Izabel logo qdo Ela veio de alcobasa E defamou a sua caza de sorte q Ela o não pudia Cer dise q suas mces Estavão tão pobres q Estavão devendo as orelhas E venderão as cazas pa se remediarem E quada ora lhe vinhão os devedores a porta E q o ser respondia não tinha com q pagar o q Eu achei tudo mentira Eu detremino ter sedo grade q ja a pedia mas diseme a me pra me daria a reposta Em ma dando logo avizo a Vm q nela lhe dira o mais mas q a ama foi o demonio q com ela se meteu q se ela não fora tanto sua alcoviteira não ficara Ela tão culpada mas q agora lhe peza não dizer tudo a Vm q todas as noites tirava a Vm as chaves debaixo da cabiseira pa lhe revolver tudo qto Vm tinha Eu não falei com niguem q Ela se mo alevanta Ds sabe a verdade q na caza de Vm nunqua tive Esa ofoiteza pa a grade fica mais q he o q pude saber Ds me gde a Vm ms ans

Neta E serva de Vm Joanna

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