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Maarten Janssen, 2014-

PSCR0383

[1623]. Carta de Bento Barbosa, homem do mar, para a sua mulher, Ana Lopes, lavadeira.

ResumoO autor dá notícias à sua mulher dizendo encontrar-se bem e informando-a de que não regressará a casa nos tempos próximos.
Autor(es) Bento Barbosa
Destinatário(s) Ana Lopes            
De Índia, Malaca
Para Portugal, Lisboa
Contexto

A ré deste processo é Ana Lopes, que se apresentou à Inquisição de Lisboa a 29 de agosto de 1623 para admitir culpas de bigamia. Contou que havia 12 anos se tinha casado com Bento Barbosa na igreja da Vitória, em Lisboa, e viveram como marido e mulher por dois anos, nascendo desse casamento uma criança, que entretanto faleceu. Ao fim desses dois anos, o marido embarcou para a Índia e ela apenas recebeu dele uma carta, dois anos depois de ele se ter ausentado. Não voltou a ter notícias dele. Dizia nesse escrito (PSCR0382) que a nau em que fora, chamada Guadalupe, dera à costa e que nesse acidente ele tinha ficado muito doente. Não tendo Ana Lopes mais notícias, veio a considerar que o marido estava morto e, por lho assim aconselharem muitas pessoas, tirou o luto e decidiu casar de novo. Oito meses antes de se apresentar à Inquisição tinha então casado, na mesma igreja da Vitória, com Varão Gonçalves, sapateiro, natural do Campo de Coimbra. À data do casamento, Varão Gonçalves foi buscar testemunhas em como Bento Barbosa era falecido, para as apresentar junto do juiz dos casamentos, algumas delas atestando ter Bento Barbosa falecido no hospital de Goa. O juiz dos casamentos deu-lhes licença para casar e Ana Lopes apenas teve de jurar perante o padre que tinha o primeiro marido por morto e que nunca mais tivera novas dele. A 15 de agosto de 1623, estando casados e vivendo maritalmente havia oito meses, recebera Ana Lopes duas cartas do primeiro marido (PSCR0383 e PSCR0384), vindas de Goa por via de uma naveta que estava na ilha Terceira. Logo que recebeu as cartas, reconhecendo nelas a letra e algumas palavras que o primeiro marido costumava usar, entendeu-as por verdadeiras, afastando-se do segundo marido e mostrando-lhe os escritos do primeiro. Também por isso, admitiu as suas culpas de bigamia perante a Inquisição. Ficou com termo de identidade e residência, tendo de se apresentar à Mesa todas as segundas-feiras às sete horas da manhã. Após o interrogatório à ré, o processo terminou com um último certificado de notário, dizendo que em nenhum dos livros de casamentos se encontrava Ana Lopes como casada, nem com Bento Barbosa nem com Varão Gonçalves. As cartas constam do processo como prova da sua culpa, mas após o documento do notário não há mais dados sobre o seu destino.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita no rosto do primeiro fólio e nas duas faces do segundo
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 13009
Fólios 12r, 13r-v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2313217
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcrição Mariana Gomes
Revisão principal Catarina Carvalheiro
Contextualização Mariana Gomes
Modernização Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2015

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pa ver ana lophes q deos goarde

Foi deos servido q me a tornace a emcontrar cöm meu matulote antonio da crus pa me dar cõnta de vos e da vosa vida do q foi pa mim grande alegria saber q vos heras biva e q estavas ẽm caza de voso padrinho na fãncaria do q muito folguei de vos estares tãm bem aguazalhada e recolhida em caza do sr antonio roz ja me esquece o nome dessas cehoras não q me esqueca de ser seu criado como sempre fui ja me terão em pouca cömta q não faco como ce de min esperaba mas a ma fertuna não me deixa dar boa conta de minha pesoa porq ja tinha pa guanhar minha vida foi deos servido q me ficase anda tenho me por muito ditozo ficar cön a vida porq me tem deos feito muitas merces por ter empreguo ja feito pa o macaca me não venho este ano pa deante dos vosos olhos mas q a sete oito anos esta esperando pa tän pouco tämbem pode esperar q cönfio na virgẽm do rozario q ela me a de trazer diante dos vosos olhos algum dia pa servir a deos e a cenhoras nosas pode ser q venha mais depreca q vosas merces cuidão a min me dice meu matolote q vos lhe davas des mil reis pa me embarcar pa o reino folguei me não mundaces nada q não me falta e a deos louvado nada tendo saude porq me tẽm feito o filho do capitão de sãn boavintura muitas merces as quarsi lhe agardeco pouco porq tem obrigão esta escrevi e malaca Chegando da China a bom salvamento ai inda q tomarão os olandezes da minha conpanhia coatro navios e eu tambem escapei dou muitas gracas a deos porq me tem feito muitas merces o q me detem q não venha pa minha caza he hũa hembarcacão q hia pa o japão e nela arisquei por tudo q tinha de meu pode cer q me diliberẽ ao largar aos japois q ja estou muito emfadar ja demazaziado e estimo deste voso marido

bento barboza

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