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Covo, excerto 11

LocalidadeCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Arquibaldo

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[1]
Foi a [vocalização] Foi para a tropa –
[2]
assentou praça em Aveiro,
[3]
lá foi para Viseu…
[4]
Olhe, quando arrebentou aquilo lá na Angola,
[5]
INF estava ele mobilizado para lá.
[6]
Estava ele mobilizado já para lá.
[7]
E eu arranjei com uma senhora em Viseu, [pausa] a senhora Berenice,
[8]
[pausa] e ele mandou-me uma carta…
[9]
Naquele tempo nem havia telefone,
[10]
nem havia nada,
[11]
e ele que me mandou uma carta:
[12]
"Pai, venha-se [vocalização] venha-se despedir de mim,
[13]
que eu vou [pausa] segunda-feira"…
[14]
Isto foi numa sexta-feira.
[15]
"Que eu segunda-feira vou para a vou para fora,
[16]
vou para a Angola".
[17]
Ai, meu Deus!
[18]
Só aquele filho!
[19]
Agora é que ela está…
[20]
Bem, e aqui n- no povo quan-…
[21]
Eu tenho dois dias de água durante a semana.
[22]
Dois dias de água.
[23]
Mas naqueles dias de água, ninguém vê rega um talhadoiro de água senão eu.
[24]
Naqueles dois dias, a água é só minha!
[25]
Ninguém Ninguém vai regar.
[26]
A água [pausa] é toda minha.
[27]
Olhe, quer ver,
[28]
e eu fui:
[29]
[pausa] "Ai, isso agora como é que vai ser"?
[30]
Mas o pedido dele, do meu filho, era um padre que havia em Manhouce, que é o padre Artur,
[31]
era primo do Governo Civil de Viseu.
[32]
INF E eu fui,
[33]
mandei a minha mulher,
[34]
disse: "Vai já,
[35]
já, já, já, vai vai ao [vocalização] a Manhouce
[36]
e vai ter com o padre
[37]
e diz ao padre que vá para Viseu, que o moço que vai embora" –
[38]
isto foi numa sexta-feira –,
[39]
"que segunda-feira que ele que vai embora.
[40]
Que eu, [pausa] acabo de regar esta água"…
[41]
E fui por aqui abaixo,
[42]
fui a Padruça,
[43]
passei à ponte de Teixeira…
[44]
Ah, eu a chegar à ponte de Teixeira e a camioneta a chegar;
[45]
se eu demorava um bocadito, até urinar, já não já não apanhava a camioneta.
[46]
INF Todo molhadinho!
[47]
Cheguei lá,
[48]
entrei para dentro da carreira,
[49]
lá fui para Viseu.
[50]
Cheguei a Viseu,
[51]
[pausa] fui ao quartel.
[52]
Eu a chegar ao quartel e o padre e o Governo Civil a sair do quartel para fora.
[53]
Saíram do quartel para fora,
[54]
digo eu assim: "Ó senhor abade, então"?
[55]
Diz ele: "Ó Arquibaldo, [pausa] já ninguém acode ao teu filho"!
[56]
O Governo saiu,
[57]
esse não me ligou nada;
[58]
caminhou lá o caminho dele
[59]
e o padre ficou, a conversar mais eu:
[60]
"Olha que ninguém acode ao teu filho.
[61]
Vai
[62]
e vai mesmo!
[63]
Mas que há-des tu fazer?!
[64]
Tem que se confortar"… e tal, tal.
[65]
Aquelas conversas a mim não, não não gostava delas.
[66]
Pois claro.
[67]
INF Depois eu vou assim: "Ai, agora como é que me aca- acabam de vez com ele"!
[68]
Digo eu assim…
[69]
Olhe que eram quatro horas
[70]
e eu em jejum.
[71]
Quatro horas da tarde, [pausa] ali em Agosto,
[72]
e eu em jejum!
[73]
Ai Jesus!
[74]
Digo assim: "Ó senhor abade, eu quero comer".
[75]
Diz ele: "Olha que eu também estou só com o café".
[76]
"Então vamos lá,
[77]
vamos comer".
[78]
Por sorte, entramos assim,
[79]
só atravessava-se uma rua,
[80]
e estava ali um restaurantezito, um uma coisa mais [pausa] pobre.
[81]
Estava ali.
[82]
Estava Veio ali uma rapariga muito linda servir-nos.
[83]
E eu disse para ela assim: "Olha lá, tu não sabes aqui quem é que em Viseu pode dar um jeito a um rapaz [vocalização] que está para ir para fora
[84]
e esse homem é é o único filho
[85]
e e se ele vai embora, que há-de ser de mim e da minha mulher"?
[86]
Diz ela assim: "Olhe",
[87]
chegou-se,
[88]
agachou-se assim [vocalização] –
[89]
o padre estava dacolá [pausa] da mesa
[90]
e eu estava aqui –,
[91]
ela [vocalização] chegou-se a mim:
[92]
"Olhe, tem aqui uma senhora, que é a senhora Berenice,
[93]
se essa não lhe valer, não vejo quem é que lhe vaila".
[94]
Digo eu assim: "E onde é que ela mora"?
[95]
"Olhe, você vê aquela porta –
[96]
enviscou-se assim um bocadinho –,
[97]
olhe, aquela porta, você vá p- àquela porta
[98]
e assuba.
[99]
No segundo andar, à direita, ela mora lá".
[100]
Digo eu assim para o padre: "Ó senhor abade, vá lá.

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