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Bandeiras, excerto 8
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INF Mas eu não trabalho efectiva.
Trabalho só durante o Verão.
Trabalhamos em em albacória,
traba- em bonito, em chicharro – [pausa] estes peixinhos assim –, cavala.
[pausa] É nos peixinhos que vai aparecendo [pausa] é que nós trabalhamos.
INF Olhe, minha senhora, ainda a semana passada ainda recebi o meu chequezinho.
Fui lá quatro bocadinhos,
já não foi dias por em cheio porque faltou óleo,
mas ainda recebi novecentos e [vocalização] tal escudos, perto de mil.
Ele eles queriam que eu entrasse de efectiva,
mas eu não pude entrar de efectiva porque eu sou sozinha e também gosto…
é preciso fazer almoço e jantar e ceia
e agora de Inverno os dias são muito pequeninos.
As manhãs não dá para fazer o serviço para se poder caminhar;
e também a gente, à noite, já chegamos escuro,
Já basta se ir trabalhando assim nesta época do Verão.
INF Há-de trabalhar talvez para umas trezentas mulheres.
Tem uma uma parte delas, talvez aí para umas vinte cinco, vinte cinco a trinta, efectivas.
Umas a bater latas, outras a enroupar latas, outras a fazer os caixotes para [vocalização] fazerem o embarque, [vocalização] outras na latoaria a fazer lata de Inverno para se poder trabalhar de Verão.
Tem uma parte dos homens também que trabalham, porque aqui isso já acaba agora esta época,
mas engeiram-se daqueles carris, daquelas coisas, a limparem aquelas ferrugens para chegar outra vez para o Verão, aquilo estar tudo oleado, estar tudo em ordem, e poderem mexerem no peixe.
[vocalização] Quer dizer, dá sempre que fazer para umas certas pessoas todo o ano.
INF Eu sou Eu sou mesmo daqui da das Bandeiras.
A senhora também é daqui do Pico?
INF A senhora é do continente?!
Eu tenho uma cunhada minha que é na [pausa] em Amadora.
INF Mas ela agora está para a França.
Tiveram aqui há dois anos.
[pausa] Mas estão bem lá, à conta de Deus.
[pausa] Eu então agora já estou velha para viajar.
Risos Já agora paro por aqui.
INF Tenho uma miúda com dez anos.
INF Tem dez anos, a miúda.
INF Eu já tenho quarenta e seis.
Quarenta e seis, já estou muito ruça.
INF Tenho quarenta e seis,
o meu marido tem cinquenta;
e tenho uma miudinha com dez.
Já quando ela nasceu, ia fazer dezassete anos que eu estava casada.
Já não se fazia conta disso.
Mas eu , eu aborreço-me com ela, às vezes, porque ela é assim viva – viva ou esperta!
Ele a gente diz uma coisa
ou manda-se um mandalete,
Não se há-de dizer uma coisa, se ela não é criança esquecida!
Se lhe eu disser: "Olha, tu vai ao botequim
e compra-me isto e isto assim"…
E sabe muito bem fazer as suas contas ao dinheiro.
uma pessoa aborrecida com o trabalho não tem pachorra.
E eu agora outro dia, fui assim: "Ó Carla, cala-te!
E olhe a senhora que eu depois fiquei tanto preocupada!
Chegou-se à tarde, ao fim do turno da manhã,
como é eu não ser do tempo"?
E eu queria dizer que ela já tinha vindo tarde e que já não tinha pachorra.
E eu fiquei depois tan- tanto surpreendida em ter respos- respostas indecentes, que eles não têm culpa, não é verdade!
Pois eu tenho andado também com um cheirinho de gripe,
estou meia rouca, constipada.
Depois foi-me para a garganta.
INF Então a senhora veio dar uma volta por aí abaixo, então!
Ver estes nossos picos, estas pedras negras e estes matinhos verdes.
INF A gente, às ve-, não acha, aqui isto.
INF Há pessoas que vêm daí de fora que acham muito graça neste meiozinho – aquilo e essa coisa –;
a gente vive aqui entre matos e pedras.
INF Agora é verdade que há umas hortinhas aí, que a gente tem sempre as nossas hortaliças,
INF Já nesses mundos deles, é preciso eles irem todos os dias ao mercado,
é preciso haver dinheiro grosso.
E a gente já aqui, é os nossos nabos,
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