Representação em frases

Sapeira, excerto 10

LocalidadeSapeira (Castelo de Vide, Portalegre)
AssuntoA ceifa, a debulha e a desfolhada
Informante(s) Alberto

Texto: -

[1]
INF Por causa do vento.
[2]
Porque, numa cova, nunca há tanto vento como há num cabeço, quando é no Verão.
[3]
INF E não… E é, e é- E é uma coisa:
[4]
numa cova, por exemplos, ne- nesta cova, aqui onde nós estamos, [vocalização] se o vento viesse dali que batesse numa erva ali do outro lado, voltava para trás e não e não era certo – não era aquele vento certo sempre a passar.
[5]
E num cabeço, não tendo nada que lhe fizesse mal, o vento estava sempre certinho, sempre a passar;
[6]
e limpava-se com mais facilidade.
[7]
INF A desempalheirar.
[8]
E em depois, é padejar.
[9]
A desempalheirar, é só palha.
[10]
É que quando está a [vocalização] palha juntamente com o grão, aven-, aventa- aventa-se ao ar – não é? – e a palha vai para um lado e o grão vai para outro.
[11]
Até mesmo aquilo tem um jeito para desempalheirar.
[12]
A gente tem que rodar este pulso, conforme é cada um:
[13]
alguns pegam [pausa] em baixo com a mão direita;
[14]
outros pegam com a mão esquerda.
[15]
Eu, por acaso, era com a mão esquerda cá em baixo.
[16]
E a gente dava assim o jeito ao pulso para para ir o [vocalização] trigo para um lado – ou o grão para um lado – e a palha para outro.
[17]
E em depois abalava com o vento.
[18]
E aquilo era passado muitas vezes;
[19]
aquilo não era logo à primeira vez.
[20]
Aquilo ia passando.
[21]
Por exemplos, a gente começava aqui a desempalheirar
[22]
e a palha ia sair aí quatro metros ou cinco mais à frente para ir-se passando, passando, até que em depois o grão ia ficando todo para trás.
[23]
Quando aquilo já estava a palha toda tirada, a gente agarrava numa numa giesta – um bocado de giesta; chamava-se uma conha – e aconhava por cima.
[24]
Tirava-lhe as palhas todas por cima.
[25]
E em depois, então, ficava só aquela moinha;
[26]
juntava-se num monte
[27]
e atirava-se ao ar.
[28]
Isso chamava-se padejar.
[29]
Era já com uma pá de madeira, [pausa] com uma pá de madeira.
[30]
Chamava-se padejar,
[31]
ou para cima duns toldos de de linhagem [vocalização] ou mesmo até para o chão.
[32]
INF Como?
[33]
INF Dentro, havia Havia as tulhas;
[34]
chamavam-se-lhe tulhas.
[35]
INF Fei-, feitas em Feitas em…
[36]
[vocalização] Algumas era em madeira
[37]
e outras era mesmo uma casa feita com com pedra e [vocalização] cal, gu- bem guarnecida em ar de não entrar lá assim muita humidade
[38]
e [vocalização] guardava-se ali o [vocalização] grão;
[39]
chamava-se tulhas.
[40]
Mas as de madeira eram melhores porque não apanhava tanta humidade.
[41]
INF Até outras vezes, dentro de sacos, não é?
[42]
Aquilo também se enchia.
[43]
Também se enchia sacos
[44]
e punham.
[45]
Nós cá, por acaso, cá no tempo dos meus pais, era tudo cheio de sacos.
[46]
Sacos grandes!
[47]
Punha-se aquilo;
[48]
havia uns sacos mesmo grandes que levavam aí…
[49]
[pausa] Muito!
[50]
Levavam aí seiscentos quilos ou mais.
[51]
E de forma que a gente punha aquilo assim à roda das paredes
[52]
e enchia-se aquela coisa.

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