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Castelo de Vide, excerto 35

LocalidadeCastelo de Vide (Castelo de Vide, Portalegre)
AssuntoO carpinteiro
Informante(s) Albino

Text: -

[1]
INF Bem, e depois, [pausa] meu pai faleceu, tinha eu treze anos.
[2]
E [vocalização] E então, daí, [vocalização] deu-se o caso [vocalização],
[3]
é claro, arrumei-me então à arte.
[4]
Digo assim:
[5]
"Bem, isto já não dá nada o campo, também".
[6]
Arrumei-me à arte.
[7]
Trabalhava, então, ali numa quinta do prado, ali em baixo.
[8]
Trabalhei ali, à roda dos vinte anos, lá.
[9]
Fazia um biscatito assim nos domingos, cá em casa,
[10]
mas o mais trabalhava ali, assim de jorna.
[11]
E depois então acabei por pôr loja por minha conta, até à data de hoje.
[12]
Faço [vocalização] cinquenta e sete [pausa] no dia quatorze de Junho.
[13]
Portanto, enfim, cá estamos.
[14]
E isto [vocalização] já se sabe.
[15]
E então [vocalização], é claro, isto aqui é cla- apanha um meio muito grande – ainda é o que vale –, porque só o concelho [pausa] não me governava.
[16]
Apanha então o concelho de Marvão, aqui o concelho de Portalegre
[17]
e [vocalização] vêm nas camionetas, no- nos tractores
[18]
e trazem o serviço aqui.
[19]
E então [vocalização] aqui vou fazendo [pausa] aquilo que posso.
[20]
O que não posso, é claro, [vocalização] digo logo que não posso;
[21]
mas, enfim, cá se vai a gente andando.
[22]
E [vocalização] E, enfim, é claro, os meus pais, coitados…
[23]
É claro, naquela altura, no melhor, o meu pai faltou-me.
[24]
E depois, nós éramos quatro irmãos
[25]
[pausa] e [vocalização] ficámos só com minha mãe.
[26]
E eu, como sendo o mais velho, é q- é que fui sempre o mais escravo.
[27]
Mas, [vocalização] enfim, até à data de hoje não estou repeso.
[28]
Tenho trabalhado muito;
[29]
mas [vocalização] a gente, em tendo saúde, o trabalho não mata ninguém.
[30]
Até ainda a gente anda melhor, não é?
[31]
E é assim.
[32]
O mais, pronto, [vocalização] é claro!
[33]
Agora [vocalização], [vocalização] a questão de [vocalização], assim, de [vocalização] [pausa] disto das carroças tem um problema, por exemplo, a gente disto das ferragens…
[34]
Eu tenho é agora uma umas rodas novas para fazer
[35]
e as ferragens não há maneira de virem.
[36]
Estou farto de apitar o mesmo que me fornecia para cá.
[37]
Pois, às vezes, podia ser [vocalização] a falta de dinheiro, ou coisa, ou tal.
[38]
Não senhora!
[39]
Quer dizer, é aquela [vocalização] maneira dos tipos não, não se não se torcem.
[40]
Quer-se dizer, em não sendo coisas assim de grandes quantidades, coisas pequenas não ligam.
[41]
E em depois, pronto.
[42]
Eu acabei.
[43]
Não tinha [vocalização] aparelho de soldar.
[44]
Não o tenho aqui porque a casita é muito pequenina.
[45]
Tenho ali no no meu rés-do-chão, [pausa] e uma máquina onde estão, uma maquinetazita onde…
[46]
Por exemplo, isto agora, [pausa] vou fazer umas portas – agora afracou aí um bocado o serviço e [vocalização] eu [vocalização] tomei esse compromisso –, umas portas aqui para um vizinho.
[47]
E então, agora, é o que vou fazer, umas portas em castanho.
[48]
E [vocalização] E assim se vai levando.
[49]
Mas, quer dizer, na tal maquinazita, dá-me para aparelhar isto.
[50]
Agora corto isto nos comprimentos
[51]
e vou lá;
[52]
aparelho;
[53]
e, depois, aqui, é já só armá-lo.
[54]
E então, é assim.
[55]
Mas não tenho aqui.
[56]
Não tenho aqui porque isto [vocalização] a casita é muito pequenina
[57]
e, além disso, não é minha, porque [vocalização] a dona não não tem lucro nenhum [pausa] em ter isto [vocalização]…
[58]
Ela já havia de ter vendido isto há mui- há muito tempo.
[59]
Agora é que pôs aí os escritos
[60]
[pausa] mas [vocalização] nem sei quanto elas pedem por isto.
[61]
Aquilo não hão-de pedir pouco.
[62]
E eu estou [pausa] Dentro da razão, quero eu ficar com ela.
[63]
Mas se a casita fosse maior, eu, é claro, tinha aquelas maquinetas, tinha-as aqui
[64]
e, enfim, aquilo, tinha tudo mais a jeito.
[65]
Assim, tenho ali no meu rés-do-chão, enfim, para me safar.
[66]
E então assim é que é a vida.

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