Representação em frases
Castelo de Vide, excerto 35
Texto: -
INF Bem, e depois, [pausa] meu pai faleceu, tinha eu treze anos.
E [vocalização] E então, daí, [vocalização] deu-se o caso [vocalização],
é claro, arrumei-me então à arte.
"Bem, isto já não dá nada o campo, também".
Trabalhava, então, ali numa quinta do prado, ali em baixo.
Trabalhei ali, à roda dos vinte anos, lá.
Fazia um biscatito assim nos domingos, cá em casa,
mas o mais trabalhava ali, assim de jorna.
E depois então acabei por pôr loja por minha conta, até à data de hoje.
Faço [vocalização] cinquenta e sete [pausa] no dia quatorze de Junho.
Portanto, enfim, cá estamos.
E isto [vocalização] já se sabe.
E então [vocalização], é claro, isto aqui é cla- apanha um meio muito grande – ainda é o que vale –, porque só o concelho [pausa] não me governava.
Apanha então o concelho de Marvão, aqui o concelho de Portalegre
e [vocalização] vêm nas camionetas, no- nos tractores
E então [vocalização] aqui vou fazendo [pausa] aquilo que posso.
O que não posso, é claro, [vocalização] digo logo que não posso;
mas, enfim, cá se vai a gente andando.
E [vocalização] E, enfim, é claro, os meus pais, coitados…
É claro, naquela altura, no melhor, o meu pai faltou-me.
E depois, nós éramos quatro irmãos
[pausa] e [vocalização] ficámos só com minha mãe.
E eu, como sendo o mais velho, é q- é que fui sempre o mais escravo.
Mas, [vocalização] enfim, até à data de hoje não estou repeso.
mas [vocalização] a gente, em tendo saúde, o trabalho não mata ninguém.
Até ainda a gente anda melhor, não é?
O mais, pronto, [vocalização] é claro!
Agora [vocalização], [vocalização] a questão de [vocalização], assim, de [vocalização] [pausa] disto das carroças tem um problema, por exemplo, a gente disto das ferragens…
Eu tenho é agora uma umas rodas novas para fazer
e as ferragens não há maneira de virem.
Estou farto de apitar o mesmo que me fornecia para cá.
Pois, às vezes, podia ser [vocalização] a falta de dinheiro, ou coisa, ou tal.
Quer dizer, é aquela [vocalização] maneira dos tipos não, não se não se torcem.
Quer-se dizer, em não sendo coisas assim de grandes quantidades, coisas pequenas não ligam.
Não tinha [vocalização] aparelho de soldar.
Não o tenho aqui porque a casita é muito pequenina.
Tenho ali no no meu rés-do-chão, [pausa] e uma máquina onde estão, uma maquinetazita onde…
Por exemplo, isto agora, [pausa] vou fazer umas portas – agora afracou aí um bocado o serviço e [vocalização] eu [vocalização] tomei esse compromisso –, umas portas aqui para um vizinho.
E então, agora, é o que vou fazer, umas portas em castanho.
E [vocalização] E assim se vai levando.
Mas, quer dizer, na tal maquinazita, dá-me para aparelhar isto.
Agora corto isto nos comprimentos
e, depois, aqui, é já só armá-lo.
Não tenho aqui porque isto [vocalização] a casita é muito pequenina
e, além disso, não é minha, porque [vocalização] a dona não não tem lucro nenhum [pausa] em ter isto [vocalização]…
Ela já havia de ter vendido isto há mui- há muito tempo.
Agora é que pôs aí os escritos
[pausa] mas [vocalização] nem sei quanto elas pedem por isto.
Aquilo não hão-de pedir pouco.
E eu estou [pausa] Dentro da razão, quero eu ficar com ela.
Mas se a casita fosse maior, eu, é claro, tinha aquelas maquinetas, tinha-as aqui
e, enfim, aquilo, tinha tudo mais a jeito.
Assim, tenho ali no meu rés-do-chão, enfim, para me safar.
E então assim é que é a vida.
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