Representação em frases

Montes Velhos, excerto 15

LocalidadeMontes Velhos (Aljustrel, Beja)
AssuntoAs aves
Informante(s) Herodiano Iria

Texto: -


[1]
INF1 Aqui na nossa zona, os passarinhos também, coitadinhos, também têm sofrido muito.
[2]
INF1 E mesmo o 25 de Abril também não foi muito bom para eles.
[3]
Não foi.
[4]
[pausa] Pois.
[5]
Apareceu uma remessa de [vocalização] de gente sem [pausa] sem cabeça e andaram a fazer grandes sarilhos.
[6]
Pois.
[7]
Isso houve [pausa] umas grandes vigarices. Coisas muito mal feitas, até porque isto não se admite.
[8]
Não se admitem coisas dessas.
[9]
Isso não se admite mesmo.
[10]
Gente [vocalização] Pois não são mais que é selvagens, chama-se àquela gente.
[11]
Aquilo é gente selvagem.
[12]
Andaram Arranjaram ali uma mezinha, essa gente,
[13]
e então deram em passar de mão em mão, duns para os outros, essa coisa toda,
[14]
foi tal e qual como a droga, no, na nessa rapaziada de dezoito anos, e dezanove, e quinze, e dezasseis.
[15]
Apareceu uma coisa de droga que eu até fico parvo!
[16]
Como é que uma pessoa vai tomar uma coisa que que o prejudica?!
[17]
Aqui uns tempos, morreu para aqui um moço ou dois, noutros sítios coisa e tal,
[18]
e a aparecem calçadas com a droga!
[19]
Como é que uma pessoa vai agora fazer um fumar uma coisa duma droga, uma coisa que o prejudica?!
[20]
E fazem.
[21]
E aqui apareceu uma remessa de gente com essas ideias [vocalização] de drogas.
[22]
É gente doida!
[23]
E [vocalização] Apareceram aqui com um trigo roxo, um trigo.
[24]
Depois com um preparo qualquer, deitam aquele preparo no trigo,
[25]
deitam em qualquer parte.
[26]
Os passarinhos, coitadinhos, vão tumba-tumba picar naquela brincadeira,
[27]
oh, quando é ao fim dum bocadinho, começam a bater as asas, a bater as asas,
[28]
caem para o lado,
[29]
eh, é aos moitões!
[30]
Oh! Então tem morrido tudo,
[31]
têm matado tudo que não aqui um!
[32]
Era uma zona que a gente saía a qualquer banda
[33]
Olhe aqui onde
[34]
aqui no meu quarto, ouvia-se aqui neste [vocalização] neste [vocalização] coiso aqui [pausa] atrás
[35]
Apareciam todos os anos, todos os anos!
[36]
Apareciam aqui uns rouxinóis
[37]
olhe, em vindo ali das três horas da manhã até de manhã, parecia a gente parecia uma música que era uma uma coisa parva.
[38]
uns dois anos ou três para ,
[39]
não se ouve um passarinho vir piar.
[40]
Canalhas dum cabrão deram cabo de tudo!
[41]
E deram cabo de tudo, porque isto é assim:
[42]
deitam isso e aqueles pássaros que comem trigo, [pausa] comem-no e morrem.
[43]
Eles [pausa] no outro dia vão buscar os pássaros.
[44]
Mas sempre ocasião de ir um cair mais longe, que eles não vêem,
[45]
deixam-no .
[46]
Abala um desgraçado dum corvo, coisa e tal, que gosta de da caça, coisa e tal,
[47]
aquele passarinho, aquele passarinho, coisa e tal,
[48]
e papa-o.
[49]
O pássaro está envenenado,
[50]
oh, ao fim dum bocadinho é ele que bate os [nome] também.
[51]
E então vão morrendo assim atrás uns dos outros.
[52]
INF1 Então e o que é que você quer?!
[53]
É para os comerem!
[54]
Matam-nos para os comerem!
[55]
INF2 Tem muitas raças!
[56]
INF1 Então, e o que é que você quer?!
[57]
Então e o conhecimento, porque é que ele hoje não têm algum conhecimento?!
[58]
[pausa] Pois.
[59]
Então e depois abalam com eles,
[60]
não sabem o que é que fazem.
[61]
Depois abalam com eles,
[62]
chegam ao dum gajo qualquer,
[63]
vendem-lhos.
[64]
E esse gajo paga-lhe aquilo tudo
[65]
e leva-os para Lisboa, para aqueles cafés, para aqui, para além, ou para Beja, ou para terras dessas,
[66]
e eles querem saber!

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