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Montes Velhos, excerto 26
Text: -
INF Isto está aqui uma coisa…
[vocalização] Noutro tempo, havia muito divertimento – no tempo da miséria, quando havia miséria –
e o pessoal entretinha-se entretinha-se.
Aqueles que tinham muito, tinham automóveis,
tinham aquilo e tal, tal, tal.
Aquele pequeno nunca pensou – com licença – em possuir um automóvel, em possuir uma biciclete a motor, e coisa.
E então tinha que ir para coisas lá que lhe pertenciam.
E então qual eram as coisas que pertenciam?
[vocalização] "Ah, eu vou para uma taberna, cantar uma modinha".
[vocalização] Lá mandava assar um bocadinho de linguiça e comê-la [vocalização].
Não tinha aquela coisa e tal, tal.
Uma pessoa numa terra destas…
Por exemplo, aí à rés duma estrada, aparece um restaurante.
Então aparece um freguês de Lisboa,
depois ao fim de um bocado aparece um do Algarve,
passou no carro, e tal, tal, tal, tal
e a taberna ali [vocalização] faz uma comida,
E essa taberna tem uma saída.
Aqui, nestes sítios, já não acontece isto.
E não acontece isto porquê?
Porque é já rara a pessoa, mesmo numa terra destas, que não possua já um automóvel.
E essa gente hoje que possui já automóvel, já querem estar numa classe,
já não querem saber da taberna.
[pausa] Vão mais depressa, por exemplo, passear aqui ou além,
e vão comer depois lá a um restaurante desses.
E vem o domingo, que eram os dias em que a gente fazia qualquer coisa numa taberna destas, um domingo que se aproveitava,
pois é nos domingos que é os dias mais ruins numa taberna, numa aldeia.
Porque aos domingos, toda a gente tem automóvel
e aquele que não tem vem dalém o vizinho…
Mas os automóveis são já muitos
e os vizinhos são também muitos,
e quando a gente dá-se notícia, ao domingo é um silêncio!…
Se a gente estiver deitados até um bocadinho mais tarde, não se ouve rumor de nada.
Parece a gente que está no monte.
Aos sábados e aos domingos parece a gente que está num monte!
A gente abre uma porta para vender um copo de vinho, essa coisa,
outro foi para uma ribeira aí comer um petisco,
outro foi para outro lado.
Têm os carrinhos para a coisa e tal, tal.
E em vindo outro certo tempo, têm os carrinhos, aos domingos
vão à caça, coisa e tal, tal.
E os domingos numa terra destas – sábados e domingos – são sempre mais ruins.
E depois aos dias de semana vão trabalhar
E essas casas que estão aí perto da estrada nova são os uns restaurantes que, em tendo uma casa bem arranjada, defendem-se bem.
E um tipo aqui numa terra destas não se defende com uma taberna.
Não se defende com uma taberna porque aos domingos – que é o dia em que a gente fazia, no outro tempo, dinheiro –, ninguém tinha automóvel,
e [vocalização] pulavam, e [vocalização] isto, e aquilo, e tal
querem lá saber agora de estar aqui em Montes Velhos, em vindo o domingo!
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