Representação em frases

Montes Velhos, excerto 27

LocalidadeMontes Velhos (Aljustrel, Beja)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Herodiano

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[1]
INF Se for aqui aqui a [vocalização] cem metros, ou coisa, aqui onde é a estrada nova que vai para Lisboa, e aqui se pusesse um restaurante
[2]
Ali em Canhestos estão dois está um dum lado, outro doutro e tal, tal
[3]
e se for têm sempre gente e essa coisa toda.
[4]
Se aqui puser o [vocalização] se pusesse um restaurante ou uma bomba de gasolina
[5]
Aqui gasolina em Aljustrel ou depois em Grândola.
[6]
Não mais nada.
[7]
Mas se pusesse aqui perto um restaurante, ali com uma bomba de gasolina, e essa coisa toda e tal, tinha ali fregueses.
[8]
INF À rés da estrada nova!
[9]
E depois esses fregueses são sempre assim uns fregueses bons.
[10]
Porque você chegou a uma um restaurante desses,
[11]
eu não a conheço de lado nenhum,
[12]
tanto se me levar-lhe cento e cinquenta mil réis como duzentos;
[13]
e você achou caro,
[14]
saiu da porta e disse assim: "Filho dum cabrão, cravou-me aqui com mais cinquenta paus que a conta".
[15]
E eu fiquei os duzentos paus
[16]
e digo assim: "Aquela magana!
[17]
Vai passear os parentes,
[18]
não te conheço de lado nenhum"!
[19]
Você vai-me arrematando que eu levei-lhe muito
[20]
e eu fico-a arrematando que devia-lhe ainda ter mamado mais cinquenta, e não coiso.
[21]
E depois quando você desanda de , que vai para para os lados de Lisboa, vem outro para o lado do Algarve,
[22]
papa esse que vai para o lado do Algarve.
[23]
E são sempre caras desconhecidas.
[24]
E aqui a gente, qual é depois o freguês que se não tem alguma
[25]
Vem ali o vizinho ou outro
[26]
não se lhe vai cravar um [vocalização] ,
[27]
que depois ainda vai acabar com algum que tem.
[28]
Ainda vai acabar com algum freguês
[29]
e é sempre miséria, ámen.
[30]
É sempre uma miséria.
[31]
Eu fui multado aqui uma vez.
[32]
Veio aqui uns, dos fiscais,
[33]
multaram-me aqui em dois contos.
[34]
Paguei dois contos.
[35]
Estava vendendo o vinho,
[36]
custava-me [pausa] o vinho a vinte e nove escudos e trinta.
[37]
Tinha um de trinta, outro de vinte e nove.
[38]
Estava vendendo a trinta e cinco mil réis, o litro uma diferença de cinco escudos em litro.
[39]
E eles queriam que a gente ganhasse três mil réis,
[40]
multaram-me em dois contos.
[41]
[pausa] Foram além àquele meu vizinho,
[42]
fizeram-lhe o mesmo, outros dois.
[43]
Foram a outro que estava aqui deste lado,
[44]
fizeram-lhe o mesmo, outros dois contos.
[45]
Foram ali a outro que estava daquele lado, outros dois contos.
[46]
a gente os quatro aqui
[47]
Os outros não coiso porque eles depois fecharam as portas.
[48]
INF Assim que deram notícia fecharam as portas.
[49]
Mas a gente os quatro aqui fomos caçados.
[50]
Estornaram-nos oito contos por estar vendendo o vinho com três mil réis.
[51]
Escute Veja a [vocalização] diferença que .
[52]
A mesma garrafa de vinho que a gente vende numa taberna, que não pode vender por mais de quarenta escudos, a mesma garrafa de vinho, se estiver ali daquele lado um café e for pôr essa garrafa de vinho e você vier comprar a minha casa, não a pode comprar e eu não lha posso vender por mais de quarenta escudos.
[53]
Está tabelado o preço.
[54]
Mas se você for a um café defronte e tenha a mesma garrafa, iguais, compradas ao mesmo gajo e essa coisa toda, você pode vender uma garrafa dessas por setenta mil réis.
[55]
Num restaurante, numa casa de, de do café, pode vender uma garrafa dessas por setenta escudos;
[56]
a gente numa taberna não pode vender mais por quarenta.
[57]
[pausa] Queriam que a gente estivesse ganhando três escudos num litro de vinho!
[58]
Ora diga-me quantos litros de vinho é que uma pessoa tem de vender durante o dia para tirar um ordenado Ordenados como hoje!
[59]
Qualquer desgraçado ganha quinhentos mil réis ou seiscentos.
[60]
Qual é o ordenado que uma pessoa tinha que tirar numa taberna?!
[61]
Quantos litros de vinho tinha que vender?!
[62]
Porque o vinho que se vende mais aqui no coiso, [vocalização] não é não é aos meios litros nem coiso, é aos copos.
[63]
É por isso que um homem enceta um garrafão de vinho, de cinco litros, de manhã para vender aos copinhos, copinho a um, copinho a outro
[64]
e, parte das vezes, vem à noite,
[65]
ainda tem o garrafão com metade do vinho.
[66]
O que é que isso ?
[67]
[vocalização] Hoje ele nos restaurantes, onde, por exemplo, põem-lhe além no meio litro de vinho que você bebeu logo um litro de vinho.
[68]
Você chegou com duas ou três pessoas,
[69]
eles papam-lhe ali duzentos mil réis a cada pessoa
[70]
e põem-lhe ali mais xis para isto, mais xis para aquilo,
[71]
e quatro pessoas, ali num restaurante, papam-lhe ali uma nota de conto, ou um conto e quinhentos, ou uma coisa.
[72]
E a pessoa hoje está
[73]
dinheiro,
[74]
pagou
[75]
e foi-se embora.
[76]
Não, as tabernas aqui não dão nada,
[77]
isso não nada.
[78]
Não é negócio que dure.
[79]
[pausa] E eu [vocalização] tentei em acabar com tentei em acabar com isso.
[80]
Não era o [vocalização] até o dar, nem isso, nem aquilo.
[81]
Eu, agora ultimamente, não não me fazia diferença, não coisa.
[82]
É mesmo que vi que não [pausa] que não tinha necessidade nenhuma de estar a aturar chatices.
[83]
Pois eu não tenho ninguém.
[84]
Tenho três filhos;
[85]
aquele tem além a vida dele;
[86]
os outros têm a vida deles também;
[87]
e eu estou sozinho mais a mulher.
[88]
Tenho alguma vontade de estar agora a aturar moengas?!
[89]
INF Levava uma vida inteira, com sessenta e quatro anos.
[90]
Agora mais meia dúzia de anos que uma pessoa está, está agora sujeita a aturar agora chatices.
[91]
Chatices!
[92]
[vocalização] Eu negociava em cereais,
[93]
tinha uma fragonete.
[94]
Negociava em cereais,
[95]
negociava em gado,
[96]
tive aqui um talho
[97]
Eu acabei com isso tudo.
[98]
Larguei isso tudo da mão.
[99]
Até hoje mesmo quando aparece um a vender-me qualquer coisa, digo: "Não, não. Olha, vai para ao coiso, que eu não te compro nada".
[100]
"Porquê"?

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