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Montes Velhos, excerto 27
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INF Se for aqui aqui a [vocalização] cem metros, ou coisa, aqui onde é a estrada nova que vai para Lisboa, e aqui se pusesse um restaurante…
Ali em Canhestos estão dois – está um dum lado, outro doutro e tal, tal –
e se for lá têm sempre gente e essa coisa toda.
Se aqui puser o [vocalização] se pusesse um restaurante ou uma bomba de gasolina…
Aqui só há gasolina em Aljustrel ou depois em Grândola.
Mas se pusesse aqui perto um restaurante, ali com uma bomba de gasolina, e essa coisa toda e tal, tinha ali fregueses.
INF À rés da estrada nova!
E depois esses fregueses são sempre assim uns fregueses bons.
Porque você chegou a uma um restaurante desses,
eu não a conheço de lado nenhum,
tanto se me dá levar-lhe cento e cinquenta mil réis como duzentos;
saiu da porta e disse assim: "Filho dum cabrão, cravou-me aqui com mais cinquenta paus que a conta".
E eu fiquei cá os duzentos paus
e digo assim: "Aquela magana!
não te conheço de lado nenhum"!…
Você vai-me arrematando que eu levei-lhe muito
e eu fico-a arrematando que devia-lhe ainda ter mamado mais cinquenta, e não coiso.
E depois quando você desanda de lá, que vai para lá para os lados de Lisboa, vem outro para o lado do Algarve,
papa esse que vai para o lado do Algarve.
E são sempre caras desconhecidas.
E aqui a gente, qual é depois o freguês que se não tem alguma…
Vem ali o vizinho ou outro
não se lhe vai cravar um [vocalização] ,
que depois ainda vai acabar com algum que tem.
Ainda vai acabar com algum freguês
e é sempre miséria, ámen.
Eu fui multado aqui uma vez.
Veio aqui uns, dos fiscais,
multaram-me aqui em dois contos.
custava-me [pausa] o vinho a vinte e nove escudos e trinta.
Tinha um de trinta, outro de vinte e nove.
Estava vendendo a trinta e cinco mil réis, o litro – uma diferença de cinco escudos em litro.
E eles queriam que a gente só ganhasse três mil réis,
multaram-me em dois contos.
[pausa] Foram além àquele meu vizinho,
fizeram-lhe o mesmo, outros dois.
Foram a outro que estava aqui deste lado,
fizeram-lhe o mesmo, outros dois contos.
Foram ali a outro que estava daquele lado, outros dois contos.
Só a gente os quatro aqui…
Os outros não coiso porque eles depois fecharam as portas.
INF Assim que deram notícia fecharam as portas.
Mas a gente os quatro aqui fomos caçados.
Estornaram-nos oito contos por estar vendendo o vinho com três mil réis.
Escute Veja a [vocalização] diferença que há.
A mesma garrafa de vinho que a gente vende numa taberna, que não pode vender por mais de quarenta escudos, a mesma garrafa de vinho, se estiver ali daquele lado um café e for pôr essa garrafa de vinho e você vier comprar a minha casa, não a pode comprar e eu não lha posso vender por mais de quarenta escudos.
Mas se você for a um café defronte e tenha lá a mesma garrafa, iguais, compradas ao mesmo gajo e essa coisa toda, você já pode vender uma garrafa dessas por setenta mil réis.
Num restaurante, numa casa de, de do café, pode vender uma garrafa dessas por setenta escudos;
a gente numa taberna não pode vender mais por quarenta.
[pausa] Queriam que a gente estivesse ganhando três escudos num litro de vinho!
Ora diga-me lá quantos litros de vinho é que uma pessoa tem de vender durante o dia para tirar um ordenado… Ordenados como há hoje!
Qualquer desgraçado ganha quinhentos mil réis ou seiscentos.
Qual é o ordenado que uma pessoa tinha que tirar numa taberna?!
Quantos litros de vinho tinha que vender?!
Porque o vinho que se vende mais aqui no coiso, [vocalização] não é não é aos meios litros nem coiso, é aos copos.
É por isso que um homem enceta um garrafão de vinho, de cinco litros, de manhã para vender aos copinhos, copinho a um, copinho a outro
e, parte das vezes, vem à noite,
ainda tem lá o garrafão com metade do vinho.
Dá [vocalização] dá Hoje dá ele nos restaurantes, onde, por exemplo, põem-lhe além no meio litro de vinho que você bebeu logo um litro de vinho.
Você chegou com duas ou três pessoas,
eles papam-lhe ali duzentos mil réis a cada pessoa
e põem-lhe ali mais xis para isto, mais xis para aquilo,
e quatro pessoas, ali num restaurante, papam-lhe ali uma nota de conto, ou um conto e quinhentos, ou uma coisa.
Não, as tabernas aqui não dão nada,
[pausa] E eu [vocalização] tentei em acabar com tentei em acabar com isso.
Não era só o [vocalização] até o dar, nem isso, nem aquilo.
Eu, agora ultimamente, não não me fazia diferença, não coisa.
É mesmo que vi que não [pausa] que não tinha necessidade nenhuma de estar já a aturar chatices.
Pois eu não tenho ninguém.
aquele tem além a vida dele;
os outros têm a vida deles também;
e eu estou sozinho mais a mulher.
Tenho alguma vontade de estar agora a aturar moengas?!
INF Levava uma vida inteira, com sessenta e quatro anos.
Agora mais meia dúzia de anos que uma pessoa cá está, está agora sujeita a aturar agora chatices.
[vocalização] Eu negociava em cereais,
Larguei isso tudo da mão.
Até hoje mesmo quando aparece um a vender-me qualquer coisa, digo: "Não, não. Olha, vai para aí ao coiso, que eu não te compro nada".
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