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Alcochete, excerto 20

LocationAlcochete (Alcochete, Setúbal)
SubjectO lenhador e o forno de carvão
Informant(s) Anselmo
SurveyALEPG
Survey year1990
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Pois.
[2]
INF Como é que se faz o carvão?
[3]
O carvão é da sobreira.
[4]
É os paus da sobreira.
[5]
INF Da sobreira!
[6]
[pausa] É cortado a sobreira aos bocados [pausa] é como a madeira da sobreira ,
[7]
podem até deitar uma sobreira podem dei- até deitar uma sobreira abaixo, ou duas.
[8]
É serrada, [pausa] aos traços,
[9]
e depois é feita dentro dum, dum mo- dum monte
[10]
chama-se aquilo um forno.
[11]
É tapado com terra
[12]
e depois larga-se fogo.
[13]
E ali é que fazem o carvão.
[14]
Está a moer debaixo daquela terra.
[15]
INF A moer!
[16]
A arder!
[17]
Está a moer debaixo daquela terra
[18]
e está a deitar fumo.
[19]
[pausa] De maneira que depois, passado uns tempos, vem os homens todos destapar aquilo
[20]
está feito em carvão!
[21]
Depois é ensacado em ca- em sacas
[22]
e vem vendido para os carvoeiros, para venderem.
[23]
INF Isso os buraquinhos é por onde é que deita o fumo.
[24]
Está sempre a deitar aquele fumo
[25]
e está a respirar para fora.
[26]
INF É os respiradouros.
[27]
INF Pois.
[28]
INF Isso é a boca.
[29]
INF Quando está a meter a madeira?
[30]
Está a meter a madeira para, para para largar mais fogo.
[31]
INF Abafa-se com terra.
[32]
INF É abafar.
[33]
INF Empoar? [vocalização]
[34]
INF Tenho ouvisto falar
[35]
mas é abafar:
[36]
que é para abafar, que é para deixar deitar a aquela coisa.
[37]
INF Nunca fui,
[38]
mas vi fazer.
[39]
INF Havia.
[40]
Aqui da charneca houvia.
[41]
Havia tantos fornos disto!
[42]
INF Agora não .
[43]
[pausa] [vocalização] Houvia gente mesmo a fazer isso.
[44]
INF Acaba tudo.
[45]
[vocalização] Aqui, agarrado aqui, isso juntava-se se juntava sempre gente a fazer fornos de carvão.
[46]
Houvia dois homens que vendiam carvão com duas parelhas de mulas [pausa] como esses carros do Alentejo ,
[47]
houvia dois:
[48]
ele era o Arnaldo
[49]
e era o chamava-se Aretino.
[50]
Tinha uma parelha de mulas cada um
[51]
e andavam sempre a carregar carvão da charneca, para venderem aqui em Alcochete.
[52]
Andavam à roda da vila a vender às sacas
[53]
e tinham casas a vender mesmo de propósito aos quilos.
[54]
INF Isso acabou tudo!
[55]
INF E não se um homem aqui perto fazer um forno de carvão [pausa] mesmo dentro da charneca.
[56]
Não se .
[57]
[vocalização], agora, mesmo o carvão, [pausa] se algum, é para o Alentejo!
[58]
[pausa] Que está dois carvoeiros:
[59]
[vocalização] aquele ali nem tem carvão,
[60]
quase nunca tem;
[61]
e está outro ali
[62]
[pausa] É mesmo pouco que vem para .
[63]
[pausa] É mesmo pouco que vem para !

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