Representação em frases

Alvor, excerto 3

LocalidadeAlvor (Portimão, Faro)
AssuntoA sociedade
Informante(s) Ápio Apolinário

Texto: -


[1]
INF1 E nós, [pausa] a sacrificar, vamos à isca.
[2]
A minha mulher é como a trabalhar.
[3]
E trabalha de noite e de dia!
[4]
E de noite também.
[5]
Levanta-se às cinco horas da manhã [pausa] para ajudar a vida, para a gente [vocalização] resgatar a vida.
[6]
E estão a atravessar a vida [pausa] do pobre
[7]
E fazer mal ao Estado!
[8]
Ele é o Estado
[9]
O rio O Estado, ele pode pagar aos quinhentos escudos por ano
[10]
que ele pague a um conto e quinhentos.
[11]
A um conto e quinhentos, a gente, se calhar a coisa bem
[12]
A gente pode- podemos pôr perder as nossas artes tanta arte que a gente tem
[13]
Tantos contos réis que estavam empregados.
[14]
Não julgue o senhor,
[15]
uma arte destas custa quase três contos.
[16]
Quase.
[17]
Este anzolinho está não havia de estar mas está
[18]
Estava a seis escudos, o ano passado, seis e quinhentos,
[19]
este a- agora está a vinte nove escudos!
[20]
Uma madeixa de sedela destas [pausa] estava [vocalização] a cen- a, a nov- a oitenta [pausa] e cinco escudos quatro anos!
[21]
Subiu,
[22]
subiu.
[23]
dois anos dois anos estava a noventa e [vocalização] cinco, depois a cento e vinte,
[24]
agora está a trezentos [pausa] e cinquenta!
[25]
E não .
[26]
O que subiu as coisas!
[27]
Está bem,
[28]
eu acho justo,
[29]
mai-, ainda sobem mais da conta.
[30]
Não havia de vir a ser justificado?
[31]
Sim,
[32]
vem do estrangeiro
[33]
Se a madeixa sedela vem do estrangeiro [pausa] por cento e cinquenta mil réis, qual é a razão de vender a trezentos e trinta?
[34]
O que não vem elevado!
[35]
Porque agora parece-me a mim que comprei uns anzóis
[36]
Que a um viajante, dois meses, vi eu levar anzóis para vender a vinte e seis
[37]
[vocalização] Para ele venderam-lhe a doze escudos
[38]
e ele podia vender a vinte dois.
[39]
Portanto que as coisas vêm baratas.
[40]
O mais, eles estão têm os seus operários,
[41]
têm [vocalização] é claro, têm os seus
[42]
Nas casas têm que pagar,
[43]
mas isto também não é assim que se faz.
[44]
INF1 Bem, tem que ter uma percentagem,
[45]
a gente sabe disso,
[46]
as coisas estão caras,
[47]
eles também
[48]
Um homem ganha nove ou dez contos.
[49]
A gente sabe bem disso.
[50]
Mas as coisas é tudo normal.
[51]
Aumenta este [vocalização] Foram aumentados cem,
[52]
está a vinte nove escudos os anzóis,
[53]
para o mês que vem está a trinta,
[54]
para o outro mês
[55]
Então como é que é que isto ele é feito?!
[56]
INF2 E não !
[57]
INF1 E não E não que se fechem.
[58]
Não pode ser assim.
[59]
A gente conhece que têm que ganhar.
[60]
Eles estão ali
[61]
Eu ganhar da minha vida
[62]
e eles ganharam da deles!
[63]
Mas não poderá ser assim tudo à barrigada.
[64]
Que mais tarde quem tem fome morre.
[65]
[vocalização] E a coisa prolonga-se pelo lado do mal
[66]
Sempre a gente explorar o outro,
[67]
matar o outro,
[68]
explorar,
[69]
explorar!
[70]
Queremos é igualdade,
[71]
mas quer dizer [pausa] tudo viver de barriga cheia.
[72]
" para mim"!
[73]
Então e como é os outros?
[74]
Como é os nossos filhos?
[75]
É porque eu hoje tenho negócio que os meus filhos amanhã podem ir trabalhando.
[76]
E a gente temos que levar-lhe alguma coisa.
[77]
Porque a gente, nós precisarmos de alimento, precisamos.
[78]
Mas temos que ser iguais .
[79]
E não somos.
[80]
Ainda somos menos que era-se antigamente.
[81]
Agora ainda é cada vez pior.
[82]
Sim,
[83]
se aquele vende a dezano- a vinte nove, ele, se puder, vende a trinta e cinco, o outro vende a quarenta e nove, e coisa e tal.
[84]
E a gente sabe que temos que ganhar, temos
[85]
Porque hoje é assim.
[86]
É demais,
[87]
explora-se é demais!
[88]
E cada vez pior!

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