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Alvor, excerto 36

LocalidadeAlvor (Portimão, Faro)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Ápio

Text: -


[1]
INF no Algarve é assim.
[2]
Uma pessoa, a gente é pobre aqui.
[3]
Juntar para umas casinhas, ah!
[4]
Corri o arrasto,
[5]
nada ganhei.
[6]
E daqui ele daquilo também dava andar do arrasto.
[7]
Bom, andei a contramestre.
[8]
[pausa] Ganhava mais que uma parte
[9]
[pausa] e sempre favorecia, além de ajuntar mais que um camarada.
[10]
Sempre vinha uns patacos.
[11]
Os outros ganhavam uma parte,
[12]
eu ganhava duas.
[13]
Quer dizer, comia igual a eles
[14]
e aquela parte era para forrar.
[15]
Se desse para eles, também davam para mim.
[16]
Por exemplo, ganhava num ano dez ou doze contos, ou quinze contos, ou dez ou doze não era nada ou quinze contos, que ganhava-se pouco,
[17]
agora é que ganham mais.
[18]
Quer dizer, com os dez ou doze contos comia igual a eles [pausa] e podia forrar cinco ou seis num ano;
[19]
para o outro ano forrava sete ou oito,
[20]
e para o outro ano
[21]
E assim forrado, dava mais que uma parte, que uma parte .
[22]
E também andei em enviados,
[23]
também dava mais uma parte
[24]
e fui ajuntando os períodos.
[25]
quem tenha uma ideia
[26]
e quem tenha outra.
[27]
Ele é assim.
[28]
A gente tem uma ideia que há-de chegar,
[29]
e tem umas casas para morar;
[30]
e outros não têm,
[31]
a gente não pode vir lho dar.
[32]
Agora quem não tem nunca ele lhe pode comprar.
[33]
INF Sim,
[34]
quem não tem nunca pode comprar.
[35]
E as ideias não são iguais.
[36]
quem diga assim: " [vocalização] Ah, isto é comer e beber enquanto são novos.
[37]
E a gente cada qual tem a sua ideia".
[38]
E eu digo então: "Comer e beber é depois de ir mais para a idade".
[39]
Sendo novos, forramos
[40]
e depois quando se chegar à idade mais avançada, não se pode trabalhar, temos então é que comer e beber
[41]
Na idade é que é;
[42]
uma pessoa quando se é novos, poder, que pode-se.
[43]
Se se puder;
[44]
e se não se puder, paciência.
[45]
Mas da idade é que precisa a gente de ter mais conta.
[46]
E o contrá-.
[47]
alguns que dizem: " [vocalização] Ah sendo isso de novos, é gastar e beber"
[48]
E mais tarde em sendo velhos?!
[49]
Quando eles queixam-se quando a gente estamos a dar alguma coisa aos nossos filhos.
[50]
É porque o diário do marítimo não é certo se for um diário.
[51]
[pausa] Se fosse corrido, pois eu não me importava.
[52]
Este ano ga- Este mês ganho dez,
[53]
sei que para o outro mês ganho cinco.
[54]
Depois Pois eu não me importo,
[55]
vou vivendo assim.
[56]
Tenho o meu ofício.
[57]
Mas não.
[58]
Eu posso hoje ganhar seis, sete ou oito
[59]
e para o mês que vem posso não ganhar senão dois ou três.
[60]
[pausa] E assim como posso ganhar dez ou doze ou quinze ou vinte.
[61]
Vou numa traineira
[62]
e poupo o mais que eu puder.
[63]
Portanto temos que deixar de moralizar umas pelas outras.
[64]
Desde hoje temos que levar a vida [pausa] quando ela trama.
[65]
"Olha eu agora vou-me alargando mais, pois tenho a vida mais larga"!
[66]
A gente vai-se alargando conforme vai-se podendo.
[67]
Tem Tenho sido períodos ruins, anos ruins, e anos bons de pesca.
[68]
E tem tenho sido também anos de muitas fases pouco.
[69]
Faltas é claro.
[70]
Porque quem trabalha nunca sente muita falta,
[71]
mas anos mais melhores que outros.
[72]
anos que a pesca falha.
[73]
E aqueles que tem que nunca nada colhe pois estão mais mal
[74]
[pausa] Porque a gente não é não é uma coisa certa.
[75]
A gente está acostumado,
[76]
a gente diz assim: "Bom, este mês ganhei dez ou doze contos;
[77]
vou-mos gastar".
[78]
Mas vem outro mês que vem,
[79]
não vem nada.
[80]
A gente tem que deixar de pôr por umas coisas por as outras.
[81]
Por isso deixa-se umas reservazinhas,
[82]
vai-se deixando às vezes conforme se pode.
[83]
Ah, não havendo doenças
[84]
A minha mulher é que tem sido
[85]
Eu tenho sido saudável.
[86]
A minha mulher é que tem sido doente.

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