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Cabeço de Vide, excerto 11

LocalidadeCabeço de Vide (Fronteira, Portalegre)
AssuntoA agriculturaOs cereais
Informante(s) André

Text: -


[1]
INF Aqui [vocalização] no, no, no no meu sítio, isso era tudo embelgado assim com uma com uma besta, ou com uma parelha, ou com uma coisa qualquer, assim a fazer o risco.
[2]
Não era a fazer um rego fundo,
[3]
mas era uma coisa que a gente. [pausa] percebia bem aonde ia.
[4]
E além era com as canas.
[5]
Eu quando vi aquilo das canas, digo assim:
[6]
"Eh, !
[7]
Isto há-de ser custoso"!
[8]
Mas não.
[9]
Fiz.
[10]
Mas [pausa] aqui aqui [vocalização] na herdade do Almeijão, fui para semear
[11]
[pausa] e, quando cheguei, havia um semeador.
[12]
Eu digo digo-lhe assim para o homem:
[13]
"Ouça ,
[14]
então mas o patrão aqui quer [vocalização] assim o trigo assim tão ralo"?
[15]
[pausa] "Ah, eles querem o trigo ralo porque [pausa] o trigo assim ralo vai afilhar e mais funda".
[16]
E eu faço assim:
[17]
"Eh !
[18]
Acho esquisito agora nesta altura todos querem o trigo basto por causa da erva ser assim".
[19]
"Não,
[20]
mas eles querem assim".
[21]
"Pronto!
[22]
Eles querem assim,
[23]
é assim que se faz".
[24]
Eu fui começar ao meio-dia.
[25]
Eu estava aqui na herdade que o outro tinha arrendado também,
[26]
e depois mandaram-me ali buscar para ir para semear.
[27]
Quando foi à noite, que cheguei ao monte, [pausa] e vem o outro muito admirado ao de mim,
[28]
e diz-me assim para mim:
[29]
"Então, não sabe"?!
[30]
"Não.
[31]
Então você ainda não disse"!
[32]
[vocalização] "O Anfícrates" o Anfícrates era um irmão do patrão, que era o guarda "esteve-me a dizer para deitar mais um baguinho de trigo [pausa] no chão".
[33]
Digo:
[34]
"Ora, bem me queria a mim parecer que o trigo que era ralo"!
[35]
Era trigo amarroado.
[36]
Sabe o que é amarroado?
[37]
INF É passado por uma máquina.
[38]
assim à coisa
[39]
e, quer dizer, aquela máquina vai aproveitar o trigo grado
[40]
e o partido vai à parte.
[41]
Aquela máquina
[42]
INF separa [pausa] o coiso.
[43]
INF Maró.
[44]
INF [vocalização] E então [pausa] diz que não havia gente para dar ao maró, para amarroar o trigo
[45]
e passou a ser [pausa] a coisa.
[46]
"Ah, vocês deitam trigo?!
[47]
Não tenham medo
[48]
porque o trigo, muito trigo partido".
[49]
Eu comecei a deitar
[50]
e o outro começou a deitar.
[51]
[pausa] Mas [pausa] eu achava aquilo demasiado!
[52]
Quando faltavam dois dias para acabar a folha [vocalização] e o guarda que era o irmão do patrão chega assim perto de mim,
[53]
encostou-se assim ao pau
[54]
e diz assim:
[55]
"Ó senhor André, arrime-lhe obra para o chão".
[56]
E eu [pausa] pus o sementeiro no chão
[57]
e faço aqui assim:
[58]
"Ó senhor Anfícrates, fazia favor vinha aqui ao de mim".
[59]
O homem foi.
[60]
E indiquei aqui assim:
[61]
"Senhor Anfícrates, faça favor ponha assim um dedo no chão,
[62]
mas não seja em cima de um bago de trigo.
[63]
Ponha assim um dedo no chão
[64]
mas que não leve nenhum bago de trigo adiante".
[65]
O homem começa a olhar para o chão
[66]
e diz assim:
[67]
"Eh , efectivamente.
[68]
[pausa] Olhe, deixe ir isto assim conforme vai".
[69]
Digo assim:
[70]
"Então eu estou a achar demais!
[71]
Você ainda me vinha dizer para arrimar mais"?!
[72]
Bem, esse dia à noite [pausa] pensaram mudar de herdade, [pausa] ir a sementeira para outra herdade
[73]
e ficou, fica- ficaram dois dias de sementeira no coiso.
[74]
Foram fazer as contas:
[75]
naquela folha havia quatro moios de trigo a mais.
[76]
Veja você:
[77]
quatro moios de trigo!

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