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Cabeço de Vide, excerto 11

LocationCabeço de Vide (Fronteira, Portalegre)
SubjectA agriculturaOs cereais
Informant(s) André
SurveyALEPG
Survey year1994
Interviewer(s)João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Aqui [vocalização] no, no, no no meu sítio, isso era tudo embelgado assim com uma com uma besta, ou com uma parelha, ou com uma coisa qualquer, assim a fazer o risco.
[2]
Não era a fazer um rego fundo,
[3]
mas era uma coisa que a gente. [pausa] percebia bem aonde ia.
[4]
E além era com as canas.
[5]
Eu quando vi aquilo das canas, digo assim:
[6]
"Eh, !
[7]
Isto há-de ser custoso"!
[8]
Mas não.
[9]
Fiz.
[10]
Mas [pausa] aqui aqui [vocalização] na herdade do Almeijão, fui para semear
[11]
[pausa] e, quando cheguei, havia um semeador.
[12]
Eu digo digo-lhe assim para o homem:
[13]
"Ouça ,
[14]
então mas o patrão aqui quer [vocalização] assim o trigo assim tão ralo"?
[15]
[pausa] "Ah, eles querem o trigo ralo porque [pausa] o trigo assim ralo vai afilhar e mais funda".
[16]
E eu faço assim:
[17]
"Eh !
[18]
Acho esquisito agora nesta altura todos querem o trigo basto por causa da erva ser assim".
[19]
"Não,
[20]
mas eles querem assim".
[21]
"Pronto!
[22]
Eles querem assim,
[23]
é assim que se faz".
[24]
Eu fui começar ao meio-dia.
[25]
Eu estava aqui na herdade que o outro tinha arrendado também,
[26]
e depois mandaram-me ali buscar para ir para semear.
[27]
Quando foi à noite, que cheguei ao monte, [pausa] e vem o outro muito admirado ao de mim,
[28]
e diz-me assim para mim:
[29]
"Então, não sabe"?!
[30]
"Não.
[31]
Então você ainda não disse"!
[32]
[vocalização] "O Anfícrates" o Anfícrates era um irmão do patrão, que era o guarda "esteve-me a dizer para deitar mais um baguinho de trigo [pausa] no chão".
[33]
Digo:
[34]
"Ora, bem me queria a mim parecer que o trigo que era ralo"!
[35]
Era trigo amarroado.
[36]
Sabe o que é amarroado?
[37]
INF É passado por uma máquina.
[38]
assim à coisa
[39]
e, quer dizer, aquela máquina vai aproveitar o trigo grado
[40]
e o partido vai à parte.
[41]
Aquela máquina
[42]
INF separa [pausa] o coiso.
[43]
INF Maró.
[44]
INF [vocalização] E então [pausa] diz que não havia gente para dar ao maró, para amarroar o trigo
[45]
e passou a ser [pausa] a coisa.
[46]
"Ah, vocês deitam trigo?!
[47]
Não tenham medo
[48]
porque o trigo, muito trigo partido".
[49]
Eu comecei a deitar
[50]
e o outro começou a deitar.
[51]
[pausa] Mas [pausa] eu achava aquilo demasiado!
[52]
Quando faltavam dois dias para acabar a folha [vocalização] e o guarda que era o irmão do patrão chega assim perto de mim,
[53]
encostou-se assim ao pau
[54]
e diz assim:
[55]
"Ó senhor André, arrime-lhe obra para o chão".
[56]
E eu [pausa] pus o sementeiro no chão
[57]
e faço aqui assim:
[58]
"Ó senhor Anfícrates, fazia favor vinha aqui ao de mim".
[59]
O homem foi.
[60]
E indiquei aqui assim:
[61]
"Senhor Anfícrates, faça favor ponha assim um dedo no chão,
[62]
mas não seja em cima de um bago de trigo.
[63]
Ponha assim um dedo no chão
[64]
mas que não leve nenhum bago de trigo adiante".
[65]
O homem começa a olhar para o chão
[66]
e diz assim:
[67]
"Eh , efectivamente.
[68]
[pausa] Olhe, deixe ir isto assim conforme vai".
[69]
Digo assim:
[70]
"Então eu estou a achar demais!
[71]
Você ainda me vinha dizer para arrimar mais"?!
[72]
Bem, esse dia à noite [pausa] pensaram mudar de herdade, [pausa] ir a sementeira para outra herdade
[73]
e ficou, fica- ficaram dois dias de sementeira no coiso.
[74]
Foram fazer as contas:
[75]
naquela folha havia quatro moios de trigo a mais.
[76]
Veja você:
[77]
quatro moios de trigo!

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