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Cabeço de Vide, excerto 28

LocalidadeCabeço de Vide (Fronteira, Portalegre)
AssuntoA vida humana
Informante(s) André

Text: -


[1]
INF Estive quinze anos casado sem ter filhos, [pausa] sem a mulher ter filhos.
[2]
Ouviu?
[3]
E depois morreu-me uma cunhada minha
[4]
[vocalização] e a mulher foi ao funeral.
[5]
Eu, nessa altura, era o hortelão na tal horta, da de Mateus.
[6]
A mulher foi ao funeral da irmã.
[7]
que é Foi na Ribeira de Nisa.
[8]
[vocalização] A irmã morreu,
[9]
deixou um um rapazinho e uma uma menina.
[10]
Ela trouxe a menina era a mais velhinha ,
[11]
trouxe a menina.
[12]
"Olha, homem, eu trouxe a [vocalização] a garota".
[13]
"Fizestes bem.
[14]
[pausa] Fizestes bem".
[15]
Tive a garota três anos em casa.
[16]
A garota era esperta,
[17]
[vocalização] era violenta
[18]
era
[19]
E eu começo a pensar assim:
[20]
"Esta garota [pausa] agora anda aqui assim neste feitio
[21]
e amanhã ou no outro dia começa a ter qualquer préstimo,
[22]
o pai abala com ela.
[23]
Eu vou dar aqui uma liberdade [pausa] à garota, a ver se o pai quer".
[24]
Ele veio
[25]
e digo-lhe assim para ele:
[26]
"Olha , queres dar uma liberdade à tua filha"?
[27]
"Então, mas que liberdade é"?
[28]
"É
[29]
Tu és o pai dela.
[30]
[pausa] Mas [vocalização] um dia se a quiseres levar, ela vai se quiser.
[31]
[pausa] Se ela quiser ir para a tua casa, vai para a tua casa;
[32]
e se quiser estar na minha, está na minha.
[33]
[pausa] Uma liberdade a ela"!
[34]
Hem?
[35]
"Eh, mas eu não tenho coragem de dar um filho,
[36]
eu não tenho coragem de dar um filho"!
[37]
"Mas eu não te estou a dizer para tu a dares, !
[38]
Ela é tua filha sempre.
[39]
É dar uma liberdade a ela.
[40]
Ela está aonde quiser.
[41]
Se quiser estar na minha casa, está na minha casa;
[42]
e se não quiser estar na minha casa, quer ir para a tua,
[43]
vai para a tua".
[44]
Mas eu sempre lembrando-me que ela que nunca queria ir para casa do pai,
[45]
[pausa] porque, é claro, era um homem sozinho.
[46]
[pausa] Bem, ele não tinha coragem,
[47]
não tinha coragem,
[48]
não tinha coragem,
[49]
não tinha coragem,
[50]
e aquilo ficou assim.
[51]
Às tantas, ele vem
[52]
e abala com a gaiata.
[53]
E começo eu assim a dizer para a mulher:
[54]
"Tu vistes isto?
[55]
Anda uma pessoa a criar os filhos dos outros!
[56]
Depois de ter-lhe [vocalização] u-, uma certa uma certa simpatia, uma certa moridade por eles, vem assim
[57]
"Vou ma- Vamos mandar vir um agora depois de velho"!
[58]
Mas
[59]
INF Comecei logo Eu comecei logo a [vocalização]
[60]
Apareceu.
[61]
[vocalização] Depois quando ela apareceu, eu era criado do tal Andrémon.
[62]
Diz-me ele assim para mim:
[63]
"Eh !
[64]
o que é que tu arranjas!
[65]
Olha que o Dom Aniceto" é o dono da Quinta do Leão , "olha que o Dom Aniceto tinha um grande desgosto da mulher não ter filhos,
[66]
em três vezes tem seis filhos.
[67]
[pausa] o que é que tu arranjas"!
[68]
Digo:
[69]
"Ai!
[70]
Isto há-de ser o que Deus quiser "!
[71]
"Eh, !
[72]
Mas tu vistes na tua idade",
[73]
e coisa e tal
[74]
Mas, olha, ela tem quarenta e um ano, ou uma coisa qualquer assim,
[75]
e ainda estamos.

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