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Cedros, excerto 7

LocationCedros (Horta, Horta)
SubjectO linho, a lã e o tear
Informant(s) Joana
SurveyALEPG
Survey year1977
Interviewer(s)João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


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[1]
INF Sim.
[2]
[vocalização] Então de criança.
[3]
[vocalização] Lembro-me de se semear o linho.
[4]
Nunca cul- Na nossa casa nunca cultivámos linho que eu me lembre.
[5]
As minhas tias ainda cultivavam e as minhas avós, mas eu não.
[6]
Mas havia vizinhas que tinham.
[7]
Eu lembro-me ainda de muita casa aqui nos arredores ter teares.
[8]
E era muito vulgar.
[9]
Nunca Não casava ninguém que não tivesse o seu enxoval: colchão de linho, colcha de
[10]
[vocalização] Os sacos que se recolhiam os cereais também eram de linho.
[11]
Tínhamos a rasoila
[12]
que naquele tempo falava-se era por medidas de alqueire.
[13]
Portanto, um saco levava cinco alqueires, cinco rasoilas de trigo.
[14]
Ah, esse trigo depois era levado
[15]
As pessoas iam pô-lo para a cidade,
[16]
porque em não estando os do [vocalização] das terras foreiras
[17]
Não é da dos meus dias,
[18]
mas ainda aqueles sacos eram levados com o trigo para as pessoas pagarem os seus foros das das terras.
[19]
[vocalização] Faziam-se cobertores de linho faziam
[20]
Eu até me lembro de uma prima minha fazer um fato, [vocalização] o linho tão bem fiado e tão bem apurado que fez um um fato de tecido no tear.
[21]
Que não era então Eu então não me lembro de as pessoas
[22]
Havia antigamente, nos anos atrasados, havia pessoas que vestiam de linho.
[23]
não é dos meus dias.
[24]
Mas essa prima fez um fato de linho, e [vocalização] de cor-de-vinho,
[25]
e [vocalização] e era um fato domingueiro, bem feito.
[26]
Portanto, o linho era:
[27]
as pessoas semeavam,
[28]
depois apanhavam-no,
[29]
ripavam-no,
[30]
tu- tratavam dele.
[31]
Ia-se pôr num lugar chamado a Passagem, ou no Orvalho,
[32]
e [vocalização] e era tudo feito.
[33]
Então é um era um lugar que todas as pessoas trabalhavam em comunidade.
[34]
As pessoas ajudavam-se umas às outras.
[35]
Quando era o dia de apanhar o linho, de ri- de ripar o linho, de sedar o linho, as pessoas juntavam-se
[36]
e ajudavam-se umas às outras.
[37]
[vocalização] Depois fiar, fiavam à algumas pessoas fiavam à mão, com os fusos;
[38]
outros fiavam a um engenho.
[39]
Então o engenho é uma ferramenta mais recente.
[40]
Mas ainda eu conheci muitas pessoas a fiarem no engenho.
[41]
Era a roda.
[42]
Era na roda.
[43]
Mas era posto numa roca.
[44]
Fiavam a sua roca de linho.
[45]
[vocalização] O linho acabou primeiro de que a .
[46]
[pausa] As pessoas começaram poucas pessoas
[47]
Eu [pausa] conheci poucas casas a cultivar linho: as senhoras Jasmim, esta casa aqui,
[48]
que a do- a dona desta casa também ainda cultivaram sempre.
[49]
Até Até que as pessoas, as donas desta casa, cultivavam linho nem semp- nem sequer para [pausa] para trabalhá-lo, para terem o [vocalização] a linhaça.
[50]
Porque faziam da linhaça, faziam remédios.
[51]
E eles cultivavam o linho não para trabalhá-lo em [vocalização], em em obras, mas para terem para re- para remédios.
[52]
[vocalização] Talvez tenha sido eu a última noiva que casasse com linhos de [vocalização] com colchão de linho.
[53]
Depois começou a aparecer o risca- o riscado de colchão, que se comprava nas lojas;
[54]
depois começou a aparecer os colchões Molaflex,
[55]
que nem se usa colchões de riscado.
[56]
Mas eu ainda é que fiz o meu enxoval do casamento à moda antiga, com a colcha de , a colcha do o colchão de linho.
[57]
Depois começou-se a fazer as colchas acolchoadas, que era diferente mas também era com .
[58]
Ainda me lembro também de haver muitas ovelhas,
[59]
que então se trabalhava muito a .
[60]
A foi uma coisa que acabou ainda depois da [pausa] do linho.
[61]
As [vocalização], as lãs eram criadas As ovelhas eram criadas no baldio.
[62]
Havia uma época que [vocalização]
[63]
Na época de Inverno elas estavam [pausa] dentro da serra;
[64]
na época de Verão iam para o fundo da caldeira.
[65]
Portanto, havia os ajuntamentos,
[66]
era uma festa.
[67]
No dia Principalmente no ajuntamento do fim do Verão, elas eram juntas e os donos,
[68]
eram assinadas,
[69]
os donos iam escolher cada um as suas,
[70]
tosquiavam-nas,
[71]
traziam as ov- traziam as lãs.
[72]
Depois de deixarem de t- de tecer ele o [vocalização] as colchas e de usarem as lãs, fazia-se ainda as sueras, que os lavradores usavam.
[73]
Era um agasalho que todos os lavradores tinham,
[74]
feitas aquelas sueras
[75]
Ainda temos aqui o Núcleo
[76]
visitou o Núcleo Etnográfico dos Cedros?
[77]
INF [vocalização] temos ainda essas sueras antigas.
[78]
Temos de tudo o que havia antigamente um pouco.
[79]
E então temos todos os utensílios com que se trabalhava o linho e a .
[80]
Temos a [vocalização] o tear
[81]
e [vocalização] temos a roda, o engenho,
[82]
temos o fuso,
[83]
temos tudo os ut-.
[84]
Isso está em tudo em [vocalização] em exposição.
[85]
De maneira que começou-se depois a ir
[86]
Começaram a aparecer outros agasalhos
[87]
e as pessoas começaram a ir ele a, a
[88]
Os baldios ficaram todo o ano à conta dos lavradores,
[89]
as pessoas começaram
[90]
Porque quando se tirou as ovelhas, as pessoas re- ficaram um bocado contrariadas porque achavam que a ovelha que era uma coisa que fazia muita falta.
[91]
E anos atrás fazia mesmo!
[92]
Mas depois a vida mudou,
[93]
as pessoas começaram a ter outros agasalhos
[94]
e realmente a ovelha não fez grande falta.
[95]
Mas [pausa] a colcha acolchoada era uma coisa que até os até recentemente era uma coisa que todas as casas faziam.
[96]
[vocalização] Eram [vocalização], cozia-se a Cardava-se a ,
[97]
não era fiada,
[98]
era cardada, postas em cima de duas dum lençol ou dum cobertor,
[99]
e depois era cozida.
[100]
E depois fazia-se com uma forra de chita e era ou chita, ou [nome], ou o que lhe quisessem fazer ,

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