R&D Unit funded by

Sentence view

Cedros, excerto 8

LocalidadeCedros (Horta, Horta)
AssuntoOfícios, profissões e outras actividades
Informante(s) Joana

Text: -


showing 1 - 100 of 168 • next


[1]
INF Olha, eu vou fa-, eu vou fala- vou falar muito da matança,
[2]
mas também gostaria de falar se se permite, se tem interesse, se não tem interesse não falo do nosso artesanato principal
[3]
que que as pessoas daqui viveram muito,
[4]
viveram mui- ajudou muito a sobreviver o pessoal deste lugar,
[5]
era as palhas o junco.
[6]
[vocalização] O junco é uma era um uma erva que dava nos cerrados do mato [pausa] e dava no fundo da caldeira.
[7]
Por exemplo, aquilo corta-se o junco praticamente no dia no mês de Julho, Agosto.
[8]
Cria uma altura mais ou menos de metro e meio metro, metro e meio.
[9]
E [vocalização] ia-se ao fundo da caldeira buscar molhos de junco,
[10]
trazia-se,
[11]
punha-se ao sol [vocalização] a secar, a curar
[12]
e depois com isso fazia-se tapetes,
[13]
fazia-se malas e que depois iam-se vender.
[14]
INF Malas de mão.
[15]
Malas de A gente chamava mala de quarta, a mala de meio alqueire, meio mala de, de, de cin- de três quartas, por exemplo.
[16]
Eram umas malas feitas numa forma de madeira.
[17]
Portanto, o junco vinha,
[18]
era curado,
[19]
e depois era amolado
[20]
que também na Casa Etnográfica tem a máquina que se amolava o junco ,
[21]
ficava amaçado,
[22]
e depois faz-se trança.
[23]
INF Um engenho de amolar palha.
[24]
[vocalização] Fazia-se o [vocalização] Fazia-se a trança
[25]
Por exemplo, como eu aqui disse, sempre foi o lugar de as pessoas se juntarem e trabalharem em grupo.
[26]
[vocalização] Íamos ao junco em grupos,
[27]
[vocalização] às vezes vinte, quinze, vinte pessoas juntavam-se:
[28]
"Olha, hoje vamos ao junco"!
[29]
Havia pessoas que iam em grupos mais pequenos porque havia pessoas que praticamente viviam daquilo e iam muita vez ao junco!
[30]
Eu conheci pessoas de irem três dias por semana:
[31]
iam à segunda
[32]
e iam à quarta
[33]
e iam à sexta-feira ao fundo da caldeira buscar molhos de junco.
[34]
Depois juntava, amola- amolava-se a palha,
[35]
faziam-se serões.
[36]
Juntavam-se a quarenta mulheres a fazer serões nas casas [vocalização] dois dias: segunda e terça para uma casa, terça e quarta para a outra, e quinta e sexta para a outra.
[37]
De tarde íamos amolar palha.
[38]
Até era bonito!
[39]
Porque os engenhos de muito trabalhar cantavam.
[40]
Guinchavam.
[41]
E a gente passava,
[42]
"Olha, fulana vai fazer serão hoje porque estavam a amolar palha,
[43]
estavam os engenhos a gu- a guinchar"!
[44]
A gente passava pela rua
[45]
e via às vezes oito, dez engenhos a amolar palha.
[46]
Porque não eram as pessoas todas que iam ao serão da noite que vinham amolar a palha.
[47]
A palha era as pessoas mais íntimas, mais amigas.
[48]
[vocalização] Ele enquanto se amolava, iam outras iam começar os cabos.
[49]
Porque aquilo começavam-se vinte cabos, que duas pessoas faziam o mesmo cabo:
[50]
fazia-se peças de trança de três dúzias.
[51]
Era o normal das pe-.
[52]
Ainda Todas as coisas tinham os seus pormenores.
[53]
Uma peça de trança eram três dúzias, trinta e seis varas de trança.
[54]
A trança era medida à vara.
[55]
[vocalização] E depois umas começavam os cabos,
[56]
as outras iam amolando.
[57]
Iam-se rendendo umas às outras
[58]
porque aquilo era cansativo!
[59]
Uma pessoa que amolava palha uma tarde inteira, principalmente o junco que era ri- era duro, era rijo, acabava cansada
[60]
e acabava a tran- a transpirar.
[61]
De Inverno e transpirava-se!
[62]
[vocalização] Um bocadinho talvez para para entusiasmar, faziam-se uns [vocalização] as favas torradas, milho torrado e [vocalização] .
[63]
Não era uma coisa que toda a gente fizesse, mas:
[64]
"Olha, fulana hoje deu milho torrado"!
[65]
Ele torrava-se o milho no tijolo
[66]
e deitava-se-lhe açúcar entremeio,
[67]
e outras torravam favas.
[68]
Depois então faziam-se os serões com as tranças, às tranças,
[69]
e depois faziam-se os tapetes.
[70]
[vocalização] Penso que esses que não que não devem existir,
[71]
mas eu tenho uma vizinha minha que fez [pausa] esteiras
[72]
Faziam-se passadeiras,
[73]
porque o que hoje se usa de oleado, naquele tempo usavam-se era tapetes de de junco.
[74]
Iam vender para a cidade,
[75]
iam vender para fora da freguesia,
[76]
porque era esta a única freguesia
[77]
Salão fazia também alguma coisa,
[78]
mas era pouco ,
[79]
era esta freguesia que fazia tapetes e ta- e passadeiras para toda a volta da ilha.
[80]
Ora, fazia-se um tapete de metro, um tapete de cinco quartas, para se ganhar quatro escudos!
[81]
Mas naquele tempo era assim.
[82]
[vocalização] Mas a casa do senhor doutor Jales, o falecido doutor Jano Jales, o seu quarto-de-jantar era todo forrado de em volta, a parede, uma uma certa altura de de esteira de trança de junco.
[83]
Uma vizinha minha é que lhe fez isso.
[84]
Com certeza que não deve de existir porque isso foi mais de cinquenta anos.
[85]
Mas a casa dele era forrada, o seu quarto-de-jantar.
[86]
E faziam-se
[87]
Pessoas ricas fa- mandavam fazer esteiras que depois eram ram- enramadas.
[88]
Pintava-se parte da trança em cores: verde, cor-de-rosa,
[89]
e enramavam os tapetes,
[90]
enramavam as passadeiras.
[91]
[vocalização] Corredores muito grandes, até às vezes fazia-se a passadeira
[92]
Ia-se fazer passadeira para casas de doutras pessoas que tivessem quartos maiores,
[93]
porque, às vezes, havia quartos que nem suportavam o comprimento das das passadeiras que eram encomendadas, que vinham com as suas medidas.
[94]
Depois a seguir, ele a ép- [vocalização] a época do junco era cultivar no Verão e trabalhar no Inverno.
[95]
De Verão, também se colhia a também se escolhia o
[96]
Era o tempo do trigo
[97]
e escolhia-se a palha do trigo para se fazer os chapéus.
[98]
[pausa] Também as pessoas trabalhavam em grupo.
[99]
Não tanto como na jun- como no junco,
[100]
mas também havia também se fazia os serões a coser chapéus, a fazer a trança.

Edit as listText view