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Cedros, excerto 8
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INF Olha, eu vou fa-, eu vou fala- vou falar muito da matança,
mas também gostaria de falar – se se permite, se tem interesse, se não tem interesse não falo – do nosso artesanato principal
que que as pessoas daqui viveram muito,
viveram mui- ajudou muito a sobreviver o pessoal deste lugar,
[vocalização] O junco é uma era um uma erva que dava nos cerrados do mato [pausa] e dava no fundo da caldeira.
Por exemplo, aquilo corta-se o junco praticamente no dia no mês de Julho, Agosto.
Cria uma altura mais ou menos de metro e meio – metro, metro e meio.
E [vocalização] ia-se ao fundo da caldeira buscar molhos de junco,
punha-se ao sol [vocalização] a secar, a curar
e depois com isso fazia-se tapetes,
fazia-se malas e que depois iam-se vender.
Malas de A gente chamava mala de quarta, a mala de meio alqueire, meio mala de, de, de cin- de três quartas, por exemplo.
Eram umas malas feitas numa forma de madeira.
que também lá na Casa Etnográfica tem a máquina que se amolava o junco –,
INF Um engenho de amolar palha.
[vocalização] Fazia-se o [vocalização] Fazia-se a trança…
Por exemplo, como eu aqui já disse, sempre foi o lugar de as pessoas se juntarem e trabalharem em grupo.
[vocalização] Íamos ao junco em grupos,
[vocalização] às vezes vinte, quinze, vinte pessoas juntavam-se:
"Olha, hoje vamos ao junco"!
Havia pessoas que iam em grupos mais pequenos porque havia pessoas que praticamente viviam só daquilo e iam muita vez ao junco!
Eu conheci pessoas de irem três dias por semana:
e iam à sexta-feira ao fundo da caldeira buscar molhos de junco.
Depois juntava, amola- amolava-se a palha,
Juntavam-se a quarenta mulheres a fazer serões nas casas [vocalização] dois dias: segunda e terça para uma casa, terça e quarta para a outra, e quinta e sexta para a outra.
De tarde íamos amolar palha.
Porque os engenhos de muito trabalhar cantavam.
"Olha, fulana vai fazer serão hoje porque estavam a amolar palha,
estavam os engenhos a gu- a guinchar"!
e via às vezes oito, dez engenhos a amolar palha.
Porque não eram as pessoas todas que iam ao serão da noite que vinham amolar a palha.
A palha era as pessoas mais íntimas, mais amigas.
[vocalização] Ele enquanto se amolava, iam outras iam começar os cabos.
Porque aquilo começavam-se vinte cabos, que duas pessoas faziam o mesmo cabo:
fazia-se peças de trança de três dúzias.
Ainda Todas as coisas tinham os seus pormenores.
Uma peça de trança eram três dúzias, trinta e seis varas de trança.
A trança era medida à vara.
[vocalização] E depois umas começavam os cabos,
Iam-se rendendo umas às outras
porque aquilo era cansativo!
Uma pessoa que amolava palha uma tarde inteira, principalmente o junco que era ri- era duro, era rijo, acabava cansada
e acabava a tran- a transpirar.
De Inverno e transpirava-se!
[vocalização] Um bocadinho talvez para para entusiasmar, faziam-se uns [vocalização] as favas torradas, milho torrado e [vocalização] .
Não era uma coisa que toda a gente fizesse, mas:
"Olha, fulana hoje deu milho torrado"!
Ele torrava-se o milho no tijolo
e deitava-se-lhe açúcar entremeio,
Depois então faziam-se os serões com as tranças, às tranças,
e depois faziam-se os tapetes.
[vocalização] Penso que esses que não que já não devem existir,
mas eu tenho uma vizinha minha que fez [pausa] esteiras…
porque o que hoje se usa de oleado, naquele tempo usavam-se era tapetes de de junco.
Iam vender para a cidade,
iam vender para fora da freguesia,
porque era esta a única freguesia –
Salão fazia também alguma coisa,
era esta freguesia que fazia tapetes e ta- e passadeiras para toda a volta da ilha.
Ora, fazia-se um tapete de metro, um tapete de cinco quartas, para se ganhar quatro escudos!
Mas naquele tempo era assim.
[vocalização] Mas a casa do senhor doutor Jales, o falecido doutor Jano Jales, o seu quarto-de-jantar era todo forrado de – em volta, a parede, uma uma certa altura – de de esteira de trança de junco.
Uma vizinha minha é que lhe fez isso.
Com certeza que já não deve de existir porque isso já foi há mais de cinquenta anos.
Mas a casa dele era forrada, o seu quarto-de-jantar.
Pessoas ricas fa- mandavam fazer esteiras que depois eram ram- enramadas.
Pintava-se parte da trança em cores: verde, cor-de-rosa,
enramavam as passadeiras.
[vocalização] Corredores muito grandes, até às vezes fazia-se a passadeira…
Ia-se fazer passadeira para casas de doutras pessoas que tivessem quartos maiores,
porque, às vezes, havia quartos que nem suportavam o comprimento das das passadeiras que eram encomendadas, que vinham com as suas medidas.
Depois a seguir, ele a ép- [vocalização] a época do junco era cultivar no Verão e trabalhar no Inverno.
De Verão, também se colhia a também se escolhia o…
e escolhia-se a palha do trigo para se fazer os chapéus.
[pausa] Também as pessoas trabalhavam em grupo.
Não tanto como na jun- como no junco,
mas também havia também se fazia os serões a coser chapéus, a fazer a trança.
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