Representação em frases

Cedros, excerto 8

LocalidadeCedros (Horta, Horta)
AssuntoOfícios, profissões e outras actividades
Informante(s) Joana

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[1]
INF Olha, eu vou fa-, eu vou fala- vou falar muito da matança,
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mas também gostaria de falar se se permite, se tem interesse, se não tem interesse não falo do nosso artesanato principal
[3]
que que as pessoas daqui viveram muito,
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viveram mui- ajudou muito a sobreviver o pessoal deste lugar,
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era as palhas o junco.
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[vocalização] O junco é uma era um uma erva que dava nos cerrados do mato [pausa] e dava no fundo da caldeira.
[7]
Por exemplo, aquilo corta-se o junco praticamente no dia no mês de Julho, Agosto.
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Cria uma altura mais ou menos de metro e meio metro, metro e meio.
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E [vocalização] ia-se ao fundo da caldeira buscar molhos de junco,
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trazia-se,
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punha-se ao sol [vocalização] a secar, a curar
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e depois com isso fazia-se tapetes,
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fazia-se malas e que depois iam-se vender.
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INF Malas de mão.
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Malas de A gente chamava mala de quarta, a mala de meio alqueire, meio mala de, de, de cin- de três quartas, por exemplo.
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Eram umas malas feitas numa forma de madeira.
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Portanto, o junco vinha,
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era curado,
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e depois era amolado
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que também na Casa Etnográfica tem a máquina que se amolava o junco ,
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ficava amaçado,
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e depois faz-se trança.
[23]
INF Um engenho de amolar palha.
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[vocalização] Fazia-se o [vocalização] Fazia-se a trança
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Por exemplo, como eu aqui disse, sempre foi o lugar de as pessoas se juntarem e trabalharem em grupo.
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[vocalização] Íamos ao junco em grupos,
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[vocalização] às vezes vinte, quinze, vinte pessoas juntavam-se:
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"Olha, hoje vamos ao junco"!
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Havia pessoas que iam em grupos mais pequenos porque havia pessoas que praticamente viviam daquilo e iam muita vez ao junco!
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Eu conheci pessoas de irem três dias por semana:
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iam à segunda
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e iam à quarta
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e iam à sexta-feira ao fundo da caldeira buscar molhos de junco.
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Depois juntava, amola- amolava-se a palha,
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faziam-se serões.
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Juntavam-se a quarenta mulheres a fazer serões nas casas [vocalização] dois dias: segunda e terça para uma casa, terça e quarta para a outra, e quinta e sexta para a outra.
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De tarde íamos amolar palha.
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Até era bonito!
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Porque os engenhos de muito trabalhar cantavam.
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Guinchavam.
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E a gente passava,
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"Olha, fulana vai fazer serão hoje porque estavam a amolar palha,
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estavam os engenhos a gu- a guinchar"!
[44]
A gente passava pela rua
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e via às vezes oito, dez engenhos a amolar palha.
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Porque não eram as pessoas todas que iam ao serão da noite que vinham amolar a palha.
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A palha era as pessoas mais íntimas, mais amigas.
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[vocalização] Ele enquanto se amolava, iam outras iam começar os cabos.
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Porque aquilo começavam-se vinte cabos, que duas pessoas faziam o mesmo cabo:
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fazia-se peças de trança de três dúzias.
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Era o normal das pe-.
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Ainda Todas as coisas tinham os seus pormenores.
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Uma peça de trança eram três dúzias, trinta e seis varas de trança.
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A trança era medida à vara.
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[vocalização] E depois umas começavam os cabos,
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as outras iam amolando.
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Iam-se rendendo umas às outras
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porque aquilo era cansativo!
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Uma pessoa que amolava palha uma tarde inteira, principalmente o junco que era ri- era duro, era rijo, acabava cansada
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e acabava a tran- a transpirar.
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De Inverno e transpirava-se!
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[vocalização] Um bocadinho talvez para para entusiasmar, faziam-se uns [vocalização] as favas torradas, milho torrado e [vocalização] .
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Não era uma coisa que toda a gente fizesse, mas:
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"Olha, fulana hoje deu milho torrado"!
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Ele torrava-se o milho no tijolo
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e deitava-se-lhe açúcar entremeio,
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e outras torravam favas.
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Depois então faziam-se os serões com as tranças, às tranças,
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e depois faziam-se os tapetes.
[70]
[vocalização] Penso que esses que não que não devem existir,
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mas eu tenho uma vizinha minha que fez [pausa] esteiras
[72]
Faziam-se passadeiras,
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porque o que hoje se usa de oleado, naquele tempo usavam-se era tapetes de de junco.
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Iam vender para a cidade,
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iam vender para fora da freguesia,
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porque era esta a única freguesia
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Salão fazia também alguma coisa,
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mas era pouco ,
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era esta freguesia que fazia tapetes e ta- e passadeiras para toda a volta da ilha.
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Ora, fazia-se um tapete de metro, um tapete de cinco quartas, para se ganhar quatro escudos!
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Mas naquele tempo era assim.
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[vocalização] Mas a casa do senhor doutor Jales, o falecido doutor Jano Jales, o seu quarto-de-jantar era todo forrado de em volta, a parede, uma uma certa altura de de esteira de trança de junco.
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Uma vizinha minha é que lhe fez isso.
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Com certeza que não deve de existir porque isso foi mais de cinquenta anos.
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Mas a casa dele era forrada, o seu quarto-de-jantar.
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E faziam-se
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Pessoas ricas fa- mandavam fazer esteiras que depois eram ram- enramadas.
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Pintava-se parte da trança em cores: verde, cor-de-rosa,
[89]
e enramavam os tapetes,
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enramavam as passadeiras.
[91]
[vocalização] Corredores muito grandes, até às vezes fazia-se a passadeira
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Ia-se fazer passadeira para casas de doutras pessoas que tivessem quartos maiores,
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porque, às vezes, havia quartos que nem suportavam o comprimento das das passadeiras que eram encomendadas, que vinham com as suas medidas.
[94]
Depois a seguir, ele a ép- [vocalização] a época do junco era cultivar no Verão e trabalhar no Inverno.
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De Verão, também se colhia a também se escolhia o
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Era o tempo do trigo
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e escolhia-se a palha do trigo para se fazer os chapéus.
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[pausa] Também as pessoas trabalhavam em grupo.
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Não tanto como na jun- como no junco,
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mas também havia também se fazia os serões a coser chapéus, a fazer a trança.

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