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Cedros, excerto 25

LocalidadeCedros (Horta, Horta)
AssuntoOfícios, profissões e outras actividades
Informante(s) Joana Jaqueline

Text: -

[1]
INF1 Era o sapateiro.
[2]
Também tínhamos bons sapateiros.
[3]
INF1 Não,
[4]
até porque não tínhamos assim sapateiros aqui muito mal amanhados.
[5]
Tínhamos aqui bons sapateiros!
[6]
E agora o que era normal era o sapateiro normalmente era deficiente:
[7]
ou era cambado,
[8]
ou era doente de falta de ar,
[9]
ou tinha qualquer defeito para não poder fazer uma profissão normal.
[10]
INF1 Mas [vocalização] Mas assim sapateiros muito mal amanhados, e se os havia, não tinham nome especial.
[11]
INF1 A forma.
[12]
A forma do sapato.
[13]
INF1 Que Que é de abrir [vocalização]…
[14]
Também isso deve ter um nome
[15]
mas eu então esse nome…
[16]
Eu sei o que é
[17]
mas não sei chamar o nome.
[18]
INF1 Sovela, não.
[19]
Aqui chama-se sovela é aquilo que furava para coser a sola do sapato.
[20]
INF1 Mas aquilo que era…
[21]
Que eu sei o que é,
[22]
que eu ainda te- ainda até tenho uma filha minha que lhe deram uma coisa dessas que é:
[23]
quando o sapato fica apertado, mete-se dentro do sapato…
[24]
É uma cunha!
[25]
INF1 Para estic– Para esticar o sapato.
[26]
INF1 Ah, a sovela é de coser a sola do sapato.
[27]
Aqui havia sapateiros bons que faziam sapatos de ho- de os homens usarem em dia de festa.
[28]
E também me lembro que não se andava calçados.
[29]
Ninguém andava calçado.
[30]
[vocalização] [pausa] Andava-se de galochas.
[31]
Havia os tanoeiros que faziam as galochas, faziam as selhas, os baldes.
[32]
Eram as pessoas que trabalhavam em madeira.
[33]
Ia-se buscar muita madeira de cedro à borda, ao à rocha da caldeira, para fazer os cepos –
[34]
que se chamava cepos aquilo com que se fazia as galochas para calçar.
[35]
Aqui nunca foi estilo os homens andarem de galochas;
[36]
andavam de albarcas.
[37]
[pausa] Depois começou-se a fazer umas traquinetas, também feitas de madeira, mas então já mais [vocalização] embelezadas, com umas riscas,
[38]
pintavam-lhe,
[39]
faziam uns enfeites.
[40]
Às senhoras, faziam-lhas cobertas de madeira,
[41]
bordavam-lhe uns raminhos por cima
[42]
e punham-lhe uma tira, que era uma [pausa] traquineta com calcanhar, [pausa] que que lhe batia.
[43]
Era um sapato como a gente hoje usa sapatos sem calcanhar;
[44]
naquele tempo, às vezes, usava-se aquilo.
[45]
Depois começaram a aparecer as sandálias.
[46]
Ora a sandália era uma coisa de luxo.
[47]
INF1 Já é Não.
[48]
[vocalização] Então a sanda- a sandália já era feita em cabedal.
[49]
Já eram os sapateiros que faziam.
[50]
INF2 Não sei há quantos anos que eu não encontro.
[51]
Eu sempre me lembro então de andar com umas.
[52]
INF1 [vocalização] Fazia-se as sandálias no sapateiro.
[53]
[vocalização] Havia então umas mais baratas…
[54]
Que depois começou então toda a gente a andar calçada,
[55]
e a galocha já começou a desaparecer mais,
[56]
começaram a fazer-se as sandálias.
[57]
Uma sanda- Um par de sandálias custava setenta escudos.
[58]
Era mais custoso comprar um par de sandálias por setenta escudos do que hoje um par de sapatos por sete contos.
[59]
INF1 Mas compra- fazia-se as sandálias, por exemplo, para se ir à missa, para se ir ao dia de São João.
[60]
Normalmente as sandálias novas saíam no dia de São João.
[61]
INF1 [vocalização] [pausa] Eram esses sapateiros que faziam as sandálias.
[62]
Então depois começaram a fazer umas sandálias mais mais toscas, mais grosseiras, bem feitas, fortes, mas mais grosseiras para se [pausa] andar pela terra, [pausa] e então as outras mais para para o dia de festa mais.
[63]
Para o dia de festa não!
[64]
Para a festa de São João – como acabei de dizer –, festa de São Pedro, para as festas populares, [pausa] em que era traje mais [vocalização] mais simples.
[65]
INF E [vocalização] E então os sapatos dos homens eram feitos no sapateiro.
[66]
Compravam-nos feitos no sapateiro por serem mais baratos e por serem mais fortes.
[67]
INF Muita gente fazia [vocalização] sapatos no sapateiro, sapato de homem.
[68]
INF E alguns faziam-nos no sapateiro porque os pés eram tão grandes que não havia à venda sapatos que lhe servissem.

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