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Cedros, excerto 57

LocalidadeCedros (Horta, Horta)
AssuntoA ceifa, a debulha e a desfolhada
Informante(s) Joana

Text: -


[1]
INF A eira era feita de cré.
[2]
Era acombrada em volta da
[3]
[pausa] Por exemplo, aquilo Eu não me lembro de se fazer nenhuma eira nova
[4]
Não,
[5]
eu lembro-me de fazer-se alguma eira nova aqui, mas poucas.
[6]
Por exemplo, as eiras eram acombradas;
[7]
ia-se à pedreira encomendar a pedra, os combros, que era uma uns bocados de pedra, mais ou menos do mesmo tamanho, que não era pedra [vocalização] da melhor,
[8]
e era feita, mais ou menos no mesmo tamanho e na mesma altura.
[9]
Depois era chamado o pedreiro que ia acombrar a eira.
[10]
[vocalização] A eira era acombrada
[11]
e depois era rodada,
[12]
fazia limpavam a terra,
[13]
e depois era carreado o cré.
[14]
Ora, o meu marido até talvez saiba quantas carradas de cré é que levava,
[15]
mas era à volta de trinta carradas de cré [pausa] que se punha
[16]
INF Não.
[17]
Punha-se dentro da terra
[18]
INF [vocalização] Fazia-se como, a As pedras era para para rodar a ei- para
[19]
INF Os combros, que era para vedar a eira.
[20]
INF Ele sei ,
[21]
combros mais ou menos naquela
[22]
INF Como estas que tenho aqui fora;
[23]
ele mais ou menos vinte e cinco centímetros ou trinta.
[24]
INF Portanto, [vocalização] depois de estar a eira acombrada, era rodada a eira por dentro, para ficar baixo, para depois poder levar a cré.
[25]
Afundavam, [pausa] sei , uns trinta centímetros.
[26]
Porque para pôr ali dentro de vinte a trinta carradas de cré, era muita carrada.
[27]
Ia-se buscar o cré ao Salão.
[28]
Convidavam-se dez ou doze carros ou
[29]
Que eu penso que era uma carrada que iam buscar por cada vez.
[30]
Era um dia que se ia buscar cré.
[31]
INF Iam de manhã os carros com as vacas,
[32]
e [vocalização] e ia-se buscar o cré,
[33]
e estendiam o cré na eira
[34]
Havia então uma pessoa que não ganhava,
[35]
mas era o mestre da eira, é que sabia destinar a eira.
[36]
Portanto, a eira era feita [pausa] com água,
[37]
faziam como uma uma malaçada, um [vocalização] barro,
[38]
e era com muita gadaria, a eira bem fechada de gado a calcar, a calcar aquilo para o chão, [pausa] e os homens a bater com paus.
[39]
[vocalização] O gado apezinhavam, para fazer como um vidro, [vocalização] para aquilo abater, para o chão,
[40]
e os homens calcavam com uns paus, [pausa] uns paus que não era paus, era
[41]
[pausa] Não estou a ver bem
[42]
mas eu penso que era assim:
[43]
o pau tinha um pau grosso, maior, em baixo,
[44]
e depois em cima tinha um que encavava
[45]
e o homem pegava no pau
[46]
e ia batendo para para abater a eira;
[47]
depois de a eira ficar fei- fei- isso era nesse dia.
[48]
E depois ficava, ainda mais oito ou dez dias, sempre a trabalharem na eira, de dia.
[49]
[vocalização] Havia uma grade, se- umas grades que não eram com uns dentes de ferro,
[50]
eram com dentes de madeira.
[51]
E ficavam ele durante dois oito, dez dias também agora não estou a prever bem, mas era um uma quantidade de dias a and- o gado sempre a andar com aquela grade, para fazer o vidro da eira.
[52]
Quando a eira E então nesse nesses dias não era ele com [vocalização] com gente de fora.
[53]
Mas havia pessoas
[54]
Porque não havia muitos gados
[55]
e aquilo cansava o gado!
[56]
E eles iam ajudando:
[57]
[vocalização] um dia ia um da parte da manhã, outro da parte da tarde,
[58]
iam ajudando.
[59]
E o que era o mestre da eira é que ia ver quando é que a eira estava a modo de ficar.
[60]
Quando a eira começava a cantar o, a, a, a a grade passava
[61]
e aquilo guinchava:
[62]
"Olha, a eira está quase feita, que está a guinchar" está ca- a cantar!
[63]
" está a grade está a cantar".
[64]
E assim ficavam as eiras feitas.
[65]
Depois Ainda umas quantas eiras de cré, mas poucas.
[66]
Algumas acertavam muito bem,
[67]
outras não acertavam tão bem.
[68]
Começavam a desfazer,
[69]
começavam a desfa- a esfarelar.
[70]
Agora vinte e [vocalização] vinte e cinco, vinte e seis anos para , as pessoas começaram a substituir o cré pela cimento.
[71]
E normalmente as eiras são feitas de cimento.
[72]
E muitas eiras que desapareceram.
[73]
As pessoas [vocalização] deixaram de [vocalização]
[74]
Fazem uns pequenos eirados diante da porta com cimento,
[75]
porque também a eira hoje não tem grande utilidade.
[76]
INF Não se faz [vocalização]
[77]
O trigo desapareceu;
[78]
semea- malhava-se o tremoço,
[79]
também está com tendência mesmo a desaparecer
[80]
e mesmo havia muito pouco.
[81]
Porque a eira era muito
[82]
[vocalização] A maior importância de a eira ser redonda era para a debulha do trigo.
[83]
Porque para um malhar o tremoço, ou outra coisa que se malhe, tanto faz ser redonda como quadrada, porque malha-se de qualquer maneira.
[84]
O trigo é que tinha que ser redondo para a vaca poder andar de roda.

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