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Covo, excerto 10

LocationCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Arquibaldo
SurveyALEPG
Survey year1992
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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[1]
INF Olhe, minha senhora, eu digo isto –
[2]
e vocês podem perguntar aonde vocês quiserem –
[3]
não tem famílias como a nossa.
[4]
, [pausa] Não.
[5]
Olhe que a nossa, [vocalização] nossa em nossa casa, ninguém sabe aonde é que está a miséria.
[6]
[pausa] Eu com os meus irmãos não se sabe:
[7]
porque se eles não tem, estão em minha casa;
[8]
se eu, às vezes, preciso de qualquer coisa, vou à casa deles,
[9]
[pausa] e ali é é uma família toda…
[10]
INF Irmãos,
[11]
mas todos amigos,
[12]
todos dados uns com os outros
[13]
que não há a mais pequenina coisa.
[14]
INF Nunca houve a mais pequena coisa uns com os outros.
[15]
INF Ah, não, não!
[16]
Nunca!
[17]
Olhe que eu chego a minha ca- [vocalização], lá,
[18]
às vezes, vem uma pessoa de fora,
[19]
eles logo vêm, logo perguntar:
[20]
"É preciso alguma coisa"?
[21]
Nós quando vamos a casa de- e eles à casa…
[22]
Ou que nós veja que é gente assim duma certa coisa:
[23]
"É preciso alguma coisa"?
[24]
INF "Não".
[25]
Ou "é", ou "não é".
[26]
Se é, vêm buscar;
[27]
se não é, pronto!
[28]
INF É.
[29]
É muito – a família – amiga.
[30]
INF Não.
[31]
Já morreram dois.
[32]
Já morreu o mais velho, que era o Artúlio,
[33]
e morreu a minha irmã que estava casada ali no Monte da Velha, que era a Belmira.
[34]
[vocalização] Já morreu dois,
[35]
agora são os outros vivos ainda.
[36]
Por enquanto.
[37]
INF Éramos sete;
[38]
agora somos cinco.
[39]
INF Não.
[40]
Agora, os ou-, os ou–, os ou- Os outros agora estão cá todos.
[41]
Os outros, os que estavam fora, só está uma ali na Macieira,
[42]
os outros estão cá.
[43]
Está cá a Benilde, que é [vocalização] a chegada ao mais velho;
[44]
está cá o Bento;
[45]
estou cá eu,
[46]
três;
[47]
e a dali,
[48]
quatro;
[49]
e a e a de coiso, dacolá,
[50]
cinco;
[51]
e dois que morreram
[52]
sete.
[53]
INF Pois é.
[54]
INF Não.
[55]
O mais velho é o que morreu, o Artúlio.
[56]
Morreu com setenta e e oito anos.
[57]
Setenta e oito.
[58]
A minha irmã – era mais velha que a mim também, mais três anos – também já morreu há um ano.
[59]
E depois sou eu o chegado,
[60]
mas tem uma que é a mais é a chegada ao mais velho, que é a a mãe do professor.
[61]
INF [vocalização] É [vocalização] aqui em Vale de Cambra.
[62]
INF É ali [vocalização] ao pé do Pinheiro Manso – do Pinheiro Manso.
[63]
Oh, eles estão a passar muito bem também.
[64]
Eles estão também estão muito bem!
[65]
INF Não, professor de, de
[66]
INF da escola primária,
[67]
é.
[68]
Traz dois filhos a estudar:
[69]
traz um no Porto,
[70]
traz outro em Coimbra.
[71]
Tem só os dois filhos,
[72]
tal e qual os dois a estudar, um em Coimbra e outro no Porto.
[73]
Esse rapaz também está bem.
[74]
Mas [vocalização] Mas o princípio dele viu-se atrapalhado.
[75]
INF Olhe, minha senhora, eu digo:
[76]
eu acho que não houve aí nenhum houve pessoa nenhuma que passasse tantos trabalhos no princípio da vida como eu.
[77]
Hoje estou bem, graças ao Senhor.
[78]
INF Mas passei muitos trabalhos.
[79]
INF Porquê?
[80]
Porque não tinha.
[81]
[vocalização] Não tinha.
[82]
INF Não tinha as terras,
[83]
não tinha terras,
[84]
[vocalização] não tinha terras,
[85]
não tinha [vocalização] aqui [vocalização]…
[86]
Vim de Lisboa,
[87]
trouxe um dinheirito,
[88]
mas depois as minhas irmãs casaram-se duas,
[89]
dei-lho
[90]
e tive que lhe pedir dinheiro para as acomodar,
[91]
[pausa] que ele não…
[92]
INF Era ser raparigas
[93]
mas foi o seguinte:
[94]
é que elas, [vocalização] os que as queriam – os homens delas –, queriam logo:
[95]
"Ou me dá tanto
[96]
ou não a quero"!
[97]
INF Antig-, era sim senhora.
[98]
"Se não dá tanto, não quero"!
[99]
Ora, o meu pai não tinha,
[100]
INF e eu, como é que eu ia fazer?

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