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Covo, excerto 15

LocationCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Arquibaldo
SurveyALEPG
Survey year1992
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Nós aqui, ainda é ainda é um bem:
[2]
a gente não paga lenha;
[3]
a gente não paga luz [vocalização] a luz,
[4]
paga a electricidade,
[5]
mas quer dizer , não paga água,
[6]
não paga [vocalização]
[7]
O que é que a gente gasta?
[8]
Algum Algum arrozito, nalguma massa,
[9]
o resto é tudo de casa.
[10]
Tem a hortaliça,
[11]
tem fe- tem o feijão,
[12]
tem
[13]
O lavrador
[14]
INF É nas cidades.
[15]
INF Não tem têm nada.
[16]
INF Mas, olhe , ó senhora Gabriela, diga-me uma coisa: a que é que
[17]
você vocês conhecem-me bem
[18]
e esta senhora conhece-me
[19]
porque é que vão atrás do dinheiro
[20]
INF e se você pode ter uma casa cheia de dinheiro mas não tendo comer você morre à fome?!
[21]
INF É ou não é?
[22]
INF E se você n- tiver menos dinheiro ou pouco dinheiro mas tiver muito comer, não morre.
[23]
INF Não morre!
[24]
Para mim, é este:
[25]
eu fui um homem sempre desde menino pequeno sempre agarrado à agricultura.
[26]
Sempre, de menino pequeno!
[27]
E eu entendo
[28]
eles fazem mangação da gente.
[29]
Dizem: "Ai!
[30]
Anda à terra,
[31]
anda sujo,
[32]
anda"
[33]
Deixá-lo,
[34]
mas uma pessoa tem que comer!
[35]
INF Não acham?
[36]
INF Eu acho que é assim,
[37]
mas gente que não, não pensa nisso.
[38]
gente que [vocalização] que quer o dinheirito.
[39]
Conheço
[40]
INF Não quer,
[41]
não senhor.
[42]
INF Então e depois , a, a a miséria está .
[43]
INF Mas Mas a miséria está .
[44]
Olhe , como é que o governo há-de empregar tanta gente?
[45]
INF Diga-me.
[46]
Aonde?
[47]
Aonde?
[48]
Eu digo-lhe aonde!
[49]
E se protegesse mais agricultura, se agarra mais à terra.
[50]
INF O meu netito diz ao acaso: "Ó avô!
[51]
Ah, eu, se não puder estudar, tenho que me agarrar à terra;
[52]
mas se puder estudar vou estudar
[53]
e não quero saber da terra".
[54]
Ora, o que é que um homem
[55]
O que é que me valeu andar a matar?!
[56]
INF Sim.
[57]
Veja , o pequenito que
[58]
INF Pois pode.
[59]
INF Sim senhor.
[60]
Pode,
[61]
pode,
[62]
pode.
[63]
Pois pode.
[64]
E, e, e E se eu for vivo para então, é o que eu vou fazer.
[65]
Não queria que ele desprezasse a terra.
[66]
INF Porque quem tanto trabalhou, quem tanto se matou, quem tanto fez, e agora vê-la deixar assim, olhe, a tojo, a mato, [pausa] custa um bocado.
[67]
INF Para mim custa-me.
[68]
INF Mas gente que não pensa nisso.
[69]
INF Sim,
[70]
gente que não quer saber disto,
[71]
mas eu custa-me.
[72]
Custa-me
[73]
porque [pausa] fui aga- agarrado a isto.
[74]
INF Mas [pausa] é uma coisa que pouco.
[75]
A agricultura é uma coisa que está muito em baixo.
[76]
Mas que havemos nós de fazer?
[77]
Nem todos pode estudar,
[78]
nem todos pode trabalhar na terra.
[79]
Mas, meu amigo
[80]
Eu vejo
[81]
tenho que ver;
[82]
saio, às vezes, para o Porto, ou outras vezes para para Coimbra,
[83]
e às vezes quando vou à caça campos e campos e campos tão bons, tudo, tudo desprezado.
[84]
INF Aquela vinha tudo desprezado!
[85]
Eu logo o que lembra-me assim:
[86]
ó que esta gente não terá?
[87]
Que é que eles comem?

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