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Covo, excerto 30

LocationCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Arquibaldo Bigail
SurveyALEPG
Survey year1992
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF1 Um dia, [vocalização] a minha mulher ia mais as as out-, mais essa e mais outras.
[2]
Iam ali para a Lomba que é aonde a minha no- donde veio a minha nora ,
[3]
e ouviam o velho do Quelho
[4]
INF2 Ah, sei,
[5]
sei.
[6]
INF1 O velho do Quelho,, [pausa] isso era de raça!
[7]
INF2 Sim,
[8]
eu lembra-me.
[9]
INF1 Ele começou:
[10]
"Foreus,
[11]
que esta gente da Lomba não tem vergonha, dar-lhe uvas a esta gente!
[12]
Comam moras"!
[13]
Porque aqui é o sítio da, da das amoras, que é das silvas.
[14]
INF2 Das amoras, que tem que têm as silvas.
[15]
INF1 Das silvas, dão as amoras.
[16]
INF2 Vocês não Vocês nunca viram as amoras nas silvas?
[17]
INF1 ?
[18]
INF2 ?
[19]
Ui, aqui é que é lindo!
[20]
INF1 Aqui é que é
[21]
INF1 Ui!
[22]
INF2 E a canalha arranja malgas delas!
[23]
E depois m- massacram numa malga
[24]
e botam-lhe pão,
[25]
toca a comer!
[26]
INF1 A canalha come aquilo.
[27]
INF2 Come.
[28]
INF1 E depois, começou a fazer,
[29]
a minha mulher chegou à noite,
[30]
diz assim: "Ó Arquibaldo, olha que [pausa] eu nunca mais vou às uvas à Lomba".
[31]
"Então porquê"?
[32]
"Olha, foi assim,
[33]
assim, ele o velho do Quelho".
[34]
An- Até estava um filho a servir aqui em minha casa.
[35]
Um filho, nos princípios da minha vida não tinha [vocalização]
[36]
Pronto!
[37]
Trazia-o
[38]
Que eu precisava de um criadito para me guardar o gado;
[39]
o meu filho era pequenito!
[40]
E eu disse: "Não tornas mais!
[41]
Não tornas mais"!
[42]
"Não torno, Arquibaldo,
[43]
não torno mais,
[44]
que ele eu é que tive vergonha
[45]
e ele a fazer mangação de nós"!
[46]
"Está bem"!
[47]
Hoje, queria que ele fosse vivo e dizer-lhe assim: "Olha, tenho o dobro, três dobros do vinho a mais que a ti"!
[48]
INF2 Ah, pois.
[49]
INF1 Comecei a pôr,
[50]
comecei a pôr,
[51]
comecei a zelar,
[52]
comecei a pôr
[53]
INF2 Ele quando se via além, ele a zelar.
[54]
Zelar!
[55]
INF1 Zelar e ter
[56]
Seja o que for!
[57]
INF2 Seja o que for!
[58]
INF1 É que, as senh-, seja As senhoras compreendam uma coisa:
[59]
se as senhoras agarrarem um vício de p- de ter uma coisa qualquer, é que têm mesmo!
[60]
INF2 É, é, é.
[61]
INF1 Foi como eu:
[62]
olhe, de princípio comecei,
[63]
pedia a Deus,
[64]
[pausa]queria deixar de comprar milho.
[65]
Não comprar, ter milho que chegasse [pausa] para a para a minha gente!
[66]
Deus deu-mo.
[67]
Pedia
[68]
Comprava centeio,
[69]
pedia a Deus que Deus me desse [pausa] centeio para não andar a comprar.
[70]
Deus deu-mo.
[71]
Pedia a Deus que Deus me desse vinho para não andar a, a c- a comprar vinho.
[72]
Deus deu-mo, homem!
[73]
Eu estou de bem com Deus!

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