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Carrapatelo, excerto 10

LocationCarrapatelo (Reguengos de Monsaraz, Évora)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Hermes
SurveyALEPG
Survey year1979
Interviewer(s)João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Eu fui concertado, em novo, além para a aldeia dos Monturinhos.
[2]
Fui para além concertado, em novo.
[3]
Tinha dezoito anos.
[4]
Fui para para carreiro andar estar com uma parelha.
[5]
INF ?
[6]
INF Estive um ano.
[7]
Depois, ao fim de um ano, o meu pai não queria que eu ficasse.
[8]
Porque eu era também alvário.
[9]
INF Pois.
[10]
E o meu pai dizia:
[11]
"Está para além
[12]
e depois a gente não sabe o que ele faz!
[13]
Para além se torna aborrecido.
[14]
Quem é que sabe agora o que ele para faz"?!
[15]
O povo não me largava!
[16]
Não senhora,
[17]
não me largava!
[18]
Sopro para avivar o lume O dia quando eu me vim embora
[19]
Que depois eu ganhava trigo
[20]
Eu ganhava trigo
[21]
chama-lhe a gente o ensacado ,
[22]
ganhava trigo.
[23]
E depois eu vim-me embora no dia 15 de Agosto no dia 14 de Agosto.
[24]
E depois daí a [vocalização] a uns dias fui buscar o resto do trigo.
[25]
Mas fui logo
[26]
Levei uns burros que tinha o meu pai, e um carro
[27]
e pensei em ir num domingo.
[28]
Pensei em ir num domingo.
[29]
Esse domingo, assim que deram razão de mim, vieram ter logo ao princípio do povo.
[30]
Tiraram-me os burros e o carro,
[31]
levaram-nos não sei para onde,
[32]
e depois o resto do dia, fomos medir o trigo.
[33]
Ele depois o resto do dia foi paródia.
[34]
A rapaziada e as raparigas, tudo de roda de mim!
[35]
Tudo de roda de mim!
[36]
Ninguém Não me deixavam.
[37]
Não senhora!
[38]
Não me deixavam.
[39]
Eu tive um sonho com uma rapariga de
[40]
e era rica.
[41]
Mas era muito minha amiga.
[42]
E bonitinha!
[43]
E ela morreu, muito ano.
[44]
Morreu nova.
[45]
Morreu com dezasseis ou dezassete anos.
[46]
Tive um sonho com ela.
[47]
Uma noite estava deitado está claro
[48]
e [vocalização] tive um sonho com ela.
[49]
Que era um baile aqui no Carrapatelo.
[50]
E eu cheguei ao do baile
[51]
e não conhecia ninguém.
[52]
Era a sonhar,
[53]
não conhecia ninguém.
[54]
Ele depois ouço uma pessoa a dizer assim:
[55]
"Ah, isto é família dos Hermínios".
[56]
E depois começaram a cantar.
[57]
Eu, o cante, soube-o muito tempo
[58]
mas hoje não sei.
[59]
Mas ainda me lembra um verso que eu ouvi no sonho.
[60]
Um verso assim
[61]
ela era Inês, essa rapariguita,
[62]
era Inês
[63]
"Inesita, vais à festa"?
[64]
"Vou sim, ó meu lindo amor".
[65]
"Inesita, vais à festa,
[66]
pois então vai-te compor".
[67]
Depois apareceu ela na roda.
[68]
tinha morrido mais de uma dúzia de anos, ou duas!
[69]
Veja !

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