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Carrapatelo, excerto 53

LocationCarrapatelo (Reguengos de Monsaraz, Évora)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Hermes
SurveyALEPG
Survey year1979
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF O cante alentejano era bonito!
[2]
É,
[3]
era bonito!
[4]
Eu era perdido por este por o cante alentejano.
[5]
Eu ensinava até a cantar cantes.
[6]
Eu fazia cantes alentejanos.
[7]
Hoje [pausa] vossemecês podem-se admirar , mas eu, hoje, eu tenho tido essa telefonia,
[8]
e ouço cantar estrangeiros,
[9]
não ligo àquilo.
[10]
Não senhor!
[11]
Não ligo àquilo.
[12]
Eu não sei o que aquilo é!
[13]
Nem lhe conheço
[14]
Não Não sei o que eles dizem nem o que eles cantam.
[15]
E o cante é também tão diferente!
[16]
Pois.
[17]
Não Eu não ligo, muitas das vezes, ao cante estrangeiro.
[18]
Não senhor!
[19]
Não ligo.
[20]
Então, são coisas!
[21]
Porque eu cantava e cantava!
[22]
[pausa] Porque em eu começando a cantar, juntavam-se grupos de pessoas de roda de mim.
[23]
Pois.
[24]
Hoje é que não presto.
[25]
Mas:
[26]
"Ó Alentejo não desprezes o teu cante alentejano,
[27]
esse cante do estrangeiro para ti é um engano.
[28]
Para ti é um engano,
[29]
tu andas enganado,
[30]
ó Alentejo não desprezes o que sempre tens cantado".
[31]
Isso são tudo coisas feitas por mim.
[32]
Pois.
[33]
E às vezes ouço essa gente estrangeira,
[34]
ah, eu não percebo dali nada,
[35]
nem sei o que eles dizem,
[36]
não sei se os versos são bons nem se são ruins.
[37]
Não percebo as palavras!
[38]
O cante também é uma coisa para ali sem talho nem feição,
[39]
eu não sei o que aquilo é.
[40]
Pois.
[41]
Uma vez ouvi um festival [pausa] um festival de dumas poucas de nações , cantaram [pausa] umas poucas, nove ou dez pessoas, aonde cantou uma inglesa, uma rapariguita nova inglesa
[42]
aparecia na televisão,
[43]
eu estava a ver na televisão.
[44]
Eu não sabia o que ela dizia
[45]
isso não sabia ,
[46]
mas cantava tão bem, tão bem, tão bem que eu até não sabia o que havia de dizer àquilo, tão bem que cantava!
[47]
Vi doutra vez um outra outro festival,
[48]
eram portugueses,
[49]
eram nove, parece.
[50]
[pausa] A pessoa que eu ouvi cantar melhor, para o meu gosto, foi a que não lhe deram pontos nenhuns.
[51]
Digo:
[52]
"Ora esta"!
[53]
Cantaram uns, como lhe digo,
[54]
aquilo não era nada,
[55]
tinham para ali pontos que era aos cinco e aos seis e às dúzias,
[56]
e esta tão bem que cantava
[57]
não lhe deram pontos nenhuns!
[58]
"Eh mãe santíssima"!
[59]
Doutra vez, ouvi outro festival,
[60]
eram três a cantar, cada um de sua vez.
[61]
O melhor que cantou estava tocando num violão:
[62]
"Eu mais o meu violão, ão, ão, ão, ão!
[63]
Eu mais o meu violão, ão, ão, ão, ão!
[64]
Eu mais o meu violão, ão, ão, ão, ão"!
[65]
Digo:
[66]
"Ora, ora, ora, o que é isto senhor"?!
[67]
Risos É assim que E ainda foi o que cantou melhor dessa vez, mais ao meu gosto.
[68]
Mas dizia isto:
[69]
"Eu mais o meu violão, ão, ão, ão, ão"!

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