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Vila do Corvo, excerto 42

LocationVila do Corvo (Corvo, Horta)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Feliciano Felício
SurveyALEPG
Survey year1979
Interviewer(s)João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationSandra Pereira Márcia Bolrinha
LemmatizationMárcia Bolrinha

Text: -


[1]
INF1 Noventa e cinco, incompletos.
[2]
Morreu no fim de Agosto
[3]
e fazia os noventa e cinco a 30 de Setembro.
[4]
INF1 Eu?!
[5]
Morreu antes de mim antes de eu nascer!
[6]
INF1 Morreu em Agosto 13 e eu nasci em Agosto 14.
[7]
[pausa] Mas é os meus filhos que têm a cédula dele.
[8]
E o meu pai dizia que ele com mais de oitenta que ainda tinha a lavoura dele ao cuidado dele.
[9]
INF1 E [vocalização] E era todo comichoso.
[10]
Ele era duro, maligno.
[11]
Por isto: ele ele veio a cegar.
[12]
Estava cego em casa e sem sair de casa.
[13]
INF2 Como ninguém está passando agora.
[14]
Olha que miséria que ele estava passando para aqui, coitado.
[15]
INF1 Meu pai, [pausa] moço de [vocalização] duns vinte anos, ainda nem tinha vinte
[16]
Ora, no meu entender, ele o avô não deve dar bons conselhos ao neto?!
[17]
INF1 Parecia-me que sim.
[18]
Foi buscar tremoços à taberna.
[19]
Fica perto da Júlia.
[20]
O caminho apertado, não podi- podia passar senão um carro nele,
[21]
não tinha lugar de dois.
[22]
Estava carregando os tremoços
[23]
e um velhote que era dono da
[24]
casa da do Ferdinando Feliz, dos Feliz, é o filho do Ferdinando Feliz chega com o carro dele e [vocalização] começa a fazer zaragata com ele de ele ter o caminho tapado.
[25]
Queria Queria andar.
[26]
"Agora espere.
[27]
Deixe-me carregar".
[28]
O velho zaragata com ele bastante.
[29]
No outro dia, [pausa] chega meu pai para carregar os tremoços e o Feliz com o caminho tapado.
[30]
"Diz que eu não tinha razão nenhuma!
[31]
Eu queria-me pagar da véspera, do barulho que ele tinha feito comigo"!
[32]
[pausa] A tia Florisbela [pausa] morreu
[33]
Tu tinhas um ano quando quando ela morreu.
[34]
[pausa] Não, ela morreu no ano que tu nascestes.
[35]
Ela morreu em Julho
[36]
e tu nascestes em Setembro, em 51.
[37]
[pausa] Ia-lhe ajudar a carregar os tremoços.
[38]
Ela tinha uma língua tão comprida como é daqui ao caminho.
[39]
Não precisava de vir dizer ao velho a casa que ele tinha feito zaragata com ele na nos dois dias!
[40]
Veio dizer ao velho a casa.
[41]
Sabes ele o que disse ao neto?
[42]
"Vales pouco.
[43]
Devia ser eu em meus dias!
[44]
Ia o Josino, o carro e os bois, tudo para a terra do João Lobo"!
[45]
INF1 Que então era de pele!
[46]
INF1 Ele era para para dar bom conselho ao neto.
[47]
Diz: Homem "Homem tem juízo.
[48]
Andas agora a fazer zaragata pelos caminhos todos os dias?!
[49]
Os caminhos são de to-, são são de todos
[50]
e todos se querem servir deles.
[51]
Tem vergonha
[52]
e tem juízo"!
[53]
Não.
[54]
"Vales pouco!
[55]
Devia ser eu em meus dias!
[56]
Dia o ca- o Josino e o carro e os bois, tudo para a terra do João Lobo"!

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