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Castro Laboreiro, excerto 32
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INF1 Era Olhe [vocalização], acabante se acabante se pa- paria, já estava a galinha a cozer.
Já a mulher estava para para parir,
já já estava a galinha a cozer no pote.
INF2 Mas boa, das melhores.
INF1 E depois Das melhores.
Daquelas que tivessem mais gordura, mais gordura.
"Olha, esta galinha o que está pesada!
Vai-me à [vocalização] ao galinheiro
Escolhe-me a galinha que mais pesar".
INF2 "Escolhe-me a melhor".
INF1 E [vocalização] a que estivesse melhor era a que vinha;
E depois beber aquelas malgas de [vocalização] de água;
e fazer as sopas de da galinha;
INF2 Mas ainda houve [pausa] Ainda houve algumas solteiras de, claro, de cair naquela rede que ainda se hoje cai – hoje [vocalização] evitam mais, mas de qualquer maneira ainda há quem caia – e de chegarem à beira dela, já [pausa] nós casados, a chorar com a fome.
INF1 Ai, com a fome, sim, sim.
INF2 Também não se contam só os…
INF1 Ai, isso Ai, isso creio que houve.
[pausa] Por desgraça houve uma.
INF2 "Ó Albertina, a ver se me arranjas algo, que eu caio redonda".
Fizeram Provocaram um, um um desmancho
e e, por desgraça, eram duas – por desgraça, eu não sei se são desgraças, se são sortes –, duas crianças.
INF1 E ela não tinha nada – disse-mo ela.
Nós matáramos um [vocalização] porco
[pausa] e tínhamos duas chaves da loja, como já se falou.
e já não se conseguiam outras coisas.
Na vez dum, matava três ou quatro.
e nós depois vendíamos assim aos pedaços de carne.
INF2 Ou Ou se cedia na loja um bocado ou eu tinha sempre fartura para a mulher e para os filhos.
INF1 Era só: "Tu arranja-me uns bocadinhos de febra, ca que me apetece muito comer e eu não tenho nadinha que comer".
INF2 "E tens que me arranjar", a chorar.
INF1 Já arranjei-lhe umas febrinhas.
INF2 Disse-me ela, à noite, quando eu ia…
INF1 Disse-lhe: "Ó filha, mas tu o que havias de fazer, que te desgraçaste;
ca que tu arruínas-te assim, mulher".
"Olhe, eu com que os criava"?
INF2 Mas me- Mas aquilo tinham tinha pouco…
Tinham tinha um tempinho.
INF1 Ela não tinha nadinha.
Não tinha nada com que os criar.
INF2 E a outra vizinha dali era igual.
mas aquela não [vocalização] se queixou [pausa] como a outra.
A outra, coitada, veio desenganada.
Queixou-se-me que não tinha… Que Que provocara aquela… O desmancho!
Naquele tempo, era muito milagre ainda aquilo.
E [vocalização] eu arranjei-lhe, então, umas febras,
e disse-lhe: "Pronto, filhinha, vai.
E olha, enquanto eu tiver, vem, que eu te arranjo.
INF1 Eu não sei lá como fez.
INF1 Pois, decerto foram pessoas cur– curiosas.
INF2 Mas aquilo era de poucos meses.
INF1 Ela disse que eram duas.
[pausa] Já conhecia-se que eram duas crianças.
Mas eu, o tempo que tinha…
Mas ela, ela estava assim…
Aquela estava assim como o Alarico.
Mas [pausa] não tinha pai,
INF2 E chegou depois a casar bem.
Chegou a casar com um guarda-fiscal.
Chegou-lhe a correr bem depois.
Casou com um guarda-fiscal.
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