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Castro Laboreiro, excerto 43

LocationCastro Laboreiro (Melgaço, Viana do Castelo)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Albertino Albertina
SurveyALEPG
Survey year1989
Interviewer(s)Ana Maria Martins
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF1 O tal Almerindo, quando foi da [vocalização] da república e da monarquia, tinha duas bandeiras.
[2]
Tinha a da [vocalização] monarquia
[3]
tinha a [vocalização] [pausa] e tinha a da república.
[4]
E então, depois então, claro, o tio era assim bom de levar,
[5]
mas o meu tio era duro.
[6]
Não se calava.
[7]
E dizi- dizia, então, ele assim
[8]
Pararam, [pausa]
[9]
que foram vinham os médicos,
[10]
vinha aquela gente toda, [pausa] com quatro ou cinco
[11]
INF2 Enterravam a toda a hora,
[12]
andavam
[13]
Era uma epidemia.
[14]
INF1 A toda a hora!
[15]
Não havia horas para enterrar.
[16]
Não havia horas para enterrar.
[17]
INF2 Morria em cada casa duas ou três pessoas.
[18]
Tinham que as tirar.
[19]
Não dava feito.
[20]
INF1 Não davam feito.
[21]
E [vocalização] depois, então [vocalização], claro, pôs-se a contar-lhe àqueles homens.
[22]
E tanto contou, tanto contou, que o meu tio ouviu
[23]
depois aquilo ficou gravado na história.
[24]
E depois, o meu tio tanto ouviu, tanto ouviu
[25]
Diz ele Diz-lhe ele assim: " acabou, Senhor Professor"?
[26]
"".
[27]
[vocalização] Disse: "Eu" Ele tinha um cavalo.
[28]
Claro, naquele tempo um cavalo era uma coisa
[29]
INF2 Porque não havia carros [vocalização].
[30]
INF1 É,
[31]
não havia carros.
[32]
Era uma coisa de luxo.
[33]
[pausa] " acabou, Senhor Professor"?
[34]
"".
[35]
Aqui- e- Estava a contar mentiras.
[36]
Estava [vocalização] a vender o peixe dele, mas não [vocalização]
[37]
INF2 Dizia que andava não sei quantos dias sem se deitar, e sem ir dormir à cama.
[38]
INF1 Sem se deitar, e que levava muito trabalho, e que ele e o cavalo dele que havia um mês que que não [vocalização] parara, que tal
[39]
E então, diz-lhe ele virou-se para ele,
[40]
e diz-lhe ele assim,
[41]
o meu tio diz: "Ó Senhor Professor [pausa] , acabou"?
[42]
INF2 Mas aquilo foi num enterro que estava a gente assim.
[43]
INF1 "Senhor [vocalização] Professor, agora vou falar eu.
[44]
Olhe, Senhor Professor, eu nem vou dizer ao contrário [pausa] ao que disse.
[45]
Mas vou dizer uma coisa.
[46]
O senhor podia ter dormido as noites todas, sabe?
[47]
Podia ter manda- dormido as noites todas;
[48]
e e mandava o cavalo [vocalização];
[49]
e, e e ficava tudo arrumado, Senhor Professor".
[50]
"Que diz, senhor Alfredo, tal"?
[51]
"[vocalização] Ó Senhor Professor, ó filho, isso não vai a lado nenhum, Senhor Professor.
[52]
Isso não vai a lado nenhum, Senhor Professor.
[53]
O senhor anda-se a armar em enfermeiro,
[54]
anda-se a armar [pausa] em doutor,
[55]
mas não é.
[56]
Os doutores são estes senhores
[57]
e é quem tem que frequentar aqui isto".
[58]
Que ele era regedor, naquele tempo,
[59]
e era era [vocalização]
[60]
"E mais nada, Senhor Professor".
[61]
E o professor [pausa] calou [pausa] diante deles.
[62]
Estava-lhe a vender o peixe,
[63]
mas, claro, estava ele ali, que ele, ele ele aparecia sempre.
[64]
É claro

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