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Enxara do Bispo, excerto 4
Text: -
INF E de maneira que agora então…
A [vocalização] agricultura antigamente, semeava-se muito grão, muito feijão, muito trigo…
Conseguia a estar aqui duas debulhadeiras neste sítio um mês inteiro a debulhar quarenta e tal moios –
INF São dez sacos de sessenta e seis quilos, [pausa] cada, são cada moio.
INF Ele uma máquina fazia uma média de cinquenta, quarenta e cinco, cinquenta, cinquenta e dois moios por dia.
E conseguia a estar aqui duas máquinas a trabalhar de, um um mês inteiro.
INF O mezinho inteiro era duas máquinas!
Olha, que fazia muito moio de trigo, hem?
INF Hoje não há aqui uma máquina.
INF Hoje não vem aqui uma máquina.
E eu o ano pa- há dois anos semeei uma terra de trigo,
ele foi um castigo para arranjar uma debulhadeira para lá ir – que é meia ceifeira e debulhadeira –,
foi um castigo, porque não queriam cá vir por causa de tão poucachinho,
[pausa] tive que desistir.
Tinha duas terras a jeito para trigo este ano
Não tenho já quem me venha cá fazer o trabalho.
INF Porque se fosse muitos, a debulhadeira vinha cá ma- – debulhadeiras que andam aí ao ganhanço – não é? –, que até são de longe.
E eles vão a áreas que haja muito trigo, que lhe dê resultado.
Agora, por exemplos, vir aqui a uma terra, pois vem a máquina por um por uns caminhos velhos acima – que aquilo é uma coisa larga – para ir para outra terra fazer umas terras pequeni- pequeninas,
nem lhe dá o rendimento que eles querem.
INF De maneira que agora não se semeia nada dessas coisas.
Então antigamente semeava-se eram muitas vinhas, era muito trigo, era muito grão, era muito feijão.
Tirava-se aqui moios e moios de feijão,
era moios e moios de milho.
que fazia-se a eira com um rebanho de ovelhas no no chão,
e [vocalização] com umas poucas de barricas de água molhava-se aquilo,
as ovelhas vinham de madrugada de fazer a eira, tocadas com três ou quatro pessoas,
INF andavam ali de roda, de roda, até calcar aquilo.
Depois punha-se uma mancheia de palha de trigo a enxugar;
depois de ela estar enxuta, é tirada a palha,
ali ficava uma eira para debulhar feijão, milho, trigo, à mão, a trilho…
INF Antigamente era um trilho.
INF Então não me lembra?!
Então havia tanto trigo a trilho, quan- tocado a bois e…
INF Puxado a bois e puxado a burros ou a machos.
Nem havia enfardadeiras, nesse tempo!
INF Era um, [pausa] era um Fazia-se um buraco nas casas, nas casas de palheiros,
e depois apanha- era acartadas com uns panos a palha
e eram metidas por um pelo buraco do do telhado,
enchia-se uma casa de palha.
Assim é que era o palheiro feito.
Agora, é claro, depois começou a haver as máquinas, as debulhadeiras assentes nas eiras…
INF Começou a haver as enfardadeiras a fazer os fardos;
e [vocalização], e hou- e começou a haver outras máquinas também a debulhar e depois vir as enfardadeiras debulhar à enfardar à terra.
Agora é tudo diferente, não é?
INF E eu conheci esses, essa essas épocas que não havia nada dessas coisas.
INF As uvas eram esmagadas todas dentro dos lagares a pés.
INF [vocalização] O [vocalização] Nesse tempo é que havia bom vinho, [pausa] que se podia beber,
INF Porque agora o, a, o as pessoas não têm consciência.
Há sempre aqueles truques de se enganarem uns aos outros e de enganarem o povo.
INF O povo , há certo povo
INF são capazes de envenenar a huma- a humanidade toda.
Sabe o que é morango, não sabe?
INF O morango está a querer amarelar,
em dois dias põe-se capaz de apanhar.
Quando ele está a querer amarelar, é sulfatado com um veneno.
INF Um veneno mas é veneno!
É um Seiscentos e Cinco Forte, ou o Decis, ou essas coisas assim, por causa de o de o mosquito não poisar, para na- não o morder, para ele não se espapaçar e coisa.
Ao fim de três dois dias ou três, é apanhado.
INF É uma das frutas mais perigosas que a gente hoje come.
INF A alface é a mesma coisa.
Para ela não se picar, é – vá – sul- um sulfato que há aí e um bocadinho de veneno em cima.
INF Por causa de o mosquito não a picar.
E é mu- o pessoal agora come.
Antigamente não era nada disso.
INF Porque o [vocalização] havia as pessoas a durar cem anos, noventa anos, e e a passarem fome,
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