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Enxara do Bispo, excerto 4

LocationEnxara do Bispo (Mafra, Lisboa)
SubjectA agricultura
Informant(s) Borromeu
SurveyALEPG
Survey year1995
Interviewer(s)Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF E de maneira que agora então
[2]
A [vocalização] agricultura antigamente, semeava-se muito grão, muito feijão, muito trigo
[3]
Conseguia a estar aqui duas debulhadeiras neste sítio um mês inteiro a debulhar quarenta e tal moios
[4]
sabe o que é o moio?
[5]
INF São dez sacos de sessenta e seis quilos, [pausa] cada, são cada moio.
[6]
INF Ele uma máquina fazia uma média de cinquenta, quarenta e cinco, cinquenta, cinquenta e dois moios por dia.
[7]
E conseguia a estar aqui duas máquinas a trabalhar de, um um mês inteiro.
[8]
INF O mezinho inteiro era duas máquinas!
[9]
Olha, que fazia muito moio de trigo, hem?
[10]
INF Hoje não aqui uma máquina.
[11]
INF Hoje não vem aqui uma máquina.
[12]
Hoje não se amanha nada.
[13]
Não se amanha nada.
[14]
E eu o ano pa- dois anos semeei uma terra de trigo,
[15]
ele foi um castigo para arranjar uma debulhadeira para ir que é meia ceifeira e debulhadeira ,
[16]
foi um castigo, porque não queriam vir por causa de tão poucachinho,
[17]
[pausa] tive que desistir.
[18]
INF Pronto!
[19]
Tinha duas terras a jeito para trigo este ano
[20]
e não as semeei.
[21]
INF Pronto!
[22]
Porque a gente não pode
[23]
Não tenho quem me venha fazer o trabalho.
[24]
INF Porque se fosse muitos, a debulhadeira vinha ma- debulhadeiras que andam ao ganhanço não é? , que até são de longe.
[25]
E eles vão a áreas que haja muito trigo, que lhe resultado.
[26]
Agora, por exemplos, vir aqui a uma terra, pois vem a máquina por um por uns caminhos velhos acima que aquilo é uma coisa larga para ir para outra terra fazer umas terras pequeni- pequeninas,
[27]
nem lhe o rendimento que eles querem.
[28]
Pronto!
[29]
E eles não vêm.
[30]
INF De maneira que agora não se semeia nada dessas coisas.
[31]
Então antigamente semeava-se eram muitas vinhas, era muito trigo, era muito grão, era muito feijão.
[32]
Tirava-se aqui moios e moios de feijão,
[33]
era moios e moios de milho.
[34]
Havia eiras antigas,
[35]
que fazia-se a eira com um rebanho de ovelhas no no chão,
[36]
e [vocalização] com umas poucas de barricas de água molhava-se aquilo,
[37]
punha-se palha de trigo,
[38]
as ovelhas vinham de madrugada de fazer a eira, tocadas com três ou quatro pessoas,
[39]
INF andavam ali de roda, de roda, até calcar aquilo.
[40]
Depois punha-se uma mancheia de palha de trigo a enxugar;
[41]
depois de ela estar enxuta, é tirada a palha,
[42]
era varrida,
[43]
ali ficava uma eira para debulhar feijão, milho, trigo, à mão, a trilho
[44]
INF Antigamente era um trilho.
[45]
INF Então não me lembra?!
[46]
Então havia tanto trigo a trilho, quan- tocado a bois e
[47]
INF Puxado a bois e puxado a burros ou a machos.
[48]
E os palheiros era um
[49]
Fa- Fazia-se um buraco,
[50]
não havia enfardadeiras
[51]
Nem havia enfardadeiras, nesse tempo!
[52]
INF Era um, [pausa] era um Fazia-se um buraco nas casas, nas casas de palheiros,
[53]
e depois apanha- era acartadas com uns panos a palha
[54]
e eram metidas por um pelo buraco do do telhado,
[55]
enchia-se uma casa de palha.
[56]
Assim é que era o palheiro feito.
[57]
INF Agora não.
[58]
Agora, é claro, depois começou a haver as máquinas, as debulhadeiras assentes nas eiras
[59]
INF Começou a haver as enfardadeiras a fazer os fardos;
[60]
e [vocalização], e hou- e começou a haver outras máquinas também a debulhar e depois vir as enfardadeiras debulhar à enfardar à terra.
[61]
Agora é tudo diferente, não é?
[62]
INF E eu conheci esses, essa essas épocas que não havia nada dessas coisas.
[63]
INF As uvas eram esmagadas todas dentro dos lagares a pés.
[64]
INF [vocalização] O [vocalização] Nesse tempo é que havia bom vinho, [pausa] que se podia beber,
[65]
não é agora.
[66]
INF Porque agora o, a, o as pessoas não têm consciência.
[67]
Não têm consciência!
[68]
sempre aqueles truques de se enganarem uns aos outros e de enganarem o povo.
[69]
INF O povo , certo povo
[70]
pelo por dinheiro
[71]
INF são capazes de envenenar a huma- a humanidade toda.
[72]
INF O povo todo.
[73]
Hoje faz-se um morangal
[74]
Sabe o que é morango, não sabe?
[75]
INF O morango está a querer amarelar,
[76]
em dois dias põe-se capaz de apanhar.
[77]
Quando ele está a querer amarelar, é sulfatado com um veneno.
[78]
INF Um veneno mas é veneno!
[79]
É um Seiscentos e Cinco Forte, ou o Decis, ou essas coisas assim, por causa de o de o mosquito não poisar, para na- não o morder, para ele não se espapaçar e coisa.
[80]
Ao fim de três dois dias ou três, é apanhado.
[81]
INF É uma das frutas mais perigosas que a gente hoje come.
[82]
INF A alface é a mesma coisa.
[83]
Para ela não se picar, é sul- um sulfato que e um bocadinho de veneno em cima.
[84]
INF Por causa de o mosquito não a picar.
[85]
INF Vem o mosquito
[86]
e pica-a.
[87]
E é mu- o pessoal agora come.
[88]
Antigamente não era nada disso.
[89]
INF Porque o [vocalização] havia as pessoas a durar cem anos, noventa anos, e e a passarem fome,
[90]
parece mentira!

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