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Enxara do Bispo, excerto 9

LocationEnxara do Bispo (Mafra, Lisboa)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Borromeu
SurveyALEPG
Survey year1995
Interviewer(s)Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -

[1]
INF Fui outra vez para sapateiro.
[2]
Já era um homenzinho – que era coiso, já já tinha treze anos ou coiso –
[3]
e fui outra vez para sapateiro.
[4]
Que eu já sabia aquilo aos olhos fechados!
[5]
INF Comecei outra vez em sapateiro,
[6]
então nunca mais parou.
[7]
Fui trabalhar para o Bairro da Encarnação.
[8]
Estive lá dois anos,
[9]
não gostava de estar naqueles ambientes ali,
[10]
venho outra vez para para o patrão, aqui para Pêro Negro;
[11]
depois de Pêro Negro, ele pôs aqui uma casa para oficina de sapateiro,
[12]
éramos cinco a trabalhar,
[13]
eu é que já tomava já conta da oficina.
[14]
INF Depois eu pus-me…
[15]
Eu cas-…
[16]
Eu abalei com a minha mulher tinha eu dezanove anos, ela outros dezanove.
[17]
Fugi com ela.
[18]
Lá me alinhavei.
[19]
Comecei a pôr uma vida nova,
[20]
comecei a trabalhar por minha conta.
[21]
INF Sapateiro.
[22]
[pausa] Comecei a trabalhar por minha conta por sapateiro,
[23]
mas aquilo era uma uma miséria!
[24]
Cheguei então a ter cinco empregados.
[25]
INF Fornecia aqui estas áreas todas de calçado.
[26]
Iam lá lojas e tudo.
[27]
E então, depois…
[28]
Mas era uma miséria!
[29]
Era uma miséria!
[30]
A gente para arranjar dinheiro para os empregados,
[31]
INF e para ficar com algum, Jesus, sabe lá!
[32]
INF Aquilo era uma miséria!
[33]
Fazia-se um par de botas por por cento e vinte escudos,
[34]
davam vinte escudos [pausa] de entrada.
[35]
INF O resto era a dar dez escudos por semana;
[36]
muitas das vezes, a minha mulher chegava às, às aos postigos a bater,
[37]
viam que era ela,
[38]
INF calavam-se
[39]
e não abriam a porta.
[40]
Pronto!

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