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Fiscal, excerto 23

LocationFiscal (Amares, Braga)
SubjectO linho, a lã e o tear
Informant(s) Crescência
SurveyALEPG
Survey year1994
Interviewer(s)João Saramago Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Dois fogueiros
[2]
INF Ora bem [vocalização], [pausa] porque [vocalização] tinha o [vocalização]
[3]
INF O órgão onde se enrolava o algodão,
[4]
INF uma parte era furado
[5]
INF dois furos ,
[6]
INF e metia-se que era para fazer as quatro bombas para uma mão amarrar outra.
[7]
INF Para puxar a outra.
[8]
INF É isso.
[9]
Uma mão amarrar outra.
[10]
Pois.
[11]
INF Depois havia,
[12]
chamava-se-lhe o
[13]
Tinha-se um [vocalização] um pau.
[14]
[vocalização] Nós até lhe chamávamos um pau.
[15]
INF Não sei se teria outros nomes.
[16]
INF Chamava-se-lhe o pau do órgão.
[17]
E depois engatava no tear,
[18]
que tinha um tear
[19]
O tear tinha assim uma tábua alta, [vocalização] uma certa parte, com muitos furos,
[20]
e a gente, depois então, o pau ia
[21]
e havia outro pauzinho que metia na nos furos,
[22]
e a gente, aquele pau assentava em cima daquele pau.
[23]
A pessoa queria a teia mais estique, um fu- um furo mais para cima;
[24]
INF queria-a mais bamba,
[25]
descia um furo mais para baixo;
[26]
INF queria botar a teia abaixo porque [vocalização] tinha tecido e era preciso enrolar o pau em baixo,
[27]
então, deixava,
[28]
desandava mais um um furo,
[29]
tornava a meter
[30]
e tornava a pôr no sítio.
[31]
INF Rhum-rhum.
[32]
Depois os cadilhos eram [vocalização]:
[33]
tiravam-se então do restelo
[34]
e eram metidos num pente chamava-se-lhe o pente de tear
[35]
INF Ah, até é verdade.
[36]
É os liços.
[37]
Passavam nos liços,
[38]
tinham que se meter todos [vocalização] dois a dois em cada [vocalização] em cada, um fio em cada liço, torcidos.
[39]
Quer-se dizer, [vocalização] os liços eram duas partes;
[40]
cada parte tinha tinha duas partes, quer-se dizer
[41]
INF A fazer de contas que era:
[42]
os liços é isto assim.
[43]
INF E [vocalização] tinha-se de meter uma vez neste, outra vez neste, outra vez neste, outra vez neste, outra vez neste, outra vez neste [vocalização], certinhos, porque senão [pausa] depois enrodilhava.
[44]
INF E depois dos liços, passava no pente.
[45]
INF Pois.
[46]
Eu, por exemplo, era eu que fazia tudo, que sabia fazer.
[47]
Em antes Em antes era a [vocalização] outra que sabia mais do que eu, enquanto eu não aprendi.
[48]
INF [vocalização] Sim.
[49]
Primeiramente, aprendi a tecer com a minha mãe.
[50]
INF deitar-lhe a alçadeira e tecer.
[51]
E depois aprendi [vocalização], a correr do tempo,
[52]
fui vendo
[53]
e fui pensando-me [vocalização] em urdir e assim.
[54]
E então aprendi depois com uma senhora que havia ali em cima, em Fiscal.
[55]
[vocalização] Percebia.
[56]
Era uma senhora de idade muito sabida
[57]
e fui aprendendo com ela
[58]
e depois comecei eu a
[59]
INF Bom, [vocalização] eu de mim [pausa] não usava rezar.
[60]
INF Não senhor.
[61]
A intenção de rezar?
[62]
Rezava-se sempre.
[63]
A gente tinha sempre a boa intenção de rezar nas horas próprias.
[64]
Para isso, não.
[65]
INF Bom, às vezes, quando ia às vezes, ou até até não sei se seria quase sempre , quando ia tecer, ao começar a tecer, em antes de começar a tecer, gostava de me benzer.
[66]
Mas [vocalização], bom, de resto, não.

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