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Fajãzinha, excerto 77

LocalidadeFajãzinha (Lajes das Flores, Horta)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Amélia Amélio Anabela

Text: -


[1]
INF1 Oh senhora, nesta freguesia, as mulheres trabalham mais do que os homens.
[2]
INF2 Oh, oh, oh, oh!
[3]
INF1 Aqui na Fajãzinha, as mulheres eram umas escravas.
[4]
A senhora quer saber?
[5]
Eu morava ali na Cuada.
[6]
Ora a gente éramos pobres.
[7]
O meu pai morreu Deus o tenha no céu a gente éramos pequeninos.
[8]
A gente tinham falta de dar dias.
[9]
Dar dias.
[10]
Vinha-se ajudar porque a gente chegava a a meio do ano n- [vocalização] não se tinha [vocalização] nada para comer não se tinha milho.
[11]
E vinha-se dar dias vinha-se ajudar a juntar batatas a essa gente, aqui à Fajãzinha.
[12]
INF3 Oh, coitadinhos!
[13]
INF1 E 'dia-se' buscar camas de musgo ao mato.
[14]
'Dia-se' apanhar musgo no mato está percebendo? , [vocalização] para se [pausa] vender.
[15]
Uma cama de musgo era um alqueire de milho!
[16]
INF3 Oh, sim.
[17]
INF1 Ainda fazia muito bem!
[18]
INF3 Ainda!
[19]
INF1 Mas uma cama de musgo, era preciso quatro sacas de destas grandes cheias de musgo bem acalcadas para uma cama!
[20]
INF3 Oh sim senhor.
[21]
Sim, sim, sim.
[22]
E [vocalização], e E havia essas mulheres
[23]
Aqui trabalhavam muito noutros anos.
[24]
INF3 Muito!
[25]
INF1 Oh grandeza, elas acartavam sargaço de debaixo do calhau, coitadinhas, que era para trazer para o estrume para as terras está percebendo? , para botarem nessas terras mais em baixo do Moldinho.
[26]
Que o sargaço é estrume bom para batatas!
[27]
INF3 É mui bom!
[28]
INF1 E havia eu via Eu dizia: "Oh, pobres das mulheres da Fajãzinha, são umas escravas, coitadinhas!
[29]
O que elas trabalham"!
[30]
Elas diam ao junco para o mato.
[31]
Elas diam ao leite para o mato tinham o gado no mato ,
[32]
era preciso dir de manhã cedo ao leite.
[33]
INF3 Quatro horas, no Verão!
[34]
INF1 Às quatro horas, no Verão, [pausa] que elas diam ao leite!
[35]
E eu dizia assim: "Jesus, eu n-, eu eu eu nunca queria ser da Fajãzinha"!
[36]
Mesmo não gostava!
[37]
Olhe, a gente não pode dizer
[38]
INF1 É verdade!
[39]
A gente não pode dizer nada neste mundo.
[40]
E aqu- E aqui é que estou quarenta anos!
[41]
INF2 E muitas vezes estavam apanhando os xemenos ou o musgo nas terras e chegava o nas relvas ,
[42]
chegava o lavrador
[43]
e corria com elas.

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