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Gião, excerto 6

LocationGião (Vila do Conde, Porto)
SubjectO moinho, a farinha e a panificação
Informant(s) Cunegundes
SurveyALEPG
Survey year1993
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -

[1]
INF Depois de estar aqui o pão bem levedadinho – não é?;
[2]
que ele depois [vocalização] principia a abrir;
[3]
quando está levedado, assim, principiava a abrir, assim a fazer aquelas aberturinhas assim –,
[4]
a gente ia tirando conforme as broas que queria fazer.
[5]
Às vezes queríamos fazer umas broinhas pequeninas,
[6]
outras vezes queríamos maiores,
[7]
mas mais ou menos a gente já sabia.
[8]
[vocalização] Tirava-se assim
[9]
e depois a gente pegava num prato [pausa] de esmalte, que havia muitos era [vocalização] assim,
[10]
e com uma ferreta – chama-se a ferreta, a ferreta – do pão, que é aquilo…
[11]
INF Sim, que é de raspar.
[12]
A ferreta.
[13]
É aquilo que nós usamos agora até para para queimar o creme.
[14]
[pausa] E a gente, com isso, enchia,
[15]
deitava para uma gamela de madeira.
[16]
Tínhamos a gamela do pão.
[17]
Depois batia-se ali assim;
[18]
dava-se aquelas voltinhas até…
[19]
Deitava-se farinha,
[20]
depois dava-se…
[21]
Fazia-se assim
[22]
e dava-se umas voltas, umas voltas, umas voltas.
[23]
Até [pausa] antigamente elas punham assim uma cinta – muita gente punha sim e elas [vocalização] –
[24]
e faziam assim
[25]
e ela depois a broinha ficava assim.
[26]
Ficava ali aquela tudo muito redondinho
[27]
e pronto virava-se na pá.
[28]
INF Não.
[29]
Não se dizia nada, não é?
[30]
INF Nada.
[31]
INF Não.
[32]
Não se dizia.
[33]
Não diziam nada.
[34]
INF Era bater bem.
[35]
"Olha, é preciso levar o pão para o forno"!
[36]
Pronto.
[37]
Então, depois lá ia para a pá, metido ao forno, pronto.
[38]
INF Eu acho que…
[39]
INF Não,
[40]
era isso também que elas diziam sempre.
[41]
INF Pois,
[42]
era isso.
[43]
Era isso.
[44]
Sim.
[45]
"São João te faz o pão te faça pão"!
[46]
Pronto.
[47]
Elas lá benziam com a to-, com a com a pá, pronto,
[48]
e tapavam.
[49]
INF Havia.
[50]
Hav– Fazíamos muitas vezes.
[51]
A gente às vezes pedia até às criadas:
[52]
"Ó fulana, faz uma broinha para mim"!
[53]
Pronto.
[54]
E um bolinho.
[55]
Um bolinho,
[56]
que a gente antes fazia o bolo.
[57]
INF A gente chamava o bolo de entre a lenha.
[58]
Que era o bolo dentro Depois de o forno estar varrido – não era? –, a gente fazia [vocalização] com aquela massa.
[59]
Estendia na pá, do tamanho da pá ou como nós queríamos.
[60]
Mas às vezes éramos uns poucos
[61]
e pedíamos sempre:
[62]
"Ó Dagmar" – que era uma meio velhota – "faz-nos um bolinho para nós"!
[63]
E ela – ela cozia de madrugada sempre –, e ela lá fazia.
[64]
Ora fazia para os mais pequenos,
[65]
era mais pequenino,
[66]
para os maiores, maiorzinho.
[67]
Fazia aqueles bolinhos
[68]
e nós ficávamos todos contentes quando vínhamos da cama termos o bolinho feito.
[69]
Depois punha-lhe assim uns dedi-, umas coisas,
[70]
uns fazia assim com os dedos,
[71]
fazia [pausa] uns buraquinhos
[72]
e a gente já ficava toda contente.
[73]
Mas, era o bolo era assim chapadinho.
[74]
Chapado, assim.
[75]
INF Chapadinho.
[76]
Depois é que ia ao forno
[77]
e cozia antes de ir as broas.

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