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Gião, excerto 13

LocationGião (Vila do Conde, Porto)
SubjectO porco e a matança
Informant(s) Cunegundes
SurveyALEPG
Survey year1993
Interviewer(s)Luísa Segura da Cruz Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Ele estavam ali à mão a aparar o sangue
[2]
É,
[3]
ele estava ali uma criada ou um,
[4]
quase sempre era uma mulher.
[5]
INF Era, era.
[6]
Porque depois a gente queria o sangue para para cozer
[7]
e queria o sangue para as chouriças.
[8]
O sangue das chouriças tinha de levar vinho com, na vasilha, vinho com alhos, e uma caninha, que era para para
[9]
Aparava aquele bocadinho que era para coiso, para estar sempre a bater para ele não filhar.
[10]
INF Para ele não filhar, o sangue.
[11]
Para ele ficar em líquido.
[12]
Líquido.
[13]
E o outro não.
[14]
A gente, depois o outro deixava correr
[15]
e ele ficava logo preso, não é?
[16]
INF Porque depois era para cozer,
[17]
esse sangue era para cozer, para se fazer a [vocalização] para se fazer a [vocalização] comida ou o verde, como a gente lhe chamava.
[18]
Nós chamávamos o verde.
[19]
Agora é que faz-se o sangue, sangue, não é?
[20]
Mas a gente chamava-lhe o verde do porco.
[21]
INF Verde,
[22]
era o verde!
[23]
"Faz-se o verde".
[24]
INF Era depois cozido.
[25]
A gente depois entalia-o num, num numa [vocalização] panela grande ou num tacho grande.
[26]
[vocalização] Fervia ali todo partido aos bocados.
[27]
Ele depois partia-se assim aos quadrados
[28]
e punha-se na panela.
[29]
E [vocalização] E depois havia o hábito
[30]
Isso era nos pr- nos primitivos, que eu era pequena, mais nova,
[31]
isso é que a gente achava graça!
[32]
Agora ultimamente a gente não fazia isso, porque era uma crendice.
[33]
Mas era, era Punham na panela
[34]
e começavam:
[35]
"Vem ,
[36]
vem ,
[37]
vem ,
[38]
vem ,
[39]
vem ,
[40]
vem ,
[41]
vem ,
[42]
vem ,
[43]
vem "!
[44]
Que era como se chamava aos porcos.
[45]
Sim,
[46]
os porcos, para chamar por eles, a gente dizia:
[47]
"Vem ,
[48]
vem ,
[49]
vem ,
[50]
vem "!
[51]
Era isto o o chamamento dos porcos.
[52]
E depois elas diziam que se se chamasse por eles o fig-, o o sangue ficava mais abertinho.
[53]
INF Na panela.
[54]
E [vocalização], e depois desse, de O sangue depois de estar assim cozido, tirava-se para um, para uma para uma vasilha qualquer,
[55]
deitava-se muitos loureiros,
[56]
INF loureiros, ramas de loureiro.
[57]
E ele ficava ali assim a escorrer muito escorridinho,
[58]
depois guardava-se.
[59]
INF E dali fazia-se.
[60]
Fazia-se papas.
[61]
Depois deitava-se-lhe aquele sangue, que a gente chamava o verde, e [vocalização] fazia-se também como se faz agora:
[62]
mesmo o sangue assim de porco com um estrugido
[63]
e a gente tem aquele sarrabulho, não é?
[64]
INF A gente [vocalização] ainda agora gosta-se muito de fazer isso assim.
[65]
De fazer, até assim para acompanhar, aquele coisinho assim estrugido, aquele verdezinho.
[66]
A gente chamava-lhe o verde,
[67]
agora chama-se sangue, porque é o sangue de porco.
[68]
INF E era assim que se fazia.

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