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Gião, excerto 17

LocationGião (Vila do Conde, Porto)
SubjectA agricultura
Informant(s) Cosme Cunegundes
SurveyALEPG
Survey year1993
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF1 Pronto.
[2]
Porque a sementeira do trigo era uma sementeira com [pausa] uma mão de obra bastante reduzida.
[3]
[pausa] Era por isso que se fazia no Inverno.
[4]
[vocalização] Era feita Aqui na nossa zona, normalmente, era feita fim do ano, princípio do ano, ali à volta.
[5]
INF2 É como ainda agora.
[6]
INF1 Ainda agora quem semeie o trigo.
[7]
Aqui agora quase ninguém semeia trigo.
[8]
[pausa] A sementeira do milho, [pausa] essa é então:
[9]
era primeiro [pausa] vessada a terra.
[10]
Chamava-se vessar porque era com uma charrua então grande, essa puxada a quatro bois.
[11]
INF1 Porque era no tempo do gado
[12]
Era no tempo que hav- ainda não havia tractores.
[13]
Pois, os tractores são muito recentes.
[14]
Eu fui o primeiro homem aqui de Gião a ter tractor.
[15]
Quando o Crisóstomo comprou [pausa] o dele, eu troquei o meu primeiro.
[16]
[pausa] E tive uns poucos.
[17]
Ainda ali tenho três.
[18]
Mas naquele tempo era com o gado.
[19]
O gado normalmente era, pelo menos, duas juntas de bois, que todas as casas tinham, mais ou menos, preparados e adequados para fazerem vessadas, que se tratava do [vocalização] da época de mais extenso trabalho que a lavoura tinha.
[20]
Era semear e depois colher, depois do São Miguel.
[21]
Mas o São Miguel não se relacionava tanto com o gado.
[22]
Portanto, nessa altura, quando se pensava, ou quando se chegava a Março que a gente pensava em fazer a cultura do milho, todas as casas se preparavam com
[23]
Por exemplo, nós aqui tínhamos sempre quatro bois para vessar e uma parelha mais nova que ajudava.
[24]
Por vezes, até ia ajudar a vessar quando os campos eram compridos.
[25]
Botavam-se até os seis, até para os novos poderem, por exemplo, ir ir fazer o cachaço.
[26]
INF2 Sim, sim.
[27]
INF1 A senhora não sabe o que é isso?
[28]
INF1 É simples.
[29]
É como nas mãos fazer calos.
[30]
INF1 É que enquanto não estavam habituados a trabalhar, os animais sentem-se doridos no cachaço.
[31]
[pausa] Depois de ganhar calo e estar habituados a trabalhar, costumava-se dizer:
[32]
"Ah, trabalha muito bem!
[33]
tem o cachaço feito"!
[34]
INF1 Sabe?

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