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Gião, excerto 20

LocationGião (Vila do Conde, Porto)
SubjectA agricultura
Informant(s) Cosme Cunegundes
SurveyALEPG
Survey year1993
Interviewer(s)Luísa Segura da Cruz Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF1 Chamava-se para abafar a terra.
[2]
INF1 Porque a terra não podia estar muito tempo exposta [pausa] ao sol.
[3]
INF2 Para ficar com uma humidade.
[4]
INF1 Porque se se a gente se desmazelasse e deixasse ficar a terra ali umas horas durante a manhã do dia, a terra secava e depois a semente não nascia.
[5]
INF1 E E se :
[6]
hoje semeia-se
[7]
e e até se rega para semear.
[8]
INF1 Mas antigamente não se pensava nisso.
[9]
E ninguém ia regar para semear.
[10]
De maneira que quando o milho não nascia, causava nessa sementeira vários problemas.
[11]
[pausa] Não era o não nascer;
[12]
era era mais complicado.
[13]
É que, por exemplo, um campo tinha mais humidade dum lado e não tinha no outro,
[14]
nascia no que tinha húmido e no outro não
[15]
E depois o campo ficava cheio de peladas.
[16]
INF2 Sim.
[17]
INF1 Porque o milho do terreno que secou e que não nasceu, vinha depois nascer quando viesse chuva, que às vezes levava muito tempo.
[18]
INF1 E depois o campo tinha umas peladas nos primeiros tempos
[19]
e depois tinha um milho que vinha depois do primeiro.
[20]
INF1 E como se sabe, depois a colheita tornava-se também complicada, porque ia-se colher,
[21]
colhia-se todo
[22]
e depois um vinha verde,
[23]
outro vinha maduro essa história.
[24]
De maneiras que era necessidade, como disse, gradar a terra quanto antes.
[25]
Para isso se costumava ter sempre uma junta de bois [pausa] sobresselentes, [pausa] principalmente para a frente, para não meter os que andaram a vessar.
[26]
INF1 Porque estavam cansados.
[27]
E era uma opressão,
[28]
porque a grade de d- de dentes puxava muito,
[29]
porque é aqui à frente.
[30]
INF1 Eu chamei muitas vezes o gado [pausa] a vessar,
[31]
e ainda numa época
[32]
A gente dizia:
[33]
"Ainda cai neve negra".
[34]
E eu enfiava
[35]
Porque naquele tempo, infelizmente, até nem nem luvas se falava muito nisso,
[36]
e eu andava com a mão no bolso
[37]
e andava com a mão que tinha de andar na soga dos bois com uma meia de .
[38]
INF1 Porque luvas, não se falava muito em luvas.
[39]
INF2 Pois, pois, pois.
[40]
INF1 Como?
[41]
INF2 Porque não se via.
[42]
INF1 Era, er- Porque eram as últimas neves ainda do ano,
[43]
ainda caía neve, às vezes, em Maio.
[44]
INF2 Mas o que é não se via.
[45]
A terra A terra ficava dura como com a neve
[46]
mas não se via a neve.
[47]
INF1 Isso.
[48]
INF1 É.
[49]
Às vezes, diz-se:
[50]
"Ainda cai neve negra"!
[51]
INF2 Neve negra,
[52]
era.
[53]
INF1 Isso.
[54]
A dona Cunegundes sabe como eu,
[55]
[pausa] e quando eu digo estas coisas, a senhora recorda-se perfeitamente delas.
[56]
INF2 Sei.
[57]
Muito bem.
[58]
Muito bem.
[59]
INF1 Era assim.
[60]
INF2 Era.
[61]
INF1 Era.
[62]
INF2 Certas coisas, é claro, estás mais dentro, sabes
[63]
INF1 De maneiras que [vocalização] consistia
[64]
Con, a primeira grada- A primeira gradagem não sei se tomou nota consistia em:
[65]
chamava-se abafar a terra.

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