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Gião, excerto 28

LocalidadeGião (Vila do Conde, Porto)
AssuntoA agricultura
Informante(s) Cosme Cunegundes

Text: -


[1]
INF Os marcos são umas pedras [pausa] em forma
[2]
INF2 Uns mecos.
[3]
[pausa] Uns mecos.
[4]
Uns mecos.
[5]
INF1 Sim,
[6]
[vocalização] em forma de mecos.
[7]
INF2 É.
[8]
INF1 E que
[9]
INF1 têm um segredo.
[10]
Que normalmente no fundo desses mecos se encontram duas pedras que se o nome de testemunhas.
[11]
Porque eram convidados duas testemunhas, que cada uma delas lançava a sua pedra.
[12]
INF2 A sua pedra.
[13]
INF1 É daí que vem as testemunhas.
[14]
Hoje, de facto, não se faz nada disso.
[15]
Eu quando meto marcos, que eu meto marcos em cada pedaço, muitas vezes, e [vocalização] ponho sempre duas pedrinhas.
[16]
Mas não são as testemunhas,
[17]
sou eu que ponho duas pedrinhas
[18]
não conta-se por testemunhas,
[19]
não ,
[20]
que é para se distin- distinguir que, na realidade, que se trata dum marco.
[21]
INF2 Sim,
[22]
porque às vezes não se sabe.
[23]
INF1 Porque depois o marco partiu, ou quê,
[24]
fica um bocadinho e tal,
[25]
não se sabe:
[26]
"Olha está aqui uma pedra,
[27]
mas não é marco"!
[28]
INF2 E não se sabe.
[29]
Acontece como no nosso maninho.
[30]
INF1 Eu tive outro dia uma coisa curiosa, que foi aqui nas minhas leiras, aqui em frente à escola,
[31]
porque se fez ali uma rua,
[32]
alargou-se,
[33]
e tiraram-se os marcos das estremas.
[34]
E os marcos do meio quase tinham desaparecido todos agora com a história dos tractores.
[35]
Porque, sabe, os tractores vão a puxar de noite
[36]
e, por mais, o tractor pega num marco,
[37]
arranca aquilo tudo
[38]
e não se por ela.
[39]
INF2 À noite.
[40]
Pois, pois.
[41]
[pausa] Pega e arranca.
[42]
INF1 Os do Os dos meios quase tinham desaparecido todos.
[43]
E então, acontece que nós fomos corrigir essa marcação, [pausa] meter marcos novos,
[44]
e coincidiu,
[45]
deu em fazer a cova com um marco novo e encontrar as testemunhas doutro.
[46]
INF2 Estava um velho.
[47]
[pausa] Ora vês?
[48]
INF1 Porque aqui na nossa zona não é o que se pensa.
[49]
Aqui zonas
[50]
Eu tenho treze bouças juntas, por exemplos.
[51]
Pois nessa nessas bouças juntas se se quiser a uma pedrita do tamanho duma pinha, é difícil de arranjar.
[52]
[pausa] Porque são zonas que não tem pedra.
[53]
INF1 E as que têm, nalguma forreira dalgum valo, que é o único sítio onde pedritas assim, [pausa] foi pedra que se levou para a obra.
[54]
INF2 Sim.
[55]
Ali em baixo.
[56]
INF1 Porque pedras dali não !
[57]
INF2 Não .
[58]
INF1 Pedras dali não .
[59]
[pausa] E então os marcos e as testemunhas é isso:
[60]
são os marcos que separam
[61]
INF1 O marco é a primeira coisa que vale
[62]
e isso, cada passo, a gente vai ver
[63]
Eu e colegas vamos ver o que é que nos parece nesta,
[64]
porque problemas nisto e naquilo.
[65]
Quando aparece o marco, é a primeira coisa a respeitar-se.
[66]
Depois disso são os sintomas, a forma como a coisa se afeiçoa.

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