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Gião, excerto 28

LocationGião (Vila do Conde, Porto)
SubjectA agricultura
Informant(s) Cosme Cunegundes
SurveyALEPG
Survey year1993
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Os marcos são umas pedras [pausa] em forma
[2]
INF2 Uns mecos.
[3]
[pausa] Uns mecos.
[4]
Uns mecos.
[5]
INF1 Sim,
[6]
[vocalização] em forma de mecos.
[7]
INF2 É.
[8]
INF1 E que
[9]
INF1 têm um segredo.
[10]
Que normalmente no fundo desses mecos se encontram duas pedras que se o nome de testemunhas.
[11]
Porque eram convidados duas testemunhas, que cada uma delas lançava a sua pedra.
[12]
INF2 A sua pedra.
[13]
INF1 É daí que vem as testemunhas.
[14]
Hoje, de facto, não se faz nada disso.
[15]
Eu quando meto marcos, que eu meto marcos em cada pedaço, muitas vezes, e [vocalização] ponho sempre duas pedrinhas.
[16]
Mas não são as testemunhas,
[17]
sou eu que ponho duas pedrinhas
[18]
não conta-se por testemunhas,
[19]
não ,
[20]
que é para se distin- distinguir que, na realidade, que se trata dum marco.
[21]
INF2 Sim,
[22]
porque às vezes não se sabe.
[23]
INF1 Porque depois o marco partiu, ou quê,
[24]
fica um bocadinho e tal,
[25]
não se sabe:
[26]
"Olha está aqui uma pedra,
[27]
mas não é marco"!
[28]
INF2 E não se sabe.
[29]
Acontece como no nosso maninho.
[30]
INF1 Eu tive outro dia uma coisa curiosa, que foi aqui nas minhas leiras, aqui em frente à escola,
[31]
porque se fez ali uma rua,
[32]
alargou-se,
[33]
e tiraram-se os marcos das estremas.
[34]
E os marcos do meio quase tinham desaparecido todos agora com a história dos tractores.
[35]
Porque, sabe, os tractores vão a puxar de noite
[36]
e, por mais, o tractor pega num marco,
[37]
arranca aquilo tudo
[38]
e não se por ela.
[39]
INF2 À noite.
[40]
Pois, pois.
[41]
[pausa] Pega e arranca.
[42]
INF1 Os do Os dos meios quase tinham desaparecido todos.
[43]
E então, acontece que nós fomos corrigir essa marcação, [pausa] meter marcos novos,
[44]
e coincidiu,
[45]
deu em fazer a cova com um marco novo e encontrar as testemunhas doutro.
[46]
INF2 Estava um velho.
[47]
[pausa] Ora vês?
[48]
INF1 Porque aqui na nossa zona não é o que se pensa.
[49]
Aqui zonas
[50]
Eu tenho treze bouças juntas, por exemplos.
[51]
Pois nessa nessas bouças juntas se se quiser a uma pedrita do tamanho duma pinha, é difícil de arranjar.
[52]
[pausa] Porque são zonas que não tem pedra.
[53]
INF1 E as que têm, nalguma forreira dalgum valo, que é o único sítio onde pedritas assim, [pausa] foi pedra que se levou para a obra.
[54]
INF2 Sim.
[55]
Ali em baixo.
[56]
INF1 Porque pedras dali não !
[57]
INF2 Não .
[58]
INF1 Pedras dali não .
[59]
[pausa] E então os marcos e as testemunhas é isso:
[60]
são os marcos que separam
[61]
INF1 O marco é a primeira coisa que vale
[62]
e isso, cada passo, a gente vai ver
[63]
Eu e colegas vamos ver o que é que nos parece nesta,
[64]
porque problemas nisto e naquilo.
[65]
Quando aparece o marco, é a primeira coisa a respeitar-se.
[66]
Depois disso são os sintomas, a forma como a coisa se afeiçoa.

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