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Granjal, excerto 20
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INF1 Para a gente tirar o o pus que lá…
Que se não fosse isso, a gente…
Olhe, uma como a mim morria.
Porque eu tenho sinusite na cabeça.
E quando eu trouxer estas dores muito grandes de cabeça e que a p- e a cabeça muito pesada, é é o pus que anda cá dentro.
INF1 E depois quando começa…
Se me deitar assim um bocadinho, assim – que eu não gosto de me deitar assim de barriga para o ar – mas se me deitar um bocadinho, eu sinto correr tudo para a garganta.
Depois, quando eu sinto correr, levanto-me,
Tenho uma sinusite muito grande, eu.
Diz que a apanhei de chorar muito,
INF1 E chorei muito, chorei.
Chorei muita lagrimazinha.
Aquele filhinho que me lá ficou fora, um homem.
Se Se a senhora o conhecesse!
Mais forte que o marido da senhora.
Muito alto, muito elegante, o cabelo muito grifo, umas sobrancelhas muito carregadas, umas pestanas assim compridas, os olhos pretos, grandes, lindos!
O meu filho, não era tão lindo?
Nunca mais vi aquele filhinho.
Já estava para se vir embora.
Já só lhe faltavam quarenta dias para vir embora.
Chorei tanto, tanto, tanto por aquele filhinho,
nem me quero lembrar dele!
e passei tantos trabalhinhos para o criar, tantos, tantos!
Tanta fominha, minha senhora.
Não tenho vergonha de o dizer.
A gente vivíamos aqui e depois…
Que aqui não se ganhava nada,
não havia trabalhos para se trabalhar.
Fomos para Viseu, que o meu marido era de lá perto.
Fomos para lá para Viseu,
arrendámos para lá uma casinha,
Eu andava por lá a trabalhar e o pai a trabalhar,
naquele tempo não se ganhava nada,
Não ganhávamos para comer.
Até que tivemos de nos tornar a vir-nos virmos aqui meter.
não ganhávamos também nada.
Eu tinha sete filhinhos em volta de mim.
Depois o meu marido disse assim: "Olha, vamos para Lisboa".
Foi a minha filha mais que lá está,
chamamos-lhe a Ermelinda, Ermesinda.
lá nos para lá nos foi chamando,
Lá a gente já ganhava mais alguma coisinha
E E já começava um pequeno que tinha…
Com doze aninhos a carregar já com com uma coisinha ao ombro, [vocalização] para uma drogaria,
esfolava os ombrinhos todos, e tudo, coitadinho.
Mas já ia ajudando a ganhar.
Para lá estivemos assim muito tempo,
lá começámos a andar numa vendinha, eu e o meu marido,
e lá íamos mantendo os filhinhos sem vergonha do mundo.
Mas chorei tanta lágrima, minha senhora, tanta lágrima!
Passei tantos trabalhos, tantos trabalhos!
Eu se eu se pu-, ti soubesse ler, havia de fazer um romance.
ele ganhava vinte e cinco escudos,
Davam-me assim coisinhas de casa ainda.
Assim rou- comidinhas e roupinhas para as crianças, e assim.
E depois [vocalização] lá estivemos assim um muito tempo.
Depois, um dia eu disse assim para o meu Emanuel: "Emanuel, e se tu saísses do trabalho, que ganhas tão poucochinho, e arranjássemos uma a ir vender uma frutinha, ou assim qualquer coisinha, que ganhássemos mais alguma coisa"?
E ele, coitadinho, disse-me assim…
O meu ho-, o meu marido, quando era assim novo, era muito perfeito.
Era muito elegante, muito…
E E, sabe, e sabe falar assim como que…
Não sabe ler nada mas sabe falar muito bem.
Toda a gente gostava dele.
E então eu disse-lhe assim: "Olha, ias à ribeira,
compravas-me lá um cestinho de fruta
e eu mais o Epicurito" – que era o meu filho mais velhinho que eu tinha comigo – "íamos por aí vendê-lo àquele prédio,
podia ser que o vendêssemos".
O prédio tinha muitos andares.
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